quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Fantasia

As flores dançam leves e harmoniosas consoante lhes indica o vento movimentos vários. Estão soltas e radiantes, libertam um cheiro inigualável, ímpar, seu.
As nuvens que rasgam o céu colocam a pureza do branco a um canto. Por elas rasgam-se, por sua vez, grandiosos raios que me incomodam os olhos, mantendo-os por isso, semicerrados.
Rodo a cabeça para ter uma maior amplitude deste cume.
É oficial. Ergo-me sobre o pico mais alto da montanha e apercebo-me, de facto, que me encontro no topo. Tenho uma visão enorme e quero unicamente absorver a plenitude desta sensação.
Não importa o caos em que vivo, quero esquecê-lo por momentos e dedicar este pedaço ao amor. Uma palavra cheia e imensamente vasta.
Sinto o corpo caloroso do sol que se mostra, observo ao longe a sonoridade da água da fonte que cai sapiente, cuidadosa, harmoniosa, toda ela cheia de magia, apazigua-me o coração.
Eu amo esta paisagem. E tão-só por amar é que a amo. Sejamos mais claros é, exclusivamente,  por amar que tenho acesso a esta imagem que amo porque o amor é contagiante e faz-nos reproduzi-lo nas ínfimas coisas, faz-nos sonhar com o impensável e amar descontroladamente.
E por muito aprazível que seja um prédio cinzento ser quase como um castelo quinhentista enfeitiçado, essa imagem não é mais do que algo controlado pela felicidade manipulada pelo amor. É falacioso. Mostra-nos o que não existe nem que – nunca – terá lugar.
É doce a relva que piso. Deito-me nela e logo esta se torna áspera, austera e agressiva, diria até que, repulsiva. Afasto-me da fantasia e percepciono o real.
O sonho é quase perfeito se conseguido com trabalho para que não se torne apenas uma sedutora ilusão. Tem um bálsamo tão irresistível que cedo compulsivamente e me deixo levar nesta beleza imensa.
Corro, penso, tropeço, canto, caminho, danço, rio, pinto, voo, mergulho, nado, brinco, deliro, falo, grito, sorrio, abraço, beijo, acaricio, vivo e não passa tudo de uma fantasia onde quero fingir ser, sabendo, perfeitamente, todos os danos colaterais.
No mundo da magia e da ficção vive o amor.
Mas o amor não vive, unicamente, nesse local metafísico, também vive aqui no cinzento real, onde do seu paradeiro não sei dizer.
Talvez por isso o fácil seja o mais acessível. Talvez por isso ame o real, mas mais o mundo do fantástico, uma vez que existe a reciprocidade colorida que não encontro no mundo saturado.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vou dar-te uma novidade gigantesca e exacerbada: o mundo não gira à tua volta. Chocante e, a priori, a vontade é de tornar tudo isso refutável. É-o de facto, porque me refugio debaixo de uma grande abóbada hiperbólica. Contudo, há certas coisas que precisam de se tornar audíveis, que as deixemos tirar os nós nas delicadas gargantas.
Se a vida para ti é pautada por uma leve harmonia e uma densa segurança, a minha não o é por infelicidade minha. Se eu não sou borboleta aprazível o suficiente para puder voar no teu jardim que exala o cheiro teu, então expulsa-me logo do território onde não sou bem recebida.
Dizes que não com uma consonância pouco credível. Cubro-me toda dela pois quero fazer da mesma realidade do agora, apesar de saber o quanto distante me é.
Sei, perfeitamente, que a minha decisão vai afectar e por isso, vou esperar para ver se tens o despautério de me tratar com uma indiferença acrescida e desculpares-te com os meus próprios passos.
Meu caro, ponho-te à prova, sem o notares. Quero ver se és capaz de me querer com vontade intrínseca. Não chega um elogiar sobre as minhas delicadas patas, quero um elogio das minhas grandiosas asas, ilustres, esbeltas, que abarcam tudo o que sou e toda a beleza interior que detenho e que a confesso e a oferendo a ti.
Ainda voo aqui. Olha para mim. Estou aqui.
Não vou estar sempre. Também já me disseste que não fazes tenções que esteja. Não sou pessoa de crer no sempre, mas tenho tanta vontade. Alias-me à loucura e eu tento a todo o custo permanecer sã.
Não vou mais lutar por permanecer no teu jardim. Dá-me só um indício que eu voarei logo daqui para fora.
Se não consigo chegar ao teu coração então as minhas tentativas falharam todas e eu sinto-me gasta e incapacitada. Lamento porque te adoro.
Mas assim será. Permanecerá a sensaboria da nostalgia, da forte Saudade.


Passo em Frente

A racionalidade torna-se sumptuosa e irreversível. Também assim se tornam as minhas escolhas libertinas e, consequentemente, a minha grande decisão.
Um passo que, vendo a escassez de meios em que me encontro, me vejo obrigada a  tomar. Não é, de todo, tomada de ânimo leve, nem se me desenha graciosamente um leve e puritano sorriso num rosto ainda jovem e que já denota Cansaço.
É preciso batalhar por mim e por quem precisa de nós. É tempo de agir e, infelizmente, de magoar e de dar mais uma grande volta a esta vida que não se torna estável desde que começou o jogo das reviravoltas.
Estou cansada de não ser ouvida, nem querida. Por isso, esta decisão não irá afectar os demais que surdos são, pois sendo-o, não há mais surdez para além da mesma. Não há mais cegueira para além da mesma. E não haverá mais fala para além do que é tão tocado na mesma tecla pois serei eu mesma que lhes taparei a boca.
Espero saber o que estou a fazer. Na realidade estou bem receosa das consequências negativas que poderá ter este meu acto, mas se o não fizer, arrecadarei eu com elas e quem tenho que proteger. Contanto que, taparei os olhos com as duas mãos e, darei o passo em frente, esperando ardentemente que o chão que pisarei se não abra diante dos pés meus, para me não deixarem cair no abismo sem salvação.
Deixo tudo de lado e pensarei no pouco que é o mais importante, a minha integridade psicológica e a dela. Depois de tudo, somos mais unidas, ainda que contrárias, ainda que chocantes e conflituosas, temo-nos e tivemo-nos sempre durante este longo e incerto período, de choros incessantes e risos pouco constantes, abraços fortes e segredos que segredos para sempre serão, crescemos e endurecemo-nos porque, felizmente, apesar de toda esta reviravolta temo-nos uma à outra.
Não será agora que vou repensar isso por choros insinceros ou por ocasiões menos festivas. Como disse, se de mim não querem saber, então não saberão. O meu mundo vai mudar, assim como os meus objectivos. Neste novo rumo, procuro educação, bem-estar, atenção, o saber ouvir, apoiar, consolar, procuro amor.
Amor há muito desvanecido, escondido, quero exaltá-lo, brotá-lo para que nunca mais se o tranque no velho baú, junto à saudade.
Nem sempre as coisas são tão negras e eu pintei-as dessa forma por estar cega de amor. Amor traiçoeiro e doloroso, amor que sei que a outra parte, devido a este terrível factor, abdiquei e que pretendo agora redimir-me para a compensar.
Sou, portanto, pecadora, e no entanto só procuro a luz, a paz. Quero dar descanso a este pobre coração que se dá a conhecer para depois ser mal aproveitado.
Cansei-me de ouvir e calar sobre o que é erróneo. Se nada mais relevante se interpuser a esta condição, darei um passo em frente para mudar o meu/nosso futuro.


Cheia de Silêncio

É madrugada. As horas teimam em não passar. Quando mais pensar não quero, não consigo não mais o fazer.
 Estou cheia de Silêncio.
Não tenho palavras, nem sons, nem gestos, nem expressões. Estou presa, algemada pelo Silêncio.
Quero vestir uma roupa limpa que não conheço.
Ainda é madrugada e não há João Pestana que me faça adormecer.
Oiço-o, pé ante pé. O som torna-se cada vez mais intenso, cada vez mais audível. Fecho os olhos, procuro não pensar. Qualquer coisa… Qualquer coisa! Nada me vem à cabeça. Porque é que não me vem nada?! O coração bate louco e veloz, sinto vontade de segurar o peito para que este de lá não salte. Grito no silêncio, corro no silêncio, mas as portas fecham-se todas perante mim, abafando indignamente qualquer tentativa de som!
Entra. Tem um caminhar determinado, omnipotente, egocêntrico, de quem sabe o que me espera. Cobre-se-lhe o rosto um sorriso malévolo. Balbuceia coisas várias que faço já por não ouvir.
Fecho os olhos, não quero ver. Quero fingir que não estou, que não sou.
Sinto a pouca roupa, que me adoça o corpo marcado, a afastar-se  violentamente do (m)seu leito.
Não é delicadeza, mas antes uma densa forma de brutidade e agonia simultâneos.
Não sei já o que me dói. Se o hirto cinto de ontem, se estes movimentos incessantes e contínuos do coito… Dói-me o medo. A prisão das palavras que sufocam por não saírem.
Tem uma força sobrenatural e rude, áspera. Não se cansa nem pára.
Aproveita-se da minha leveza e imaturidade e vira-me de modo animalesco, selvagem. Permaneço de costas. Muda a sua meta e escorrem-se-me agora lágrimas.
Não emito qualquer som. Fito o relógio. Os tic tac’s são demorados e asfixiam-me, morro demoradamente em cada um. O tempo não passa.
Ele satisfaz-se e eu acobardo-me.
Como queria que chegasse Segunda-feira…

P.S.: Este texto foi uma tentativa de me pôr no lugar de uma criança que sofre de abusos pelo pai, pois precisava de pensar um pouco no sufoco que estas crianças vivem para conseguir chegar a elas, uma vez que estou a fazer um trabalho sobre a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima). A imagem é de uma das campanhas feitas pela mesma, pus uma das que considero mais bem conseguidas.

