domingo, 30 de dezembro de 2007

Bipolaridade Fantasmagórica


Era bom ver o sol sorrir todas as manhãs.
Como era bom ver o sol sorrir-me e eu retribuir.
Como era impensável que eu pudesse chorar por coisas mínimas.
Talvez eu não conhecesse um pouco da vida.
Olho para a Ana de antes. Mais nova, mais alegre, mais viva.
E agora olho para um fantasma sem nome.
Um fantasma que ouve, mas que não é ouvido.
É o fantasma solitário.
Vagueia por aí e a nenhum lugar pertence.
Desconhece-se.
Mas já nem tempo tem para se dar a conhecer a ele mesmo.
O fantasma prefere ouvir os outros em sofrimento constante e apoiá-los.
O fantasma tenta resolver os problemas insolucionáveis que existem por onde deambula.
Mas raros são os que ouvem o fantasma.
E, por isso, o fantasma ouve-se a si e fala consigo.
Desabafa consigo, estima-se, apoia-se, chora-se, abraça-se e esconde-se dele mesmo.
O fantasma é quase como dois fantasmas.
Um que é uma matéria viva e outra que é o seu psicológico.
Têm vivido demais a vida.
Têm-se emocionado demasiado e têm falado pouco.
Não compreendem o por quê de tudo isto.
O fantasma psicológico bate-se, esfola-se, mutila-se por dentro por saber que não conseguiu ver aquilo que todos os que não lhe importavam tanto lhe diziam. Ouviu quem estimava. Talvez por estimar essa pessoa estimaria mais se tivesse ouvido de tudo um pouco. Uma vez que o Fortunato dessa estima toda não estava consciente daquele acto. E agora que é tarde demais está.
Ambos os fantasmas se culpam de não ter percebido isso antes.
Mas também agora é inútil qualquer coisa fazerem.
Certo é que estão a sofrer demasiadas pessoas e por muito que os fantasmas se desculpem, não podem mudar nada.
Os fantasmas estão diferentes segundo parece.
Podem estar porque eles estão abatidos.
E se calhar muitas almas sem cor não queriam ser os fantasmas e nem pensar como eles e nem chorar e nem ouvir e nem ver aquilo que ouvem e vêem.
Os fantasmas incompreendidos vão deixando de falar a este mundo terreno.
Serão os piores oradores, mas continuarão a ser sempre os melhores ouvintes.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Medo de mim

Medo.
Medo tenho eu de mim.
Afastar-me.
Afastar-me é tudo o que quero.
Fugir.
Fugir daqui para um lugar desconhecido.
Desaparecer.
Desaparecer antes que alguém saia ferido.
Exilar-me.
Exilar-me é tu o que me resta.
Esconder-me.
Esconder-me de quem eu gosto, para que nenhum mal o meu eu de agora lhes faça.
Lembrar.
Lembrar é tudo o que posso fazer para não os esquecer.
Morrer.
Morrer posso eu querer, mas não é coisa que vá fazer, porque ainda me respeito.
Adormecer.
Adormecer o meu querer, a minha vontade e, sem isso, reviver.
Reviver.
Reviver é tudo o que preciso, num lugar a que eu chame o meu exílio, onde me possa
esconder para não magoar quem eu ainda estimo e para que deles sempre me lembre. E desaparecer sem deixar rasto, deixando em vez disso lembrança. Esquecendo a esperança e aguardando por um nada que é um tempo que me vai levando...
Imagem: Criada por mim. Tem com cores com que agora me identifico.

