quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sempre

É um espírito grande e abrangente, concernente a toda a gente. Digo que, porém toda esta alacridade que se vive neste breve anual período de tempo, é um espírito profundamente sardónico.
Nem tudo é, contudo, pautado nem de alegria nem de ironia, mas tão-só de um discurso deveras loquaz do qual ninguém escapa impune.
Escrevo, portanto, por entre estas linhas lexicais, tudo menos a bela de uma crítica que visa a auto-destruição ou ver-me-ia mais do que uma louca a caminhar para o suicídio.
É, deste modo, sensato reflectir um pouco sobre os seres taciturnos que me rodeiam. São-no cientes de que o são, invadidos por uma felicidade precária e pouco ou nada elucidativa da verdadeira realidade.
O poema da minha vida é uma história deixada em aberto cujo seu desfecho nem lá de longe se avista. Entro neste espírito incongruente e finjo também um sorriso que é, no espelho, sensabor.
Sei, desde sempre, que o fingimento não se alia à Felicidade intrínseca – nunca. Talvez o fio condutor que por mim faz por passar não seja nada mais do que um vontade tremenda de querer acreditar ingenuamente na perpetuação desta alegria, para que as cores não sejam unicamente experienciadas nesta altura do ano, mas tão somente sempre.
E este sempre dá lugar a tudo o que é inefável. É uma palavra bastante robusta e muitas vezes aclamada sem qualquer noção. Temerária, de certo que também o é. A diferença entre a sua conotação positiva e negativa reside singularmente naquilo em que nos queremos fazer acreditar. Apesar de isto não passar de uma mera opinião, penso haver um pouco de luz nesta dúzia de palavras. Muitas vezes nós vestimo-nos das palavras que dizemos convincentes, ainda que pouco, e dissimulamos esse pensamento, para afastar a agonia da proximidade do futuro se tornar presente. Por isso muitas palavras, entre elas a que discuto de momento – o sempre – são interpretadas de diversas maneiras longe da sua verdadeira conotação na altura em que saem repentinas para fora da boca e que levam com as gélidas lufadas do ar do Inverno.
Tal como uns crêem num sempre risonho, também o invejo, mas estou deveras apartada. Contudo, a minha inutilidade faz-me, mesmo sabendo que não é real, acreditar em utopias. Tenho-me, na minha consideração, como uma pessoa bastante realista, todavia, alguns assuntos são tão absurdos que começo a duvidar dessas linhas que me definem.
Se os olhos já estão bem abertos porquê continuar a iludir-me? Não consigo entender por que é que consigo ser tão fraca neste aspecto, se tenho tudo para mostrar que tenho realmente valor. É verdade, tenho. Sempre o soube, no entanto, nem todos os momentos são iluminados e há tantos dias em que o meu orgulho se esconde debaixo da minha cama.
Hoje, pseudo-realista, encontro-me num dilema. A minha veia convicta da sua racionalidade, mostra-me que não sou pequena, muito pelo contrário, não obstante, a minha outra veia, aliada do sentimento, fraca e volátil, quer continuar a fingir que acredita naquilo que se distancia cada vez mais do meu futuro.
Se continuar a caminhar para este abismo, tudo o que já perdi posso nunca mais recuperar. Já pouco de mim detenho, por isso, apelo à minha inteligência que está escondida por detrás da ignorância para sair, para me fortalecer, para me deixar viver e sorrir sem medo.
Estas falsas ocasiões estão repletas de sorrisos amáveis que se deixam vender, confundindo-me. E porque quero que me confundam, para fingir que me iludo e sorrio também, fingindo-me feliz, cega pelo medo, incapacitada e desencorajada, perdida e sem nome nem direito, sequer, ao mesmo.
Não é preciso pedir castigo quando já se vive nele. 



P.S.: Uma das músicas mais fortes, na minha opinião.