To Hate

Espetam-se as músicas enquanto cambaleio pois não sei mais cuidar de mim. Sou tão inútil que nem força tenho para lutar contra os sentimentos.
Deixo-me cair e ser pisada segurando-me fortemente ao pilar da minha única sobrevivência, aquele único de maneira tão intrínseca me liga a ti.
Não quero mergulhar sem saber se é seguro e, sem de mim saber, já me encontro submersa e os meus músculos parecem tensos e têm receio de me fazer nadar.
O mar é um mundo. E tal como a palavra indica, é vasto, bonito e igualmente perigoso. A sua penetração não é, de todo, uma fonte segura e já lá ficaram tantas cabeças.
Por favor que não lá fique a minha.
Parece que tudo é desfocado e o dia está tão claro e a água tão transparente.
Estou tão cega de sentimento que só te vejo a ti.
Estou doente. Extremamente doente. Para aonde foram os médicos agora que me sinto tão fraca? Que medicação terei de tomar para aliviar este vazio, este sofrimento permanente, esta angústia, esta “felicidade” de vaivém?
Estou de cama, maluca, a alucinar, a amar quem se não deve, a ser-me demasiado, a dar de mim quando não devo, que raio de instrução recebi eu? “Se te magoam continua lá”?!
Não quero viver nenhuma mentira ou viver um amor intenso sozinha.
Que alguém me puxe deste barco porque eu não quero afundar-me nele sozinha.
Já mergulhei neste mar profundo e de lá quero distância senão não conseguirei aqui continuar viva.
Obrigada por me fazeres gostar de ti para agora sofrer por gostar-te demais sem reciprocidade.


Ponte

A vida é efémera, finita, padecente. Sobre ela erguem-se pontes várias. Ergo a minha com as dificuldades fisionómicas que detenho.
De nada valem as preocupações, as tristezas, os sorrisos taciturnos e plácidos pois não são eles construtores da minha ponte alta, apenas  fazem dela mais pesada, menos alegre, cada vez mais da distante da fronteira já pouco visível.
É preciso ter consciência e ser acima de tudo isso.
Ainda não sei o que procuro, mas sei o que me falta. Sou incapacitada de consegui-lo e tenho uma vontade fraca de desistência.
As palavras caem e perdem o seu sentido. Se são usadas e abusadas desprovidas de inteligibilidade, se caem por cair e não olham para trás nem para o seu rumo, se caem em qualquer lado e de qualquer forma, então não são mais palavras.
Qualquer outro epíteto se lhe pode conceder menos esse. Porque eu amo as palavras. Mais do que amar a palavra palavra em si, amo todo o seu conteúdo que para mim não é vazio, é consciente, é cheio, é um Todo, cai com sentido de quem sabe e se orgulha daquilo que é, e que eu procuro o seu uso sem abuso para me perfazer.
Sustento-me de vocábulos, mas sinto-me cansada, exausta desse vazio que por todo o lado vejo.
Talvez seja um pensamento pessoal e intransmissível que seria tão mais se o não fosse. E a partilha com um outro sujeito poderia ser florida e colorida, e por ela se desenhar um arco-íris. Com a inocência com que uma criança pega nos seus lápis com cores diferenciadas e aproximadas daquilo que pretendem ilustrar e deixa o seu traço conciso fluir. Porque ela sabe o que desenhou e defende muito melhor que eu que não vejo o vasto muito que ela vê porque já tenho palas.
É uma inocência puritana. Até mesmo as suas palavras pressupõe um intenso significado e são tão belas com aquela pronunciação ainda insípida, mas segura, sempre segura.
A minha ponte é cheia de palavras completas e ainda não são suficientes, é infinitamente grande e vasta, mas as palavras não chegam.
Por isso, complemento-as com o conteúdo com que as preencho e talvez assim alcance a outra margem.
A intelectualização das emoções, faz de mim um ser muito mais racional e objectivo, pragmático e utilitarista ou antes Kantista nalguns dos seus princípios.
O difícil está precisamente na evasão para esse exterior intelectualizado, onde olho de fora de mim para dentro, como um estranho que me observa e me interpreta com os meios poucos e incongruentes de que dispõe.
Esta acção conduz-me a repensar-me como uma demente ininteligível incapaz de se deixar penetrar no seu mundo ou no dos outros, para poder coexistir.
Fundamentos baseados na impropriedade dos dados, donde extraem, consequentemente, a falaciloquência.
Não baixo, portanto, a minha muralha, para que as suas armas rudimentares me não possam atingir.
Não percebo percebo atitudes dessa natureza e não percebo porque continuo a ser cada vez mais díspar, cada vez mais distante.

P.S.: Mar, o homem e o turbante são stock, tudo o resto foi da minha autoria.

sábado, 21 de novembro de 2009

Quebra-nozes

Saltavam. Eram penas, leves, esvoaçantes, serenas. Tinham suavidade em todos os seus passos e todos os voos eram minuciosamente controlados.
A sua aterragem triunfante irradiava beleza em toda a sua figura e como eu sonhava em voar assim também.
São compassos filiados por passos sentidos, soltos e metódicos, livres e forçados, dançados e altamente técnicos.
É uma arte e é tão bela.
E eu, inexperiente em presenciar esplendores de ordem esta, fiquei que mais que extasiada e embrulhada em todo aquele encanto e feitiço, deleitei-me e voei com eles também.
Atendi a todos os pormenores, procurei o peculiar, o detalhe, o complexo que é tão aprazível no nobre disfarce da dor que gosta tanto de intrincar.
Procurei uma semelhança, mas ela nem apareceu. Consegui identificar gestos poucos e tive uma sede incomensurável de ser com eles.
Que graça, que leviandade reflectida. É isto um mundo das dicotomias infindáveis e tudo isto mostra-se radioso.
Aquelas pernas voam, os braços voam, a cabeça acompanha ainda mais rápido todos os rodopios e aqueles pés onde assenta  o peso todo daqueles corpos num equilíbrio majestoso, numa simbiose perfeita.
E que dança e que vontade de ser com eles. De largar tudo e ser um corpo daqueles, voar , triunfar, sorrir e nunca chorar enquanto ali morar.
E em palmas várias, contínuas, incessantes, incansáveis, verdadeiras, sinceras, pessoais, únicas e intransmissíveis depositei todo o orgulho merecido naqueles seres dotados de capacidades inatas.
Quando for grande, quero ter também umas asas daquelas.

P.S.: A imagem foi retirada de um bailado e o texto foi inspirado num outro chamado Quebra-nozes.

domingo, 1 de novembro de 2009

Eu penso, logo...

