quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Vazio

Sou pesadelo. Sou noite fria de Inverno.
Durmo ao relento e deixo o frio picar-me a pele. Estou gelada e despegada do mundo. Cortei a corda que nos unia e unificava.
Sou o terror da noite. Sou a noite.
Sou o escuro, o que não tem nome. Sou incorpórea, viajo por entre toda a gente e de dentro de toda a gente lhes vejo o buraco. É um buraco a todos comum, unânime, incipiente, desajeitado, mas sobretudo é um buraco vazio, característico da natureza humana.
Cheira mal, sabe a qualquer coisa putrefacta que ninguém ousa tocar porque lhes parece que quanto menor for o seu afastamento mais danos lhes poderá causar.
A distância parece-me então também minha aliada. Observo de longe o vazio, o Nada que têm dentro. Os sorrisos que simulam as pequenas máquinas despidas, vazias.
Sinto-lhes o vácuo. Ecoam-lhes por dentro vozes soltas perdidas, que procuram na verdade um superfície sólida, preenchida, minimamente cheia. Mas não encontram porque tudo isso nada mais é do que uma utopia. Como muitos "eus" que se nos contam nos quais acreditamos enquanto seres ingénuos.
O cheio não tem lugar. Tem o vazio.
E do vácuo que persiste na nossa essência ninguém lhe consegue escapar. Faz parte da nossa própria natureza a nossa mesma decadência.

terça-feira, 22 de junho de 2010

W a k e m e u p w h e n i t ' s o v e r

domingo, 20 de junho de 2010

Marioneta

Estou presa por fios. Sinto tal e qual uma marioneta, cujos movimentos são feitos à vontade de outrem, seguindo  ordens que não as minhas, comandando um corpo alheio que é meu.
Apetece-me cortar os fios que me aprisionam para fatalmente cair sem nunca mais me erguer.
Mas não lhes chego, ou não lhes consigo realmente chegar porque a minha insignificância alia-se à cobardia e escondo-me por detrás da minha pequenez para desculpar a falta de aparência quando são horas de agir.
Tudo se afastou ou tudo afastei. Os meus passos são o único som audível. Ecoam desnorteados por entre frequências desacertadas e loucas.
Olho para trás. Quero ver pelo menos uma sombra, ouvir uma voz, ver uma mão para me agarrar e dizer que precisa de mim. Mas não há. E, por isso, afundo-me dentro do meu casulo e penso que mais escuro do que é estar cá dentro é estar lá fora. Pois todos os corpos são mutantes que me vêem como não sendo da sua mesma espécie. É como se houvesse algum problema com o meu cheiro natural por não ser equiparável ao de toda a gente.
Também eu me sinto estrangeira no mundo deles. Não temos as mesmas cores, não soamos da mesma forma e os meus passos embora descompassados quase que gritam por uma companhia num bailado popular.
Não encontro correspondência. E o fundo é infinito. A tona é fatal. Os monstros indiferentes.
Por isso,  sou uma marioneta. Respondo sem vontade própria e desfaço-me por entre a multidão.
 
Caio e ninguém vê.
 
Grito e ninguém ouve.
 
Morro e ninguém sabe.

domingo, 13 de junho de 2010

Desnuda

N ã o c o n s i g o . Q u e r o d e s p i r - m e d e m i m . . .

Qualquer Coisa

Mata-me a mediocridade dos meus temas. A sua redundância. Não só o que sinto, mas também a repetição e o aborrecimento com que se apresentam.
Os meus olhos incham e o mundo parece não querer mais colorir-se. Tenho noção que não mais me serve. Estou mais magra, portanto posso atribuir a culpa ao mundo que não mais me serve. Está–me largo, imensos números acima, eu tento e não consigo servir-lhe. Pareço fazer-me de tola em não querer entender que não dá.
O “chega” parece-me sempre prematuro e inconclusivo, irresolúvel, mas mostra-se sempre o único realmente eficaz.
NUNCA – dou-lhe um ênfase enorme porque realmente é um nunca – acreditei quando se me diziam que deixavam de ter fome, ou que o sono lhes faltava ... sempre encarei tais coisas como meros caprichos, o amor a falar em exagero, a exercer a sua sumptuosa hipérbole por entre estes tantos humanos desajeitados. Essas coisas de doenças de ansiedade por amor sempre foram para mim uma grandessíssima mentira para uns engolirem e outros enriquecerem com as mastigações alheias.
Agora reconheço que é real. Tenho nojo de mim. Pelo que me transformei, pelo que sinto, pelas insónias, pelas  horas que não passam, pela má-disposição que me detém, pela comida sensabor… Não percebo este estranho mecanismo a que chamam “corpo”. Não basta todas as complicações que já tem por si só ainda se lhe acrescentam aquelas que provêm do estúpido acto de amar.
Chamem um médico quero matar as emoções. Quero mesmo!
Não percebo qual é o seu objectivo se tudo em meu redor se apresenta “pointingless”. O mundo não é mais como o desenhei e pintei por muito que assim o queira ver. É desnaturado, entediante, falso, cinzento e, sobretudo, não soa a nada senão a repugnantes mentiras. Estou cansada de tentar entrar nas calças do mundo. Contudo, agora percebo que sou eu quem não quer que elas me sirvam.
Quero continuar fiel a mim mesma embora caminhe em círculos sem fim, sem objectivo. Tenho medo de todas as máscaras. Percebo que não me é possível viver sem uma.
Então não sei como viver. 

Tudo é “uma coisa qualquer”.


P.S.: Imagem retirada do google ao acaso, é uma coisa qualquer, não importa, nada importa.