Peça do puzzle


Sou uma peça que não encaixa no puzzle da minha vida.
Tudo parece se organizar sem mim. E por mais que me esforce, por mais que me tente encaixar, a minha peça simplesmente não cabe neste puzzle.
Não é de lá. Não é aqui que pertence.
Ando, penso em mim, sinto o vento, mas não me sinto viva aqui.
Tudo para mim é estranho, não conheço nada. Neste lugar, eu sou estrangeira.
Cada vez mais me abraço a mim e só a mim no meu mundo que não sei qual é, e me afasto daqueles de quem gosto.
Começo a libertar-me deste lugar, desde puzzle que não é meu.
Não sei afinal de onde vim, nem sei onde é que eu pertenço.
Talvez se a minha vida me dissesse, eu soubesse.
Mas eu nem sei que vida é a minha.
Sei que numa deambulo... e sem direcção, caminho...
Despegada de qualquer coisa que me mantenha cá.
Sinto-me cada vez mais distante, e não sei que mais possa fazer para me sentir de novo eu.
Perdi-me.
Ando desencontrada comigo.
Não sei quem sou, nem onde estou. Eu não sei de nada.
Sinto-me sempre sozinha. E sinto-me melhor quando estou (só) eu na rua.
Quase mesmo sem lugar, sendo só com o vento e com mais ninguém.
Nestas alturas, não estou bem em lado nenhum, porque não estou bem comigo.
Sou uma peça perdida que não encaixa no puzzle da minha vida...
Eu bem procuro à noite um sinal de mim,
E espero à noite por quem eu me esqueci.
Peço à noite um sinal de mim,
Por quem eu me esqueci...

Passado Presente


Olhar um passado e desconhecer essa sensação,
Não relembrar nenhum momento feliz
Quando na realidade,
Em momento algum realmente o fui.

Apagar memórias que não consigo esquecer,
E sofrer por ainda com elas viver,
É fazer com que eu não esteja comigo
A viver o presente que vivo.

Vivo mais um passado que nunca esqueço,
Que temo e que não o consigo deixar,
É a minha sombra,
E sempre sempre eu dele me lembro.

Talvez esta tortura um dia acabe,
Talvez nessa altura quando eu sorrir eu seja feliz,
Ou talvez essa altura chegue,
E seja na realidade tarde demais para a viver.


Fotografia: Tirada do Google... as pegadas são aquilo que deixamos para trás e que marcam um caminho que nós já percorremos. Ainda que elas depois sejam apagadas, nós sabemos que elas ainda lá estão. Porque aquele foi o nosso Passado...


P.S.: o primeiro poema que aqui postei. Este poema e o texto anterior já foram feitos há algum tempo. Fiz outros posteriores, mas como gosto de os postar por ordem hoje vai tudo seguidinho :P




Quem sou?


Afinal quem sou?
O que sou?
Estas questões atormentam-me mais que qualquer outra coisa, mais do que alguma vez me atormentaram.
Cada vez mais tenho medo de mim, medo do que sou.
Sinto que só longe de mim os outros viveriam bem, sem me terem por perto a magoá-los.
Não sei se faço bem ou mal as coisas. Não quero magoar ninguém e acabo sempre por magoar.
Talvez o melhor para eles seja viver longe de mim. Bem longe desta pobre criatura inconsciente que inconscientemente só magoa.
Pode parecer um pensamento estúpido, e quando me tento ter o pensamento do outro chamo-me repetidas vezes ridícula! Mas é o que eu sinto, e só me sinto melhor se eu o confessar a mim a escrever.
Desta vez, vou guardar isto para mim, vou pensar comigo e não vou confessar a ninguém o que sinto, senão a mim. Começo a parecer trágico-dramática para os outros e não quero. Mas preciso de o fazer para mim.
Por mais que me ajudem e eu agradeço, ninguém sabe como me sinto, nem como penso e nem mesmo o que penso de mim. Logo, ninguém me pode compreender, nem eu mesma o consigo fazer.
Não sei explicar as minhas acções, e tenho raiva de muitas delas.
Não sei se não sei no que me transformei, ou se o problema é nunca ter pensado sobre quem sou.
Parece que a palavra que mais escrevo é não sei em qualquer um dos textos. Não sei, nunca sei de nada. E, por vezes, não sei se o melhor era como estava, ou se agora... que penso como estou.
Pessoa tem razão... pensar dói!
Não sei, não sei, não sei, não sei, não se, não sei, NÃO SEI !
NÃO ME CONHEÇO!
ESTRANHO-ME!
Olho-me ao espelho e não me vejo!
Olho-me e tenho horror a mim!
Olho-me e desprezo-me!
Olho-me e não me preocupo comigo!
Olho-me e desinteresso-me por mim!
Olho-me e sou ignorante ao ponto de nem de mim saber!
Olho-me e choro!
“Desolho-me” e sorriu!
Transpareço uma alegria, que na realidade nada mais é que o esconderijo de uma menina que sofre...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Erro