Nasci em terras intocáveis, no rio da perfeição.
Cresci, porém, imperfeita como o bicho que destrói/come as plantações várias.
Sou solitária. Não há ser com o qual me identifique a não ser  fisicamente.
As imposições em mim não surtem efeito, que se mude então o modo de actuar porque para mim já não tem qualquer jeito.
Sei que me foram desde cedo impostas tantas outras coisas com as quais cresci, mas a sociedade moderna repleta de saber, com o conhecimento científico-tecnológico mais avançado, corrompe-me ou procura, infecta-me. E eu, que o vejo mas que nada faço, sou triste.
Se pensar demais magoou-me, mas se o não fizer serei ignorante. Eu quero saber, tenho sede de saber. Contudo, quanto mais chego a conclusões que outros pensadores mortos chegaram vejo que eu já morri também. Faleci quando tais pensamentos me invadiram e me não largaram. E, por isso, deprimi sozinha, incompreendida, ininteligível.
Sou da cor nenhuma. Se  não há cor eu sou essa mesmo.
Ora se eu não conheço nenhuma cor então duvido da veracidade da minha própria conclusão pois não sei se existe. Se não sei se existe, mas se eu que digo que a sou, então não sei se existo igualmente.
Diz o pensador que se “eu penso logo existo” – cogito ergo sum. Com bases empíricas que sei à priori que não são, de todo, as mais acertadas eu reformulo esta verdade alegando que “eu penso, logo magoou-me”.
E é tudo em que isto se resume. Se não pensar sou ignorante e, por sê-lo, torno-me um ser desprezível. No entanto, se penso vejo todos os defeitos à minha volta presentes e as virtudes não chegam para colmatar o buraco que falta.
Não serei sensata ao tomar esta atitude, mas também tenho consciência de que a tomo tendo chegado a outra opção porque pensei. E, por isso, a ignorância que me podem apontar será devido ao facto  de não ter pensado o suficiente para reflectir que o pensar sobre todas as coisas metafísicas é algo doloroso, mas positivo e belo pelo domínio cognitivo que se atinge.
Que me desculpem os mais sábios pensadores, mas para mim as emoções importam. E se sim, o saber é belo, é lindo, mas não é tudo, não me faz sentir amor outro para além do do saber. A coexistência exige o contacto com os outros, exige uma troca de experiências, de saberes, de discussões, de ideias e tudo isso é lindo, tudo isso é fado.
E é-o, de facto. A saber: Fado é destino, mesmo não crendo muito no mesmo, se o fizer não serei mais do que uma vítima do mesmo e saberei tão bem não aceitar as minhas escolhas quer sejam boas ou más, desculpando-me sempre com algo que quero convencer-me de que é superior a mim. A verdade é que podemos enganar a todos menos a nós próprios, como tal não vale a pena enrolarmo-nos a nós mesmos em cantigas, bebendo da ilusão e esquecendo-nos de lutar para alcançar uma vida boa.
Nada é bonito se não o podermos partilhar. Essa partilha exige, obrigatoriamente, a presença de pelo menos um outro nosso semelhante.
A questão que me coloco é se valerá a pena. Tudo isto que para aqui declamo é bastante sedutor nas suas bases teóricas, ao passo que, na prática,  o mesmo não se comprova, pelo menos com a minha humilde pessoa. Contanto que se torna uma reflexão lógica aquando levanto estas questões, existenciais e ontológicas, e alego que caminho por entre uma multidão sem ninguém. Ora aqui denoto já duas contrariedades. A saber: a de não poder ser esta reflexão lógica uma vez que esta dissertação nada mais é do que um juízo pessoal e muito empírico e, a de caminhar com tanta gente e sem ninguém.
Deste modo, esta forte tese onde a palavra ninguém é bastante enfática é realmente contraditória e não o é. Ou seja, realmente é um paradoxo pois por multidão entende-se um aglomerado de pessoas e por ninguém nenhuma. Esta tese remete toda para um outro conceito que tenho vindo ao longo do texto a defender – a Solidão.
É deste isolamento que falo, é isto sinónimo de tanta gente ter a mesma conotação que ninguém se me encontro só.
Estar ou não com tanta gente são vocábulos certamente opostos, contudo são também para mim análogos.
Acredito veemente que haja algures uma outra cabeça pensadora que se indague com os mesmos propósitos que eu e pelos inúmeros sentimentos que também acarreta talvez tome, tal como eu, a mesma escolha de o não expressar, visto que as conclusões são demasiado díspares entre si e não conheço ser pensante outro que as aceite.
Já nem ponho em causa a compreensão, pois compreendo eu que seja difícil – ainda que o difícil seja belo nem todos o procuram – pediria apenas uma aceitação verdadeira. Porque das sombras já vive o mundo e eu quero continuar a procurar, incessantemente, a luz incomensurável.
Não obstante, sei que seriam apenas falsidades que obteria. Sentir-me-ia ouvida e não ouvida e só esta dualidade de opostos conseguiria reunir, esta dicotomia.
Por muito que me considere errada, o benefício da dúvida desilude-me vezes sem conta e venho parar sempre ao mesmo sítio. Estou cansada de remar, por isso dou descanso à canoa velha.
Morri espiritualmente pois esta coisa incognoscível já de nada vive a não ser da contradição e do desgosto de tudo o que é já existente e pré-concebido pelos meus superiores.
Talvez então não seja suficientemente sapiente ao ponto de ver isso mesmo ou então ainda não li algo que me enriquecesse a alma a esse ponto.
Ate lá continuarei a seguir a filosofia em que mais acredito e que é contraria à de todos. Todavia, deixo a pouco e pouco de me importar.
Cheira a Solidão.
Esta não pode viver se não trouxer consigo a sua grande aliada – a Loucura.

Selva

 Estou ausente de mim. Tirei uma folga e quero paz. Quero um imaginar de um paraíso, quero ouvir a nascente onde os passarinhos cantarolantes afagam a sua sede. Quero ouvir a musicalidade que o vento tem quando roça nas folhas soltas e estas, por sua vez, dançam desalmadamente, provocando assim, uma sinfonia paradisíaca, repleta de quietude, calma e divindade.
O mar está calmo, como é costume, e os animais selvagens são tão autónomos e singulares que deles medo não tenho.
A vida aqui é pacífica. A vida aqui parece ser como um refugir à cidade corrosiva, deturpadora, mutiladora e feia.
Não vejo ninguém, sou apenas eu nesta ilha. Conheço além uma tribo, mas, ainda que diferente, agora quero é conhecer-me por cada recanto deste lugar. Quero desvendar uma parte de mim oculta, que estagnou ou que não conheço, quero exaltá-la, apetece-me sorrir.
Não quero pensar porque pensar dói. Quero assimilar todo o conhecimento empirista e apagar tudo o resto. Quero começar do zero e formar novos conceitos com base na experiência.
Espreito por entre a densa vegetação e logo faço parte dela. Aceita-me tão bem e esconde-me por entre as suas folhagens cada uma com um aroma ainda mais característico que a anterior.
Olho e não se abre caminho se não a afastar com um pau que consegui depois de regatear com um selvagem. Não serei eu também uma agora? Não, ainda não. Hei-de ser, quando me libertar do que me prende e me souber ser e sobreviver neste mundo, para estar preparada para o grande Regresso.
Quero ser selvagem, não tenho qualquer vergonha porque esses demonstram ser tenazes e confiantes das suas capacidades, são o seu máximo e, são, acima de tudo, felizes.
São primatas, são. Mas estão tão longe dos pecados que corroem o homem – ele mesmo.
A minha evasão faz-me duvidar da minha fisionomia e aspirar uma outra talvez muito mais psicológica e utópica, mas dulcíssima. Onde a vontade que impera é a de entrar tantas vezes por esta porta para me ser no correcto e viver o melhor de mim.


sábado, 31 de outubro de 2009

Mea Culpa


É mea culpa se não arrancar o coração. Se o não despedaçar com os molares, se não o comer parte da massa que me controla as emoções.
E que cada gota valha a tristeza.
Que cada uma substitua cada lágrima vertida, que todas sejam uma para que se torne paradigma.
E morderei quem me oferecer mais sentimentos, puros ou veemente maculados, suando impurezas, pois os não aceitarei mais.
A credibilidade mudou-se-me de rumo e sou só eu comigo nesta presente jornada.
Tornar-me-ei pedra a todo o custo.
E os sentimentos hão-de pagar-me por me terem feito tão mole durante tanto tempo, por me terem diluído por entre tantos enganos e cegado de amores.
Hoje vejo a todo o custo e procuro ter os olhos bem abertos enquanto aperfeiçoo o meu treino contra mentiras e reforço as minhas armas para me não matarem o que de mim pouco resta.
Se não houvesse tanta maldade talvez a minha essência não estivesse destruída quase na sua totalidade. E, por isso, é hora de lavar as mãos e matar os demais. É hora de fazer jorrar o sangue que pouco me correu enquanto só via imagens de um passado querido e de sonhos utopicamente desejados.
Por entre tanta revolta e tanta angústia ainda habita escondida uma menina pequena, cega, triste, fraca, chorosa, penosa, arrependida, cansada, dormente, adormecida em sonhos vãos, que canta alto o que lhe vai dentro e que, escusado será dizer, ninguém ainda permanece para se dar ao árduo trabalho e empreendedor de a escutar.



Problema de Expressão


Nem escrever consigo, tenho um problema de expressão.
És tão rude, as tuas palavras são tão afiadas.
Não sou desistente, mas a minha atitude começa a ser de desistência. Sou diferente e, por isso, não amada. Sou sensível e, por isso, não acarinhada. Sou negativa e, por isso, não credível. Sou sincera e, por isso, não válida. Sou estrangeira e, portanto, diferimos em todos os aspectos e na nacionalidade.
Disponho de capacidades inatas desconhecidas baseio-me no axioma das sensação.
Se fosse uma palavra talvez essa fosse.
Roubas-me a alegria e o coração. És abusador e criminoso, devias ser preso ou no mínimo sancionado, mas a tua consciência não predispõe de remorsos para as más escolhas que tomas, no mau uso da tua liberdade enquanto prejudicas os outros.
“Põe-te no seu lugar” – propõe Savater em “Ética para um Jovem” – proponho-te eu porque precisas de parar e pensar. Algo que pode ser muito bonito exteriormente, mas que se o seu interior for apenas vácuo, então toda a beleza lhe é retirada. Ignorância minha inimiga. Quem me dera que te iluminasses e me visses enquanto aqui estou, enquanto as tuas vassouradas ainda não me conseguiram demover atitudes nem varrer-me para fora de ti.
Talvez devesse. Sim, um bilião de coisas que não consigo simplesmente porque sou fraca.
Simplesmente porque gosto de ti.

Sombra


Se sou sombra longe da luz, então também o ar que respiro é impuro.
Tão maculado que nem se percebe a sua causa. E ali está ela, de fronte, estagnada, numa atitude cínica e de incongruência, impaciente com o caos.
Como gosta! E que gosto!
Que desgraça, que pesar, que figura… que vergonha de ser.
Querias sol brilhante e estrela cadente e aí tens o mais bem conseguido disfarce da fera.

