quarta-feira, 19 de maio de 2010

Não Quero Mais Saber

São mais palavras.
Palavras que proferes sem saber o que dizes. Falas para eu sentir quando só o sentes pela metade e fazes-me tantas vezes – embora já eu as conheça – sentir-me como se fosse realmente eternamente desejada.
Gostava que a ingenuidade não mais me iludisse porque todos os dias em que acordo são amargos porque recordo o meu inferno.
Quero fechar os olhos e fingir que me esqueci de ti, embora parte de mim te agarre, espartilhando-te para nunca esquecer.
Se for não for real o que dizes, até porque o não demonstras, deixa-me adormecer a parte intrínseca que construíste em mim.

Sussurro

Sussurro. Um murmúrio. Baixinho tão baixinho que muito mal se ouve. Diz-me aquilo que sei, mas que finjo não ouvir. Magoa-me só de pensar. Não quero acreditar, não posso acreditar que seja real. Nego tão veemente que me iludo numa utopia vivo naquilo em que apenas superficialmente acredito.

sábado, 8 de maio de 2010

Chuva Que Me Silencia

Parece chuva. E não aquela que cai igual a todas as outras lágrimas que nem retiram nem acrescentam qualquer tipo de emoção. Todas as sensações são inerentes a esta chuva que cai forte, concisa, esmagadora.
O impacto de cada gota não é mais ocasional, mas existe antes a predominância intencional de uma isotopia que nada mais é do que aquilo que me rodeia.
Não tem quaisquer variáveis mas a sua forma reprodutiva mantém-se equiparada àquilo que sempre se propôs.
Observo quieta. Não tenho olhos do lince, embora tais olhos inveje. Mantenho-os antes semicerrados como se ansiasse como que uma penumbra, ver um mundo sobre um enevoado irreal e improvável, cego e incrédulo.
Sento-me numa atitude desesperada e desenfreada de me isolar, quero tão-só estar só e esquecer que vivo e que coexisto num mundo repleto de seres iguais a mim, logo eu que me pareço tão peculiar. Anseio demasiado a solidão e sinto que só nela me sinto, como se sem companhia, ela fosse a minha única companheira, como que ainda que só nunca o estivesse. Tenho também a chuva. Chove conforme choro. Parece que ensaiámos juntas como numa cena teatral que sugere a auto-reflexão numa tentativa esgotante de expressão. Estou descoberta e, por isso, mais do que sinto toda esta vivência ela toca-me gelada e fria, sensabor e dessaturada, surda, mas tão sensível. Queria dançar, mas falta-me a vontade agora. Neste momento tenho vontade de o preservar para todo o sempre, eternizá-lo para nunca o ter de relembrar pois seria sempre uma memória presente.
Estendo os membros no chão que me sustenta. Sinto como se me desmaterializassem, como se cada pedaço meu fosse facilmente desmontável e tivesse de ser retirado durante um curto espaço de tempo para poder descansar sem mais pesar. E a chuva lava-me o corpo nu como se o tornasse imaculado e o purificasse e livrasse de todos os males mundanos. É a chuva que me silencia com as suas palavras nunca expressas sobre qualquer forma encarável, reconheço-as eu porque as comando.
As suas gotas confundem-se com as minhas e é neste momento que eu percebo que nem eu choro nem a chuva resulta do mesmo princípio, mas tão-só somos o mesmo, choramos pela mesma razão, da mesma maneira, ao mesmo tempo, com a mesma intensidade, partilhamos a mesma agonia e ambas sabemos que não sabemos chorar.
Somos uma e esta ligação é mais rica, é essência, é uma questão incontrolável de sobrevivência.
Eu sou nada e ela nada é. Não tenho sabor nem cor, sou inodora e descompassada, triste e pedaço de algo que não é. Só creio na minha existência porque – ainda – penso.
Só me falta não sentir para não mais me importar de ser. Porquê eu, logo eu, que valorizo tanto as emoções? Podem perguntar-se-me. Mas de que me serve tanta ambiguidade emocional se com tanta homogeneidade de seres que coexistem comigo ninguém as partilha e preferem antes distorcê-las e feri-las, fazer delas pó que nunca foi?
Não quero, por isso, mais sentir– nunca.
Nunca.

Coração

Vejo-te com vida. Tanta vida. Sei-o bem, bates por dois. A tua energia é inesgotável e o cansaço é incomportável, não tem lugar simplesmente.
Os teus olhos brilham e não é só este sol radioso que tos alumia, mas antes uma estabilidade que nem todos estão aptos para a alcançar, mas tu sim, sem qualquer dúvida.
É mais do que uma certeza, é um dogma.
Sorris porque sabes o que tens. Eu vejo-te e amo-te de um estranha maneira e cega. Felicito-te porque percebo que te encaixou. Brilhas, tens uma vitalidade redobrada, comportas dois corações.
Dei-te tudo de mim, entreguei-te o meu coração, entreguei-me. Não vivo, nem ofusco, não reajo porque to dei para guardares, salvares, para amares e estimares porque é teu.
Sinto-me vazia e completa simultaneamente.
Todavia, agora que te sinto distante, aproveitando o que de mim te pertence para proveito próprio dilacera-me.
Queria-o de volta sem remorsos nem qualquer tipo de dor. Queria porque quando to dei pensei que o amasses, pensei que soubesses o valor daquilo que tens em mãos.
Mas desconheces. É-te estranho e apartado também.
Penso que nada mais de mim podes levar e pouco mais tenho para chorar.
Perdi-te há muito tempo, tu és o único que ainda o não sabe.