Presa no pensamento, reflicto sobre um erro. Erro esse que não sei se é meu, se Doutros.
Talvez seja meu, dado que acabo sempre por dar razão aos Outros pois vem-se sempre a comprovar tudo o que dizem. Se é porque faço tudo em cima da hora, talvez, ou porque não me organizo, ou porque sai, ou porque um bilião de coisas. Eu já não sei. Já não sei de nada.
E não quero pensar e quero! Não quero pensar aqui, com a mente constantemente influenciada pelos Outros! Quero fugir para um lugar e sentir-me a mim e só a mim!
E talvez lá eu encontre as minhas certezas, aquelas pelas quais tanto eu procuro.
E talvez lá eu seja feliz.
Eu pensava que não errava, pelo menos numa situação assim. Agora.. agora penso que sim.
Errei hoje! E é-me estritamente proibido fazê-lo.
Errei e sei já o que depois desse erro se sucede.
Sei-o bem.
Que se lhe chame previsão ou qualquer outra coisa. Eu cá, chamo-lhe experiência.
Não é a primeira vez que tal me acontece e nem há-de ser a última! Sei que só a mim me prejudiquei.
E se eu pudesse... ai se eu pudesse fazer tudo de novo! Certinho como confiava e pensava que ia fazer! Se eu pudesse... ai se eu pudesse... era isso mesmo que fazia !
Diz-se que só com os erros se aprende, no entanto não sei se o mesmo se aplica neste caso.
Quando se erra mais do que uma vez, talvez já não se trate de uma aprendizagem, talvez o erro aí, nessa mesma situação, seja da pessoa.
Assim, tenho que dar a taça à pessoa que nunca qualquer apoio me deu, que nunca acreditou em mim, nem me deixou acreditar! E que é do meu sangue por raiva minha!
Talvez o que eu pensava estar a fazer bem, não estava. E talvez a pessoa tenha razão afinal... Sou eu sou culpada.
Sou culpada porque um bilião de coisas. Sou sempre de alguma coisa e sempre serei.
Estou condenada a errar.
Talvez se um dia acertar, erre, pelo simples facto de estar obcecada com o erro.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Felicidade?


Às vezes não sei que pensar... Se sou sol, se sou terra ou ar.
Flores, montes, árvores ou nada.
Sei que sou eu, mas não sei ao certo quem.
Quero saber algo que me invade a cabeça mesmo contra a minha vontade.
Confunde-me!
Transmite-me pensamentos negativos, inícios de tristezas e consequentemente depressões.
Como evitá-los?
Às vezes esforço-me para que tal aconteça.
Mas nisto invadem-me outros pensamentos que também contra a minha vontade me questionam que se de nada de mal tem pensar assim de quando em vez, sendo mais possessiva, porquê estar sempre a tentar evitar?
Para ficar melhor...
Mas e se fico... Valerá a pena?
Ficarei mesmo?
Não estará assim o interesse do sol a mudar o seu raio que em mim tem incidido?
Não sei.
E não quero também que isso seja.
Tudo isto me confunde.
E é por isto que, por vezes, me controlo e por vezes não.
Porque temos ambos os lados.
Ambos me mostram visões negativas... às quais não tenciono aderir.
A verdade é que parece que não posso estar feliz na minha
totalidade. Eu tenho consciência disso. É por isso sofro. Sofro por pensar. Como já Pessoa dizia.
Então o meu mal talvez seja pensar. E não pensar meu mal é.
Então eu estou mesmo condicionada à minha reles infelicidade que, por vezes, se desvanece em curtos momento de felicidade que vão surgindo.
São tudo o que tenho.
São momentos de certezas, de confiança nos outros, em mim.. na vida !
São-me muito importantes.
Fazem-me saber quem sou.
E que sou eu.
Assim como sou... eu !
E no espaço compreendido entre o ir e o voltar dos mesmos eu penso e confundo-me, com ideias contraditórias e cépticas até!
Sinto a Verdade a escapar-me pelas minhas maus frias, nuas e cruas, apanhá-la impossível é.
É, portanto, é frustante vê-la a caminhar sem dono.
Quando todos a queremos ter, mas que Felizmente, ninguém tem!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Luzes de Mim