Eu sou apenas isto: triste verdade nua e crua. Dura, gelada, inundada de emoções, que se move com a beleza natural e a minha realidade é a mais simples e tão facilmente descodificável com um claro e sincero beijo.

Difícil?


Difícil é o fingimento.


Difícil é não gostar.

domingo, 27 de setembro de 2009

O resgate: dança

Folia. Eu ria, enquanto te abraçava, enquanto dançava ao som de cada palavra que nos unia as bocas e, nos entretantos, tal não era o embale que eu já mal dele fale, que me deixou ficar assim, perdida.
As tuas palavras estão presas, perras mesmo, custam a sair e, quando saem, mostram-se com a cabecinha de fora, de olhos arregalados, como quem é empurrado para fora donde não quer sair.
De tanta lágrima vertida, de tantas outras enxugadas, algum desse choro teria que ser benigno e, fazendo juz à sua promessa, aqui me tens transformada.
Olha-me bem, com os teus dois grandes olhos castanhos. Vê este meu agora mudado, cheirando a determinação, a crença nas suas capacidades que derrota completamente o eu passado.
Talvez uns belos passitos de dança tenham ajudado ao que tudo se resume numa questão de confiança.
Que se deixe de lado a inveja de quem é aquilo que outros desejam. Sou uma boa bailarina e a dança a mim nunca falhou. Nela deposito todo o meu amor e rezo veemente para que nunca me deixe, para que nunca me abandone. Os meus passos são compassos e a minha vida toda é o enorme chão de dança.
Tenho a cabeça cheia e preciso de libertar movimentos, angústias concentradas, pensar num eu ali, naquele meu momento, pois tudo o resto que tomo como verdadeiro descobre-se que, no fim, é fachada.
A pouco e pouco, vou conseguindo me desfazer das emoções mais arrebatadoras e levar uma vida estável na base do sentimento q.b. De certo que o heterónimo Ricardo Reis fosse de todos o mais sagaz, pois acima de tudo procurou uma vida assim. Toda atracção e deslumbramento que senti por Alberto Caeiro não me trouxe nada de positivo, a nossa semelhança acarretou o sal todo que guardo. Penso portanto que é a nossa dissemelhante que me mostrará a direcção da bem-aventurança.
Deveria, assim, procurar o caminho dos epicuristas e estóicos, como fez o primeiro heterónimo que referi.
A verdade é que não quero ser tão linear apenas gosto de colocar algumas das suas bases como contrafortes na estrutura da minha vida. E se assim o sou, foi por opção porque sou livre de escolher a atitude que pretendo tomar, mas também estou condicionada à mesma, porque se não escolher mudar então sou masoquista porque ando num ambiente circular onde a confiança nos outros acaba por nós magoar se formos demasiado emotivos como eu o sou.
Assim, eu sou livre de escolher a opção que mais me convém porque existe sempre outra. Como Sartre afirmou e bem, “nós estamos condicionados à liberdade”. Assim sendo, vou optar não pelo que quero – pois o quero é permanecer imutável e feliz, numa felicidade que não é só momentânea – , mas pelo que me trará um felicidade mais duradoura por muito que custe o agora.
Como defende Fernando Savater em “Ética para um Jovem” a partir de uma história do Génesis – o primeiro livro da Bíblia –, sobre dois irmãos, Esaú e Jacob, o primeiro, detinha o direito de primogenitura. O irmão, que lhe cobiçava o lugar, resolveu um dia confeccionar um guisado de lentilhas ao qual Esáu não conseguiu resistir. Ora, nesta situação a conversa mantém-se, pois havia nas lentilhas o senão que era o de Esaú poder refastelar-se no preparado, mas ter que em troca conceder a Jacob o direito de primogenitura. Esáu, obcecado pela tentação pensou apenas naquilo que lhe traria uma felicidade instantânea, imensa até, e não duradoura. Claro está, que quando se arrependeu era, na verdade, tarde demais. Apesar de aqui também estar em causa a imensa importância que Esaú atribuía à morte, vivendo com a filosofia de que já nada vale a pena.
Podem então objectar-me que não era o que eu há pouco defendia? A consciência da morte, o viver com emoções moderadas, entre outras? De facto o disse, mas também disse que procuro uma felicidade duradoura e não apenas com base num guisado de lentilhas. Assim sendo, a consciência da morte é para mim relevante e importante, mas não ao ponto de tudo valer o mesmo, apenas quero refugiar-me numa vida leviana onde os sentimentos são controlados, com o único objectivo de não sofrer.
Assim, com este exemplo reforço o meu argumento de que o importante não é lutar por uma felicidade cómoda mas precária, é sim lutar por uma felicidade o mais duradoura possível.
Como? Mudando já hoje o meu modo de agir, de estar, de comunicar, de ser com os outros.
A dança preenche, ainda que não totalmente, o meu vazio, a minha necessidade de sentir excessivamente. E por isso ela é tão importante e tem tanta presença em mim.
Quero dançar nas melodias e não sentir o hoje nem o amanhã. Quebro aqui a parte de não ser tão emotiva, mas como disse, apenas procuro filiar-me nos princípios de Ricardo Reis, não pretendo ser como ele. É apenas uma óptima inspiração. Assim como Caeiro, mas dessa forma eu comecei a passar de pessoa a objecto e a esquecer-me de me dar e de me darem a mim.
Deste modo, alego que já estive dilacerada, mas que hoje visto um fato novo.

Encostada


Mergulho nos meus medos, confiante de que todos se evadem num borbulhar inoportuno.
Os meus pensares emergem e quase que se encontram prontos a dispersar. Ergo, vazia e leve, a cabeça, abro os olhos com o coração esperançado e… ainda ali estou, precisamente no mesmo sítio, rodeada pelos mesmos objectos inanimados, exactamente com os mesmos problemas. Parece que o sonhar nada muda, o mergulhar nada esquece, atenua apenas a incontrolável vontade de me ser tão longe daqui.
Sinto-me cansada. De mim tudo levam e para mim, nada meu me resta.
Estou só e malamada. Parece que afinal até me serve este epíteto. Se calhar estavam todos correctos e eu errada. O melhor é mesmo prosseguir as minhas passadas sozinha.
Agora que vou reconstruir um dos meus sonhos, posso dançar nas minhas angústias e esquecer por momentos tudo e todos que me ferem.
Ninguém aceita nem gosta, mas eu sei que vou ser tão eu ali.
E aquele chão meu ninguém o pode tirar.
Só por cima do meu cadáver mo poderão negar.
Não abras os olhos enquanto o tempo urge e vê-me, então, depois a sair por aquela porta que jamais atrás volta.
Ela já está encostada, eu luto, mas parece que já sabe o que me espera.


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Teu Silêncio

Sou uma boa confidente e quando não são só as paredes que me ouvem, penduram-se-me as palavras. Fico perante um enorme silêncio, cortante, indefinido, enigmático, impenetrável, fechado.
Da sua chave me desfiz e não há ruído que rompa o silêncio.
Talvez a guitarra, talvez o fado.
Não quero, não obstante, usufruir daquilo que não deve ser pronunciado.
É submisso, deverá não ser falado.
Então não sei porque não ser ler o silêncio. Antes fosse da ronquidão das palavras ou do desgaste do seu constante mau uso, mas é a abstinência da fala, o sossego desassossegado e perturbante, é veneno.
É tormento.
Sinto saudade. Saudade é palavra e sabe tão bem proferi-la sem receio.
Quebra o silêncio, confessar não é vergonha. É descargo de consciência, é partilha de experiências, é quebra na monotonia, é motivo de tristeza ou alegria, é um sinal pautado de verdade.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Segredo


Por entre segredos confesso que acho que te amo.
Sei que deveria ser uma certeza, mas, se o fosse, implicaria que te teria de contar e, como sei que só de minha parte o é, prefiro permanecer numa atitude céptica com as minhas indagações pessoais.
Nesta minha introspecção avalio tudo. Cada sensação.
És uma pessoa tão cheia. É impossível não sentir o que sinto, não saber ouvir-te, não te saber ver ou sentir.
És tão grande que não sei se tenho altura que chegue para te beijar a face.
Sou pequena e tenho uma fraca figura. Sou, apesar de tudo, forte.
Sou dotada de muitas qualidades e, também, muitos defeitos. Claro está, que não sou eu que os enumero, pois são os outros que me podem dizer quem sou e o que sou, por entre vários juízos pessoais, são eles também formadores do meu eu.
Penso que se me conhecesses melhor, não te arrependerias.
Eu quero conhecer-te, é como uma necessidade biológica, como uma sede insaciável, porque tudo em ti tem um aroma a loucura, a proibição, a fatalismo.
Perco-me em ti. Não me importo. És como um labirinto, confuso e detalhado, do qual não pretendo encontrar a saída.
As tuas palavras beijam-me, os teus gestos enlaçam-me e não preciso de mais nada.
Preciso apenas que vejas isso.
Eu já achei a minha verdade. Isto é, penso que achei.
Não te digo, é segredo. É o meu segredo. Logo saberás se fizeres por merecê-lo.
Não percebes que é só isso? Só preciso que te deixes levar pela loucura, já que te dizes também apaixonado.
Mostra-o!
Se sou mais, se me queres deixar ser, larga o passado e dá-me aquilo que eu mereço.
Sou tua.
Infantilmente tua.
Agarra-me com toda a tua força e por favor não me largues. Tenho tanto medo de cair.





