segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Canção do Mundo


Tem sido tão difícil escrever. Preciso de mais palavras. Talvez me dedique agora a uma outra língua, pois embora as palavras o mesmo queiram dizer, há toda uma nova linha de importâncias desde a sua sonoridade à forma como estas se apresentam e se relacionam com todas as outras que as rodeiam. É interessante ver quantas línguas nos cantam, quantas são frias, quantas são simplesmente carregadas, quantas são alegres, quantas são complexas, quanto são bonitas. Quem me dera saber falar todas as línguas. Talvez fizesse então um texto que seria também uma aproximação a algo melódico e metódico no sentido de construir com cada palavra de diferentes dialectos um som particular. Nem é preciso significar algo, porque as palavras significam sempre inúmeras concepções, fiquemos apenas pelo som, pela harmonia que estas possam ter.
Seria a canção do mundo. Eram as palavras notas e a voz o instrumento. Fariam desta harmonia o meu poliglótico alento.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Três

Três vezes.
Contei até três.
Disse três vezes que não eras tu.
Disse-me três vezes que não sentia.
Saltei três vezes e disse três palavras.
Tentámos três vezes, tivemos mais de três momentos e aos três não chegou.
Cantei três vezes, tentei esquecer-te num tal dia três.
Comi três coisas com sabores ambíguos numa tentativa incessante, e um tanto ou quanto risível, de te não pensar.
Fui três coisas.
Tentei agir para contigo de três formas diferentes e nenhuma delas conseguiu nomear-se como vencedora.
És as três palavras que eu não quero dizer.
Fujo ao número três que me desilude. Fujo-lhe, como-o, esmago-o.
Talvez o número dois seja o número Perfeito porque três pessoas dá um caso bicudo.
Pensei que o número três fosse o número da Perfeição. Percebo agora que é para mim tão imperfeito quanto todos os outros números, falaciosos e irresolúveis.
Nenhum nos serve.
Tenho que deixar de tentar encaixar as três peças de um único puzzle que não têm qualquer encaixe possível. São talvez de um outro puzzle… com mais de três peças.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Hoje Brilho

Tenho a minha casa toda iluminada, o sol brilha tão radiante, não consigo não sorrir. Sou consoante o dia, brilho com ele ou sou toda uma névoa quando se pinta de cinzento e até consigo chover, embora a minha precipitação não partilhe o mesmo símbolo químico.
É nestes dias que sou capaz de correr feita louca, verde, clara, tão aberta e sensível, tão sorridente e carente. Preciso deste brilho que me abre o rosto, que me ilumina e me lembra de me ser. Lembra-me que a vida está repleta de um belo natural que eu amo e é recíproco. Sou capaz de me entregar completamente a estes dias, que levem tudo de mim, eu sou-me tanto neles.
É a corda à qual me agarro firmemente para não cair neste mundo corrompido. É a que me prende também a ela. Há coisas inexplicavelmente afáveis e mesmo sendo banais o não são porque existem e existem por uma razão que nos é distante. Tudo tem uma razão de ser e a Razão da Natureza, que tão pouco dela conhecemos, é linda em toda a sua forma, conceito e expressão pelo simples facto de fazer tanto sentido e pelo porquê desse sentido desconhecermos. Talvez seja isso que a torne tão especial. Ela é o completo, nós somos apenas a metade.
 
Hoje não consigo não brilhar :) sou tua súbdita, guia-me por favor.