Não sei se foi o clarear do dia se o sol da manhã que me afectou positivamente e deu-me força para sorrir. Aquele sorriso tão profundo que há muito não mostrava. Aquele sorriso que é sincero. Aquele que aparece quando tem de aparecer.
A mim apareceu-me hoje do nada, quando deambulava pela rua ainda pouco movimentada. Aquela luz forte do sol da manhã incidia sobre mim, mas nem a isso liguei.
No meu pensamento apenas persistiam ideias boas, memórias que me faziam quase chorar de alegria.
Hoje eu estava feliz.
Não feliz por ser hoje, mas por me lembrar do quanto eu sou feliz. E ri. Ri e quase que chorei de felicidade, do nada. Sem ninguém por perto... a minha música era a minha única companheira.
Eu e ela juntas ali. Como se nada existisse. Sentindo falta de todos os que me completam querendo gritar “AQUI EU SOU FELIZ“ pular de felicidade e abraçar a vida, beijá-la no seu rosto frio e morno que tem.
Era eu. Era eu por estar a passar uma boa fase talvez.
Talvez porque depois da tempestade o sol sorri.
Talvez pela minha vida ter voltado à cor que tinha anteriormente... talvez por ver felizes aqueles que eu preciso mesmo de ver assim para que me sinta com eles da mesma forma.
Era eu.
Era eu, que há tanto tempo não era. Aposto que se me vissem me estranhavam. E quem me viu.. ela viu.. e sabe o quanto eu a apertei nos braços, o quanto foi importante para mim ver o sorriso dela..
Também tão sincero, e também tão verdadeiro.
Estava como ao meu.
Eu era eu.
Ela era ela.
A peça talvez que faltava completou o meu puzzle. Ou uma parte dele..
E os outros que ainda não sabem, mas que se apercebem de como estou ficam felizes por mim, e isso... sentir que alguém fica feliz por nós estarmos felizes é como já dizia alguém que estimo “bigger than life” :D
Não sei bem definir o meu estado espírito senão qualificá-lo com adjectivos maravilhosos.
Pode não ser um bom texto, mas era o que eu precisava mesmo para descarregar toda esta alegria. Pois não quero apenas postar momentos maus da minha vida.
Sinto-me tão livre... Sou tão eu !
Tão EU !
As saudades que tenho de alguém que me é tão próximo e que me está tão distante apertam e apertam !
E esta ansiedade por mostrar o quanto feliz estou arrrghhh está difícil de conseguir fazê-lo. No entanto, penso que esta alegria veio para ficar pelo menos algum tempo.
Quero mostrar de novo esta Ana alegre que há dentro de mim. E que.. NÃO MORREU ! ELA NÃO MORREU !
Já tinha saudades dela.
Já tinha saudades de me sentir assim.

Eu tinha saudades de mim...


Agradecimentos:
· Mãe;
· Klodi;
· Tiago;
· Profª Isabel Santiago;
· Mana.

AMO-VOS !