Vazio

Chega de ilusões.
Chega de maus presságios. Se há boa coisa que aprendi foi a não caminhar para o Nada onde nada posso obter. Nem uma sincera e simples emoção.
“Não vás por onde não pertences” – se não foi ainda dita por um sábio qualquer, deveria. Uso-a eu de momento pois o meu coração é pequeno e demasiado frágil, não pode com o mundo todo.
Sou uma ínfima parte, mas sou-o com orgulho nos melhores dias.
Nestes, luto apenas contra a tristeza que me invade com a triste verdade.
Como dói. Dói demasiado.
Sou TÃO tonta, meu Deus. Como pude deixar chegar a este ponto.
Tenho tanto medo e não há palmadinha nas costas que me valha. Estou apaixonada e sozinha. Tal aberração não deveria ser permitido. E a quem multar?
A mim. A mim por sentir.
Tira-me, por favor, todas as emoções.
Mais nada te peço.
Estou tão cansada.
Tenho já a cara desfeita por entre as lágrimas que me ocupam a tez queimada.
Tenho o coração mole e demasiado esmigalhado.
Será assim tão difícil gostar de alguém que goste realmente de nós?
Tenho vergonha de mim, quando devia exaltar-me.
Sou tanta coisa e sinto que não sou nada se o não for para ti.
Será justo? Penso que não.
Às vezes o ler alguns pensamentos poderia apaziguar ao menos o meu estado espírito com a crua e despida verdade.
Vem roubar-me a inocência, vem dilacerar-me, vem com emoções fracas enquanto eu te dou cada bocado de mim, só para que nunca nada meu te falte.
Se te fores embora, levas-me contigo.
E a mim de ti, predominará a saudade, e a mim de mim, o vazio pois tudo o resto levaste.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Semente


Talvez não mereça palavras. Que se troquem então as locuções que não passaram de meras ilusões e que agora são-me tão amadas.
É talvez um acto penoso todo este negativismo. Colhe-se aquilo que se semeia e, mesmo aquilo que prevalece ainda como semente, logo se transforma e cresce tão perfeito, tão completo.
Julgo haver aqui um mau uso de vocabulário por entre tanto outro já em desuso, esqueço-me dos valores.

Do valor de cada coisa, de cada semente plantada.

E talvez seja o fervor que me deixa meio atarantada sem saber bem pensar nem ver o grande que está e sempre esteve bem diante dos meus grandes olhos castanhos.

As percepções clarificaram-se e sinto-me submersa num tremendo estado de pureza.

Vejo beleza em tudo o que me rodeia e já nem o mal tanto me atormenta.

Foi plantada subtilmente uma semente e eis que cresce e floresce e…

E tenho um sorriso vencedor, forte, delineado e tenaz, construído com forças naturais tão apaziguadoras, especiais e impulsivas. Distingo-as pela sua diferença, pela sua singularidade, pelo sentimento que me causa, pelas poucas palavras que me faz dizer acompanhadas por todo um sentimentalismo ritmado pelo forte e apressado bater do coração.

É tão inocente. Tão frágil. Tão puro.
Desculpa-se dizendo por meio de batidas ofegantes, que apenas alimenta aquilo que tão perfeitamente semeaste.


P.S.: Imagem retirada do google.

Sinto-te


Por muito que eu queira não consigo esconder, disfarçar ou negar a tremenda presença que tens mim.
Não importa quantas lágrimas são vertidas se contigo tudo é tão perfeito.
E não, não me sinto capaz de te dar razão em tantas tolices tuas, mas é que hoje só me apetece sorrir.
Está tão claro o dia. Está tão aberto o meu olhar e sinto uma sensação de pureza a atravessar-me o corpo, é quase que incontrolável e é tão fresco, tão novo, é tão positivo.
Deixo-me levar. Parece saber, bem melhor o que eu, para onde me leva.
Não tenho medo.
Sinto-me tão livre.
Capaz de tudo.
Vou voar.
Voa comigo.


Sinto-te.

P.S.: Fotografia de Nelson Martins.

Mar


O mar. Eu disse que ia ouvir o mar e não o fui ouvir. Pensei ingenuamente que tão poucas palavras far-me-iam sorrir por tanto tempo.
Precipitei-me. Ainda não é tempo de entregas é, antes, tempo de pé atrás, de fazer cada jogada o mais deliberada possível para ser a mais acertada.

Não ouvi o mar quando ele me quis segredar. Regozijei-me nele, usei-o e embora me fui. Nem para trás olhei. Nem me despedi. Ainda aqui impera a saudade.
E é só a saudade que me resta.

Saudade.

Vou desprender-me de ti.
Talvez seja o mais acertado, ainda que seja o mais distante de mim.

Talvez já o esteja sem que o tenha notado.

Talvez muita coisa não resolva coisa nenhuma.

As palavras não fazem sentido e a vontade escorrega-me da mão. Não sei o que quero se não sou querida ou se não o sinto.
É, então, indiferente se me o mar me canta e encanta, se dança comigo e se é o meu único par, se me beija com os seus lábios salgados ou se é o meu único amante, se continuo com o véu que me cobre e me esconde de todo o mundo e de ti.

Será que ainda vais perceber o quanto te quero?

Ou será que terás apenas essa mesma percepção, mas nunca o mesmo sentimento?

Gostava de invadir sonhos teus e ser um dia quem desejas. Mas de verdade. E não apenas alguém que nos faz sentir bem connosco próprios, que nos acaricia o ego e nos faz sentir importantes.

Quero que saibas que estou aqui, mas não quero que te sirva isso de bengala.

Não quero que envelheças nessa certeza, por muito certa que seja.

Sinto-te tanto em mim que se soubesse que não caia era a pessoa mais feliz do mundo, só por saber que estás comigo por razões que só tu sabes.

Sou perfeccionista e não me contento com um sentir bem, quero ser realmente importante, porque tu já o és e eu… Eu sei que não o sou, e estou longe de roubar esse lugar a quem já o conquistou.

P.S.: Fotografia da minha autoria.

domingo, 30 de agosto de 2009

Ironia da Vida


A ironia da vida. As suas cambalhotas, as suas danças tão bem sincronizadas cujo ritmo não me acerta e as minhas pernas parecem já flácidas como o tempo que me resta.
O sempre é a maior utopia.
O amor é a maior mentira.
A verdade permanece escondida e quem me dera a mim encontrá-la.
Os seus pântanos foram-me selados e eu cancelei, assim, todos os sonhos que te envolviam.
Ou queria eu tê-lo feito e, sem êxito, então, caminho.
Continuo à procura do meu caminho, do meu complemento, da minha razão de sentir, mas sinto que me foge. Faz de propósito quer que entre na sua jogada, maldosa e dolente, enquanto me mente e me faz sonhar com o que impossível.
A música mudou e eu já não sei dançá-la. Faz a sua ginástica e faz por que eu dela parte não faça e fique excluída e completamente sozinha.
Os sonhos são, de facto, meras utopias. São a minha perdição. São a minha morte.
Enfio lá a minha cabeça oca e surpreendo-me com o que é messiânico.
Os meus passos são compassos e já de nada servem. Dançam feitos loucos na pureza da loucura.
São frágeis e pouco concisos, estão doidos e desaprenderam todas as lições, todos os ensinamentos, toda a teoria, são mais livres e estão fora de si, choram fingindo ser por simpatia ao cavaquinho.
Até os instrumentos me rejeitam o corpo e a alma já não sabe das suas cordas vitais.
Sinto o meu espírito demasiado morto e o meu corpo fatigado, saturado, cansado, sem saber sequer se é.
E eu, sou?
Finjo saber, mas na verdade não sei.
Já suplico a qualquer força divina onde as minhas crenças não residem, mas que, no meio deste desespero as ressuscito, que me não te façam amar.
Eu não posso sentir amor.
Porque é só a mim quem eu vou enganar.

