quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Longe de Mim


Parada no tempo,
Perco-me no meu pensamento,
Revivo-me com a minha memória,
Que outrora me trouxe tanta glória,
E que tanta glória eu não sabia que teve esse mesmo momento.



Vou escrevendo,
Não vou mentindo, mas sim sentindo,
Sentindo tudo aquilo que escrevo,
Tudo aquilo que me faz ser o rochedo,
Que, imóvel e inderrubável, vai envelhecendo.



Relembro as ditas palavras,
Que no meu percurso as fiz de escravas,
Ouvindo ao longe as vozes de um outrém,
Que ainda hoje ele as tem,
Mas que, arrependido, as guarda.



E caminho na rua discretamente,
Cabisbaixa e com uma tristeza envolvente,
Não oiço música, não me sinto,
Não faço nada, nem me desminto,
Deixo-me ser invalidada solenemente.



Numa noite não premeditada,
Em que tudo foi puro acaso, mas parecia já combinada,
Fenómenos estranhos sucederam-se,
E tantos outros envolveram-se,
Que me senti e sinto revoltada !



Não sei bem que pensar,
Não sei ter os pés na terra, nem no mar,
E nem no ar que não tem forma,
Não sei bem no que é que isto me torna,
Não sei bem o que pensar.



E nisto me debruço ao ir embora,
Com muita pressa e sem demora,
Apresso o passo e não apresso,
Sei que existo, mas logo me esqueço,
Quero apenas encontrar a solução que desejo há horas.



Anseio por ela, desejo-a,
E invejo-a e cobiço-a
Argh! As máquinas malditas que destróem ou constróem a cidade,
Destróem-me ou não me destróem toda esta cumplicidade
De pensamentos que me não encontram a solução,
E que me fazem por isso, tentar falsificá-la.



Sigo em frente para o desconhecido,
Sigo para o que longe está de mim.
Percepciono o discreto,
E tento interpretar tudo o que não é concreto,
Tudo aquilo que baterá certo no fim...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Apresenta-te


Parece que foi ontem que acordei e me deparei com a vida. Sem nada me dizer, foi-se-me apresentando tal como queria e podia. E eu, encarecida com tal apressada chegada, deixei-a assentar neste beco de rua.
Poderia qualquer um reclamar que não passa de um grande exagero quando alego que nunca me tinha dado conta do quão arrebatadora e destruidora ela é, mesmo quando se aproxima de mansinho.
Queria eu crer em tal impossibilidade como essa! Logo agora, em que cada dia, experiêncio algo de novo, que não pensava superar. Superei-me. Sim, talvez. Ou talvez fosse apenas uma força interior mais profunda que ainda não tinha tido oportunidade de se revelar.
Penso que todos a temos. Temos é que a saber utilizar.
A verdade é que não sei bem se estou realmente a fazê-lo, visto que olho em volta e não tenho em quem acreditar. Nem em Deus. Talvez na Natureza e na sua força imensa e muito superior à do Homem, por muito que este não o queira admitir.
O acreditar em algo ou em alguém tornou-se um caminho traidor e perigoso, onde o sigilo nunca teve lugar afinal.
Se acreditasse em Deus, acreditaria também que existem algumas forças malignas e creria que a vida tem uma ligação muito próxima e semelhante com a morte. Ambas chegam sem qualquer tipo de aviso, e fazem de nós o que querem. Idiotas são aqueles que defendem que não é o Homem o principal culpado da sua própria extinção, mas as tais forças malignas ou as suas más acções foram o que o condenaram. Para além de que, muitos vivem uma vida repleta de limitações devido a essas crenças.
Nada tenho contra essas pessoas. Aliás, sempre é melhor acreditar em algo do que em nada. Porque isso dá-nos alento para viver. Embora não faça muito sentido, a meu ver.
Uma vez ouvi um conhecido dizer que o avanço científico e tecnológico era algo bastante negativo porque faz com que as pessoas deixem cada vez mais de crer num Deus Todo-Poderoso. Ou seja, estamos então a encarar o conhecimento como algo que não devia ser adquirido para que possamos fechar os olhos à Verdade. Parece que o que é certo é ser-se ignorante. Porque em contrapartida acreditamos num Deus omnisciente e omnipotente que nos ampara todas as quedas de acordo com as "regras" pré-estabelecidadas que alguém iluminado fez. Quem não se reger pelas mesmas terá uma punição. Penso que isto funciona mais ou menos como uma espécie de prisão espiritual.
Quero com tudo isto dizer, que sou panteísta exclusivamente. E nada mais.
Quanto à questão da confiança que já referi inicialmente, tenho a dizer que se calhar nem em mim confio. Talvez por não saber as voltas que a vida dá enquanto se acomoda no meu sofá novo da sala. Não sei. Tenho tido uma atitude céptica em relação a isto, mas espero francamente superá-la, talvez com a tal força intrínseca que sei que em mim existe e da qual talvez esteja a usufruir de momento.
Porque no meio da multidão apressada, procuro um lugar para mim.