sábado, 23 de outubro de 2010

Perdida de Mim

As paredes parecem começar a degradar-se, as portas parece que derretem, o chão ganha uma textura algo estranha que me desconforta e eu, que faço também parte deste ambiente, cai com todo ele. É o meu degredo.
Grito em silêncio por entre estas paredes já moucas e procuro consertá-las a todo o custo. Vejo esta construção tão imponente em tempos apresentar-se agora tão caótica. É uma memória e ela quer ser um Nada. Eu colo cacos, seguro com pés e mãos tudo para que tudo assim se mantenha, mas nada parece resultar.
Tudo vai caindo, desfalecendo a pouco e pouco… e eu com eles. Estou quase à altura do chão. Toda a sumptuosidade é agora irrelevante, inacessível, deixou de o ser. É apenas triste.
Estou caída e não tenciono levantar-me. Parece que quero afogar-me na minha memória e perder-me no meio das sensações, esquecida do mundo, perdida de mim.


repito para mim baixinho infantil e estupidamente: volta.

sábado, 16 de outubro de 2010

Desfecho de Mais Um Capítulo

Sinto-me esquizofrénica.
Desde que o meu lado irracional naufragou em alto mar, o meu lado racional declarou-lhe guerra. Uma guerra impiedosa e sangrenta que faz de mim um ser de personalidade dupla.
Há tanto que o esperava, há tanto que pensava que seria o melhor e, agora que o vento sopra fraco e que as terras desconhecidas me chamam e parecem tão tentadoras, quero continuar na minha canoa a remar com um só remo feita louca, presa na minha própria memória, na minha própria ilusão.
Se por um lado quero incessantemente discernir o certo do errado, por outro de nada quero saber, quero apenas voltar atrás e prolongar o último beijo.
Sim, o último beijo. Porque foi tão incipiente e eu não sabia que era o último. Foi tão incompleto e inacabado...
O último abraço, que já tanto tempo faz.
O último sorriso que lhe mostrei… que nem me lembro…
A minha canoa naufragou há já muito tempo e eu não dei conta ou não quis. Ainda não me conformei, mas tenho que aceitar a realidade e não posso viver um passado que nem existiu realmente da forma como eu penso que o recordo.
Vou só guardar o teu sabor.
Porque apesar de tudo... foste a pessoa que mais amei.