Fealdade

Errei.
Errei quando acreditei nas tuas palavras. Errei quando acreditei nos teus gestos. Errei quando me considerei importante.
O vento tudo leva. E levou-me a mim para longe de ti, só porque não consegues discernir atitudes e nasceste cego pela vingança.
És um assassino no que toca às minhas emoções. Custa-me crer que para ti sou apenas alguém que libertou essa tua vontade de pisar uma ingénua amante que acreditou nas tuas promessas vãs e tão precárias.
Como fui estúpida.
Abdiquei do meu egoísmo, de muitos dos meus defeitos só para te ver sorrir.
Não vejo qualquer ponte porque valha a pena atravessar.
Os teus objectivos prevalecem por entre o que mais me fere.
E ferida por ferida, prefiro ficar longe da tua espada.
Como pudeste, sequer, espetá-la se te tentei sempre dar o melhor de mim? Por que é que escolhes ficar mal se podes ficar bem? Por que é que não pensas?
Alguém tão crítico, tão bom conselheiro consegue ser tão incrivelmente egocêntrico e dogmático, com a filosofia do “doa a quem doer, a mim dói-me menos”…
Espero que estejas contente e que cedo tropeces na tua própria encruzilhada para que com estas atitudes erróneas possas crescer e fortalecer-te.
Por agora és apenas demasiado fraco. Tudo te deita ao chão e não te sabes levantar. Demasiado apegado a si próprio, tens muito que saber. Coisas que também me custaram para poder dizer hoje que sei de mim e o que quero.
Se me queres longe da tua estrada, então essa será a última vontade que te concedo.
Caminharei no sentido inverso ao teu e não olharei para trás.
Surpreendeste-me, conseguiste tornar-te feio.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Cidade/Homogeneidade

Cheira a cidade. Oiço as buzinas barulhentas e impacientes. Quase que me chega o vapor expelido pelos automóveis e, até, o fervor da decadência em que se encontram os próprios condutores.
Os meus vizinhos fazem das suas janelas e varandas locais sociais e divulgam entre si inúmeros pensares. Oiço talheres e armários a bater, um cão a ladrar, vozes dóceis e jovens que riem, sinto a rotina de uma rua grande toda da minha simples e modesta janela.
Não estou curiosa por saber o que escondem tantos vidros apenas gosto de me sentar e sentir a vida neste meu recanto.
Posso alegar que me acalma. Talvez seja uma das minhas variadas evasões, pelo menos é menor o tempo que gasto a pensar em mim.
Às vezes canto. Às vezes danço. Às vezes rezo para que, tal como eu estou às vezes atenta, os meus vizinhos não estejam.
Penso como era bom se me pudesse evadir sem ninguém me ver, ouvir ou sentir e penso quantos o mesmo não quererão.
Por muito mal que cante, dance, pinte… faço-o porque me sinto eu mesma. Sinto-me liberta, livre, abraçada ao meu próprio ego, enamorada com a minha maneira de ser.
Nem sempre tenho destes momentos pessoais por isso mesmo, considero-os fulcrais para o meu bem-estar.
Todavia, sinto-me tantas vezes observada, a ser escutada como se alguém soubesse destas minhas fugas e estivesse ali, de cotovelo apoiado na janela, com a mão desse mesmo braço a segurar a cabeça de um rosto cansado e triste, envelhecido pelo seu estado social, a espiar e a criticar esta minha maneira de ser tão oposta e fugida ao conceito pelo qual todos nesta sociedade se regem, o da Homogeneidade.
Será errado sair da minha carapaça só para dançar com as poucas bases que tenho uma música com a coreografia que, por muito louca que se demonstre, seja para mim a mais sentida?
Será errado cantar por gosto?
Será errado pensar se é errado para evitar ser contaminada pela generalidade da qual todos bebem e sem recalcitrar? Será errado procurar a minha heteronomia, a minha anomalia? Estarei a tornar-me, deste modo, inconveniente ou a atrasar o meu crescimento psicológico ou estarei eu mais próxima da lucidez que tantos anseiam?
É este difuso e complexo bombardeamento que me faz erguer a cabeça e caminhar em direcção à minha tão querida janela duplamente envidraçada, que me mostra abertamente a minha cidade. Respiro já duma brisa nocturna tão fresca e saborosa.
Não vem sozinha, faz-se acompanhar de condimentos especiais – um céu estrelado e uma lua sempre perfeita. A minha paisagem favorita é tão simples e, simultaneamente, excessivamente arrebatadora.
E, sem carecer de qualquer tipo de energia eléctrica, durmo sobre a bela luz, noctívaga e sem artifícios, que me alumia os sonhos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Loucura


“Bato a porta de vagar, olho só mais uma vez, como é tão bonita esta avenida.”
Talvez esteja a exagerar e, por isso mesmo, seja menos querida, talvez queira ser tão bonita quanto é esta avenida.

Não sei. Talvez. Atacou-me o cepticismo profundo. Não consigo sair daqui. Quero, mas não consigo não pensar em ti.
Quero não pensar, mas não consigo. Quero não sentir, mas não consigo.
Distracções já não elevam pensamentos e os pensamentos fazem força para permanecer exactamente onde os não queria.

Quero pensar menos em ti, mas não consigo. Não percebo… por quê?
Se tu consegues deveria ser fácil e simples! Deveria conseguir não sentir saudade.

Porque eu sinto SAUDADE!
E tu não, ou pelo menos consegues moderá-la, desviar-te dela, não pensar em mim. Já eu, que tanto o pretendo, não consigo.
Quantas mais noites em claro tenho que passar para desistires de invadir os meus sonhos e impedires-me percorrer as minhas próprias loucuras neles, onde posso realmente ser quem eu quiser.
Por que é que tens que dominar todos eles? Já não chega o tempo que passas na minha cabeça quando estou acordada?
Será pela quantidade de dias, de horas?
Eu conto o tempo para te ver, para te falar…

Estarei louca? Devo estar.
Se te contasse provavelmente sentir-te-ias grande, mas sentir-te-ias na obrigação de te afastar.
Sim, eu psico-analiso tudo. Não sei se existe, mas não importa. Talvez te afaste desta minha entediosa maneira, mas não o consigo evitar.
Se não pensas tanto em mim, então deixa-me também não pensar em ti também.
A mim parece-me justo.

Isto corrói-me por dentro. Devo ser louca. Só posso estar louca.
Por favor, diz-me que isto é só loucura.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ausência de Cor


Pediram-me para molhar os pés na água salgada só para dar uma espreitadela nos modestos azuis do mar, tão ímpares, tão únicos, tão cansados.
Quiseram que nesse momento fugaz eu o preenche-se com as cores que me definem, como se fosse o acto mais simples do mundo.
Mas eu tenho tantas cores, quais usar de momento?
Teriam que ser as melhores, as perfeitas, as únicas, as que não detenho agora em evidência.
Como corresponder a tal pedido se não tenho, sequer, cores para me pintar?
Uma cor qualquer serve. Já não ligo. Não tem importância se estou amarela ou encarnada se me sinto sempre dentro da mesma tonalidade, um ténue cinza.
Não, não é um cinzento de tristeza profunda, nada disso. É apenas um cinza sublime, ligeiro de quem levanta a sua tão bem guardada bandeira branca e a ergue, exaltando todas as suas fraquezas com a maior das suas forças.
E não é nenhuma tentativa de arranjar desculpas é só que nem os meus lápis de cor tem qualquer outro tom se não neutro e muito menos o terei eu.
Talvez a minha visão também já não abrace de igual forma as cores, aquelas que nos fazem vibrar e sentir seja aquilo que for. Logo eu que sinto que tanto sinto.
Talvez esteja doente por sentir demais, por ser demasiado sensível. É estranho partilhar um mundo com espécies tão díspares entre si, tão dissemelhantes de mim.
Será que existe cura, será que de tantas e tantas vezes que este mar me salgou os pés, me trará desta vez alguma resposta?
Será ele o meu pintor favorito, não desfazendo a minha tremenda admiração por Leonardo, mas não poderá ele deixar uma cor em mim? Uma cor qualquer, uma diferente. Uma que nos una só para eu não me sentir tão igual à multidão que se apressa e tão diferente na minha Interioridade ao ponto de não a conseguir comunicar para partilhar.
As palavras não chegam para me exprimir e tantas vezes o simples bater do vento na minha face queimada afasta tantos males, corre com os maus presságios e deixa-me limpa, sentindo-me como que isenta de imperfeições, entregue àquele momento, ali, completamente rendida, sua. “Leva-me” – digo-lhe sem emitir qualquer som, sem necessitar de qualquer vocábulo, desenho apenas um leve sorriso no rosto.
Como posso explicar a minha admiração pelo banal, pelo que é grosseiro por ser rotineiro, pelo que não é bonito? Como hei-de me colorir?
Gosto, claro, da minha dessincronização com o mundo todo, mas acabo sozinha, sem palavras, nem gente, sem cores, nem mar, sem sensações, nem vontade, diferente, mas igual a toda a gente e com os pés molhados...


quarta-feira, 29 de julho de 2009

Flor


Uma flor. Daria tudo para ser uma flor tão bela e atractiva que tu sentirias uma vontade incontrolável de a colher. Exalaria um perfume igual a nenhum outro, tão ímpar que em ti permaneceria uma curiosidade insaciável e um querer conhecer que não conheceria, porém, descanso. Seria da cor que tu mais gostasses. Seria do teu agrado e seria feliz por me quereres, por ansiares que o tempo fosse eterno no momento da tua gnose. Queria ser uma flor, mas não sou. Não sei o que sou realmente. Sei que tenho de parar de me ser para não apaziguar o choro que guardo cá dentro. Sei dar tanto de mim sem nada receber que me torno num barco sem rumo, cansado já de tanto remar. Para onde? Para o Nada que o leva, pois não adianta quanto mais seja o seu esforço, permanecerá precisamente no mesmo lugar. E pior, sozinho. Não sei por que é que aqui continuo… Diz-me! Também não o sabes. Sou tão não visível. Quem me dera ser também não sensível para não sofrer. Esgotam-me as palavras, os olhares, os carinhos e as afecções. Pisam-me. Porque não me vêem porque tudo aquilo que faço para nada serve. É lixo. É Nada. Matem-me. Porque daqui só vive ainda o físico. Este mundo é demasiado esmagador para mim. Não quero ver pessoas, não quero ver ninguém. Quero que me deixem ser sozinha no meu recanto. E se isso não puder ser, então não me deixem viver.

