Diz-se correndo, “o teu passo apressa o esquecimento” (Milan Kundera, 1995). Corre que nem um tolo. Cada passo é tão certo de si que se convence que a linha temporal está no chão que pisa e, portanto, a sua velocidade está intimamente ligada com esse processo de evasão da memória.
Considero-o tolo pois quanto mais quer esquecer mais se recorda porque está repetidamente a lembrar-se que se tem de esquecer. Perturbante.
Talvez só ocupando a mente com uma outra coisa o acalmasse, o fizesse pelo menos não ter tão presente a memória, ou então talvez devesse reconsiderá-la e percebê-la, a fim de conseguir esquecê-la por não ser já uma preocupação. Claro que, se possível.
Mas este tolo é como uma antiga chaminé cuja quantidade de fumo que dali sai é quase a todo o momento. Vive numa frustração e não será certamente um epicurista.
Foge da sua própria memória e quer correr no tempo.
Corre dos problemas embora caminhem e avancem todos consigo, ao mesmo tempo . Está condenado à sua mesma recordação, preso àquilo que ignora, pelo simples facto de saber que quer ignorar e, por isso, não ignora.
Infantilmente cometemos esta falha, como se a velocidade afastasse pensamento, mas não. Talvez apenas o êxtase da mesma. Tudo o resto apenas gera uma rebelião connosco mesmos e um turbilhão de sensações fervescentes.
A matemática até pode traduzir isto numa fórmula proporcional o que não quer dizer que seja realmente vencedora pois, como disse, o querer esquecer é o lembrar.
Faz então sentido que em todas as vezes que me quis esquecer não consegui. Nunca esqueci. O truque penso que esteja no aceitar a realidade de peito firme, ou não tão firme, mas aceitá-la porque o tempo, esse sim, leva a “aceitação” à rotina, à indiferença e ao esquecimento.