domingo, 12 de julho de 2009

Silêncio

Era silêncio. Silêncio e paz que eu queria.
Sinto-me tão sozinha. Estou tão sozinha. Ninguém se apercebe da minha dolência.
Deixaste-me, deixaram-me. As minhas palavras são pesadas e cansam, já não tenho a quem as contar.
Triste de mim que as carrego porque alguém motivos me dá. Chora lágrimas que não convencem quem as conhece, mas comovem quem não as sente.
Quem me dera que a Verdade detivesse o braço mais forte e musculado que o da Falácia.
Talvez devesse ser falsa também para pertencer a este mundo de jogo de roleta num casino qualquer, infame.
Vendo-te as palavras porque já de nada me servem. Ninguém as ouve. Nem eu. Parecem lamúrias todas com a mesma forma, todas sem sentido.
Não me sinto necessária aqui senão para gerar o caos.
Estavam tão bem se eu estivesse longe. Nada me diz o contrário. Cada vez me sinto mais inútil, cada vez me sinto menos eu, cada vez menos olho ao espelho e vejo o meu reflexo. Não conheço quem vejo espelhado. Talvez tenha mudado a aparência ou então cansei-me de vestir o traje que me impuseram, mas que, agora, outro não conheço.
Palavras, palavras, palavras! Estou farta de palavras!
Cansei-me de vos ouvir falar palavras sem conteúdo. Cansei-me de falar e de não ser ouvida. Cansei-me de ser aquilo que querem e não aquilo que realmente sou. Cansei-me de me amarem pelas vontades satisfeitas e de não se darem, sequer, ao trabalho de dizerem que sabem o meu nome, símbolo da minha identidade.
Se de mim nada querem saber, deixem-me fugir.
Eu aqui já não pertenço mais.

domingo, 5 de julho de 2009

Encomenda


Não importa a intemporalidade ou a brevidade da vida, se é ela quem demanda e controla todos os passos. Não a podemos enganar porque ela conhece-nos melhor que nós mesmos. Os traços da nossa mão que nos distinguem são-lhe tão coesos e perceptíveis.
Não adianta iludir-nos em felicidades precárias, onde o erro persiste não só pela ilusão que aqui está subjacente, como também por o termo felicidade não poder ser usado desta forma. Pois a mesma, existe exigindo apenas que a sua inicial seja uma maiúscula para reservar e resguardar todos os seus direitos, bem como a sua importância.
É tantas vezes mal interpretada e incorrectamente falada apenas porque gostamos de nos enevoar a nós mesmos só para apaziguar a nossa dolência inevitável. Sabemo-lo bem e, talvez por isso mesmo, recorremos a tantos meios só para nos fazer esquecer, ainda que por momentos, tenham o tamanho que tiverem, são falaciosos, são obscuros, mas procuramo-los só para nos fazer sorrir.
Não sei se é ridículo fazê-lo ou não, se o sorriso é também ele precário e desvanece tão facilmente, não se importando com quem nos fez sorrir nem quando o fez.
Não quero que me abandones. Escrevo e de nada me serve. Estás sozinho, com a tua carapaça mais forte que tantos invejam. É tão bonita, ainda mais bonito é tudo aquilo que construíste. Quem me dera ser como tu, corresponder a todos os teus sonhos, ser tão grande como me imaginas e fazer com que te orgulhes de mim.
Não me deixes. Não me deixes neste mundo corrupto e escuro. Já não distingo a noite do dia e tu sempre me aclaraste tão bem as ideias.
Sei que tens medo. Tens de ter, todos temos. Tu és tão forte que nem a mim mo demonstras.
Não acredito. Não acredito que dele não careças. Deixa-me ser como tu. Deixa-me ficar livre de dogmas e procurar sempre a verdade por mim, moldar-me de palavras que ninguém ama por serem banais. Mas a sua banalidade não lhes rouba o seu valor nem o seu sentido.
São puras, são virgens, são minhas e tuas.
Vou-te ver. Vou-te ver sorrir e vou retribuir esse sorriso. Sabes que o devo muito à tua bela pessoa.
Não vou chorar, ainda que me desfaça de momento. Espero ver-te, olhar para ti, encorajar-te e pensar que vais lá estar sempre. Porque vais e não me digas que não porque não te deixo!
Sou parva, sou. Bate no ceguinho e diz-me que não passo de uma grande encomenda. Sou-o com o maior orgulho que uma neta pode ter no seu Avô. Sim, levas a maiúscula porque ela tem muito valor e tu tens ainda mais.
Não me posso expressar em palavras nem definir-te com as mesmas, porque elas não chegam e limitam-me. Os meus sentimentos por ti são infindos e do fundo de mim te digo que és a melhor pessoa que já conheci.
Fica comigo.


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Aromas

Sim, acordei. Talvez de um dulcíssimo sabor a palavras, talvez de uma paragem temporal onde tudo se perde quando imbuído em devaneios sentidos, loucura é o que lhe chamam.
Não me importo. O meu canto alto não importuna e eu sinto-me tão grande por momentos.
Chama-me o que quiseres. Sinto que libertei certos medos de mim mesma.
Não tenho certezas porque não sou omnisciente, talvez prefira não saber. Tenho as convicções que necessito para sorrir.
Soa sempre tão bem dizer que sorrio por ti, por mim, por nós.
Não me importo com essa tua estranha maneira de demonstrar sentimentos se o sabes fazer por outros meios.
E as palavras são tão incipientes e eu sinto-me bem com isso.
Sinto-me excessivamente limitada e é tão bom escrever assim.
Vejo o mundo tão colorido. Não sabes as minhas cores, mas coloriste harmoniosamente o meu pequeno refúgio com as tuas.
São depuradas, são lindas, são tuas.
Basta-me tudo isso.
As palavras maviosas circundem o ar que nos rodeia. O seu perfume tem uma presença ainda maior que qualquer outro.
A sua fragrância não é de nada que possa ser palpável, visto, apenas sentido. Sente-se que é imaculada, natural.
Faz-me sorrir.
Deve derivar de algum processo químico que fugazmente criaram, ou é apenas um suave aroma que sente uma jovem tonta, ingénua, apaixonada.
É uma combinação aromática primorosa.
É a simbiose perfeita.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Quero o Sem Sentido, mas Sentido


É o ler. É o relembrar que me deixa nostálgica. É essa tremenda vontade de regressar ao tempo em que podia perder a cabeça pois estava segura que me iriam agarrar, qualquer que fosse a queda.
Hoje, sei que o terreno montanhoso não é propício para que tal se suceda e a minha quietude aflige-me.
Não consigo não pensar nem lembrar. Porque me marcou, porque me deu alento para me evadir, porque me fez tanto sorrir.
Não sei se ainda é valoroso fazê-lo, parece que já não há qualquer admiração.
Falta de gnose e interesse pela mesma são, pelo menos, os principais sintomas que estão em evidência.
Preciso de ver aquele pôr-do-sol há tanto evocado por meio de promessas ditas para o ar que as levou para mais ninguém as ouvir.
A musicalidade das letras que dançavam nas palavras mais perfeitas jamais foram tão prazerosamente admiradas, foram-se, no entanto, perdendo por entre os palcos obscuros que frequentavam. Perdendo a sua essência, o seu valor, a sua moral, tudo aquilo que as caracterizava e as unificava.
Fazem-me pensar se eram, ou não, de cariz oco. Repenso quais as causas que poderão ter conduzido para a precariedade sensacional que se faz já por anunciar.
Será de mim? De outrém? De ninguém? Será da vida? Do destino cruel?
Seja o que for, está a conseguir desgastar-me mais do que a uma bota velha que fica guardada na sapateira corroída pelo anos que se vão aglutinando, posta de parte, representa grandes épocas passadas. Passado, nada mais.
Talvez tenha perdido o senso e o sentido do bem e do mal, ou melhor, do considerado correcto de pensar. Como pensar então? Não sei.
Penso demais. Esgoto-me. Dou de mim o que consigo. Eu própria considero-me limitada. A teoria de que nada é impossível só se torna verdadeira quando existem razões que nos dêem alento para o fazer. Caso contrário, a questão que fica pendente será sempre a do “para quê?”.
Para quê?! Para quê entregar-me se caio?! O chão magoa conforme a brutalidade do confronto, já o experimentei e cicatrizou-me. Permaneço, portanto, preferencialmente de pé. Não asseguro muita coisa, mas pelo menos asseguro a minha integridade psicológica.

Como eu queria escrever textos sem nexo, onde a única coesão que pudesse, eventualmente, existir residiria no denso banho maria de uma alegria contagiante e sedutora.
Ao menos a falta de sentido seria mais do que sentida e alguma vez descrita…

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Rio Meu


Sou de novo um objecto. Um objecto que proclama o seu canto inaudível, não premeditado, pouco coerente, sem credibilidade nem aceitação, a sua voz ecoa vadia, vã e solitária.
Queria sentir-me, mas roubaram-me a capacidade sensorial que detinha e abandonaram-me neste riacho onde nem o rio me escuta.
Talvez o tente escutar, mas parece que nada do que diz, a mim se dirige. Como tal, não quero parecer intrometida e delibero só no meu canto.
Não falo. As palavras já me custam a sair, mais vale nada mesmo dizer. Não oiço nada senão o rio que teima em mostrar-me que é tão mais do que eu. Nada sinto, nada vejo. Cegaram-me com permissão e agora quero redimir-me onde não existe perdão.
Se ao menos alguém me sentisse ou notasse ou ouvisse. Se não fosse sempre cega, se não estivesse sempre nas mãos de outrem, se não fosse tão sensível, se não fosse tão eu, talvez fosse mais feliz.
Contudo, não poderia existir felicidade se não havia nenhum eu integral. A felicidade alheia não me pertence e com ela não posso partilhar sentimento que não careço.
Não há nada que possa fazer se não me sei ser nas mãos que me aceitem e amem cada detalhe, cada pormenor, cada expressão, cada defeito, cada alegria, e me dêem confiança e determinação para continuar a ser-me e a dar o melhor de mim.
Ando tão escondida. Oiço o sussurrar de uma voz inquieta. Ama-me e quer amar, quer soltar-se, quer ser grande, quer ser livre, quer ser apaixonada. Finjo que não a oiço. É inconsciente e ingénua, não sabe o perigo que corre, não sabe que o terreno não é fértil e ela é apenas demasiado genuína e criança para enfrentar o Nada. Porque na realidade não há razão para sair.
O rio torna-se ameaçador e eu finalmente percebo que ali não pertenço. “Não sei por onde vou, mas sei que não vou por ali”, disse alguém sábio cujo o nome não me recordo. Mas uso-a nesta situação, pois não sei regressar-me e estar segura no meu casulo onde nada nem ninguém me podem atacar, mas sei que caminhei e continuo a fazê-lo para o lado errado. De um lado onde só o Nada posso obter. E, para que a voz interior se cale, quero saber o que fazer, quero saber ser tudo menos errónea, quero não sofrer.

O teu olhar é já frio.

O teu toque arrefeceu.

Gelaste-me e eu acreditei na tua ronquidão.


sábado, 6 de junho de 2009

Não Vens


As palavras são redundantes e inserem-se em argumentos circulares vários. Já não há daqueles vocábulos que tanto me encantaram, aonde é que vim parar?

Os olhares já não se cruzam e as emoções perderam-se no tempo, infeliz o teu contentamento, infeliz o meu lamento.
Que se lhe acrescente um suplemento se é dessa carência que lhe falta, não há já rosto que me distinga, é o fugir à igualdade que me iguala.
Doloso é saber que te perdi quando numa tarde ao relento soprei. Não pensei que fosse no mar onde te encontrei que de mim tu fugirias.
E correste, correste e nada me disseste. Viraste-me a cara, abandonaste o teu olhar ainda terno, e deixaste que apenas o vento fosse dono e senhor do cabelo que só a ti pertence.
Não pensaste na saudade que deixaste ao partir para fora de mim.
Não pensaste que te queria e quero aqui. És tão apartado.
As palavras ocas já não me iludem, apenas acções dir-me-iam o contrário que tanto anseio. Apenas essas aliadas a uma vontade que, julguei ingenuamente que em ti imperava, me acordariam deste sono tão pejorativo.
Fizeste tudo para que acreditasse nessas tuas palavras soltas, insensíveis, delineadoras de um futuro amante, tristes, vazias, tuas para mim.
Não sou ninguém que te mereça. Não sou ninguém de especial. Sou-me como aprendi e me fui traçando.
Não sou quem procuras, não sou parte das tuas loucuras e, muito menos, sou parte de ti.
Deixa-me ali deitada, imóvel, à tua espera quando sei que não vens porque…

Por que é que não vens?


domingo, 24 de maio de 2009

Na Sombra


É na sombra que me sento. E no limiar desta acção conheço-me.

Sou pedaço de um denso arvoredo e respiro de outras essências, sentindo-me mais poderosa.
O vento cheira-me a introspecção e sou, naquele momento, um mar de pensamentos, sou eu ali e estou só.
Os frutos das árvores parecem perenes, apetece-me jogar-lhes a mão. Mas é essa vontade capaz de me fazer querer mergulhar ainda mais profundamente na minha Interioridade?
Talvez tenha cadeado ou algo que me impeça o meu próprio acesso. Mas existem tantas questões perdidas que só dessa maneira conseguiria apaziguar o meu espírito irrequieto.
Concentro-me. Penso em Siddhartha. Um Homem tão forte, tão seguro de si, tão confiante, que prefere a morte ao viver sem sentido. Possuo as mesmas vontades. Mas não sei se não o prefiro mais em palavras do que com verdadeiras, corajosas e heróicas acções.

Sem esta perseverança sinto-me mais uma e não uma, sinto-me parte duma multidão sem nome, sinto-me desconhecida, mas assim o prefiro ser se não sei dizer de mim.
O vento afaga-me o rosto. É fresco. Sabe bem senti-lo numa tarde como esta, aquecida pela reflexão.
Distraio-me, mas logo tento recuperar a ideia anteriormente deixada em aberto.
Siddhartha, Siddhartha, como eu queria ostentar um nome tão honrado e singular como o teu. A ti nada não te importa nem incomoda senão o teu próprio cepticismo. Alcançaste o Nirvana e eu nem sequer lhe conheço o caminho.
Queria traçá-lo, mas também não me sinto capaz de o fazer.
Penso que por vezes nas doutrinas, as teorias que ensinam são como dizes meras palavras, se não soubermos ir ao nosso encontro, e olharmo-nos para dentro. É como olhar um espelho e vermos o nosso reflexo exterior. Tu vês, ao mirares o teu reflexo espelhado na água, o teu interior. Não há nada que considere mais belo do que pensar que poderia atingir essa etapa divina. Não que seja uma crente, mas porque entendo que tais heróis de si mesmos precisem de se destacar e denotar uma distância considerável, uma vez que, ao menos esses, como tu Siddhartha, só esses conseguem abdicar de tudo em prol da procura incessante do seu sentido. Quem me dera preferir, com firmeza e segurança nas palavras, que venha antes morte à minha própria ignorância ao invés de declamar palavras vazias no seu conteúdo porque nelas, interiormente e de forma cobarde, sei que lhes falta a coragem e a vontade nua.

Já é tarde e está frio, tremo e agasalho-me, sou fraca sou resistível.



Visível Por Um Dia

Posso não ser estrela cujo seu brilho ofusque, mas tenho uma luz tão intrínseca que é, simultaneamente, tão invisível aos teus olhos.
Será por cansaço ou mesmo por problemas de cegueira que passo por ti e te ilumino enquanto tu pareces ficar estagnado na tua própria escuridão.
Tenho a minha sombra. Também ela te incomoda, mas não percebes que sou eu. Se gritar ou fizer gestos ridículos à toa, tu permaneces impreterivelmente impávido e sereno.
Tens uma calma envolvente e, ao mesmo tempo, tão frustrante.
Como não me vês, consideras-te quase como o único ser existente e que ainda coexiste, por muito estranho que pareça. Esqueces-te que não tens sempre os olhos vendados e que o caminhar para a luz e dar sinal de erro, de engano pode ser difícil, contudo é também exclusivo e nobre. Especialmente, nobre.
Nem todos carecemos dessa particularidade. Ou melhor, necessitamos, mas a ilusão cega alguns de tal forma que, para esses, nada mais existe senão a pomposa falácia.
À mesma associo tudo aquilo que é corrosivo e traiçoeiro e, por isso, é para mim tudo aquilo que toma as sombras por verdadeiras, afastando-se da sua essência e de outras luzes que em si incidem.
Esforço-me para que o meu raio seja valoroso e para que tenha significado, para que não só o vejas, como também o recebas sentindo-o, reconfortando-te nele. Espero que seja recíproco. Anseios e devaneios é tudo o que me tens ofertado por meio dessas sombras que nem vocábulos convenientemente correctos bem expressam, tal não é a sua promiscuidade com aquilo que é violável.
Não me sei ser e a minha luz é tantas vezes mal utilizada e usufruída.
Todavia, nada é mais importante do que um simples cair e levantar. Não existe nada mais belo, se soubermos elevar o espírito, aprender e ganhar novas defesas.
Falas com as certezas que não tens. Também sobre elas não tenho poder, mas procuro ver-me e ver-te e depois sim, deliberar e tirar conclusões.
Cabeças quentes nunca venderão felicidades instantâneas e o instantâneo não é o feliz porque refere-se a um simples, curto e efémero momento.
Que se fale antes de uma suave alegria que vai posteriormente destoar com os ásperos e austeros remorsos.
Ao menos que os vejas por ti mesmo, já que a minha credibilidade te é indiferente.
Sei que não sou pessoa em quem notes, mas gostava tanto de um dia o ser. De ser-te visível por um dia. Um dia que tornaria eterno.