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Um Mero Jogo de Tabuleiro


Já não sei viver a minha vida.
Já não sei jogar na minha vida.
De repente, o meu jogo de tabuleiro começou a ser todo jogado de novo.
Novas posições para os peões, novas para os cavalos, torres, bispos e principalmente para o Rei e para a Rainha.
Esta decisão foi a decisão do poder máximo. Ninguém mais deve regateá-la. É assunto deles.
No início deste 2º jogo, tudo parecia calmo e sereno, a vitória quase que era garantida.
Mas agora... agora que houve peças que já foram jogadas, e peões que já foram perdidos... agora a vitória não está à vista. Os cavalos não sossegam nas suas posições, mas os bispos pedem benevolência. As torres estão ainda um pouca à tona daquela confusão toda, contudo vão sendo as peças mais jogadas e felizmente, até agora, foram sempre bem sucedidas. Se elas pensam também como as outras peças, não importa, importa é que joguem e que vençam !
A torre é uma peça importante. Esta faz parte do castelo do Rei e, desde sempre foi uma técnica de protecção do castelo. As torres deste jogo, são torres vigia que ainda regem grande parte da sua acção com a moral que lhes foi outrora ensinada. Mas não toda !
Elas não falam, mas pensam no silêncio e assistem ao jogo no primeiro balcão. São o elo de ligação entre a Rainha e o Rei.
A Rainha não fala ao Rei nem o Rei à Rainha. Ambos dependem um do outro e dependem das torres também. Todavia, estão tão compenetrados em saírem ambos vitoriosos daquele jogo, um numa posição melhor que o outro, que se esquecem um pouco das torres, que estão lá sempre, aguardando ordens. Nem sempre mal, nem sempre bem... mas estão!
Os bispos vão ficando velhos e querem apenas paz entre Rei e da Rainha e do adversário incógnito que também joga.
Estes bispos são quem muitas das vezes os acolhe e, como têm a vantagem de ter mais idade, ensinam-lhes as técnicas mais adequadas para prosseguir o jogo de cabeça erguida. Existem quatro bispos neste jogo. Dois mais próximos da Rainha, dois mais próximos do Rei. Os bispos apesar de todo o desequilíbrio em que agora o jogo se encontra, falam-se.
Falam com todas as peças, menos com os cavalos.
Os cavalos exuberantes, tentam exibir uma superioridade em relação ao Rei e à Rainha que não têm. Fingem-se parceiros de ambos encurralando-os aos dois, cada um a seu tempo.
Os cavalos agora não falam com a Rainha, pois esta cansou-se de sorrisos falsos e pretende ser verdadeira.
Ela é uma Rainha belíssima, sorridente, simpática para todos os seus súbditos. No entanto, desde há umas jogadas para cá, que tem agido de uma forma fora do habitual. Tem-se mostrado fria, antipática. A luz que irradiava aquela peça branca que sobressaía mais que todas as outras peças do jogo, apagou-se. Ficou uma peça cinzenta, abatida que já não tem vontade de continuar este segundo jogo. Não desabafa com as torres, fala-lhes do essencial e quando precisa de contactar o rei, põe-nas em jogo. As torres sentem a falta da outra Rainha. Todos sentem e reclamam deste novo estado, mas até à data, ainda ninguém jogou de forma a mudar esta situação.
O Rei culpa a Rainha daquela jogada em falso que os fez retomar o jogo do início. Não é antipático como era, ou pelo menos com todas as peças. Parece diferente ou faz-se de diferente, pois no fundo as torres sabem que nada nele mudou.
Continua o mesmo. Dedicado ao jogo como sempre foi. Engenhando truques, jogadas para vencer. O Rei sempre desperdiçou pouco tempo para a rainha e muito menos para a protecção do castelo.
As torres só se lembram que quando tentavam invadir o palácio, apesar de não conseguirem, era provável que acontecesse pois precisavam de ser reconstruídas. Contudo, a culpa era sempre delas, quando o Rei dispunha de um bom material para reconstrução.
Ele não fala a dois bispos nem a alguns peões, mas é a única peça que fala aos cavalos raivosos. E fala porquê ? Porque tal como eles julgam que o enganam, ele julga também que os engana a eles. Jogam portanto neste mundo de aparências, onde o parecer toma o lugar do ser.
Os peões são as peças do jogo que nem são cá nem perdidas nem achadas. Até são, ou eram.. pelo menos antes, quando nem o Rei estava chateado com a Rainha, nem a Rainha com o Rei. Agora... vem-se obrigados ou a jogar de acordo com as ordens dos seus superiores, ou apenas deixam-se perder.
Os peões já não sabem que mais fazer... Não sabem se hão-de jogar se não.
Querem que tudo acabe, como todas as peças querem, mas a única coisa que até agora foi constante foram os ponteiros do relógio, que com a sua musicalidade à base de tic tac’s, acompanham fielmente o jogo...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Criança


As ruas estão abertas e o meu olhar está perdido. Uma criança escondida espreita com aqueles seus grandes olhos lacrimejantes e observa-me por dentro. Toca no meu eu interior e faz-me reviver o passado, tornando-o, assim, presente.
Ela tem um sorrisinho tímido que, por vezes, com dificuldade o deixa escapar, mas ela nada mais é do que uma criança desamparada, sem alguém que lhe limpe a lágrima que lhe escorre pelo rosto.
Ela, que me observa quando o meu olhar se perde, é quem me atormenta nos sonhos e me faz reviver um passado menos feliz.
É como um espelho que reproduz fielmente a imagem reflectida e mostra-ma de forma aterradora.
Quando ela aparece, eu não sei. Apanha-me de surpresa e envolve-me num ambiente único de memórias recentes misturadas com passadas e nunca, mas nunca felizes. As felizes são nesses momentos esquecidas, postas de parte. Talvez as recorde noutras ocasiões, mas para que possam com os seus braços de ferro lutar contra as infelizes, para que melhorem o meu estado espírito...isso não!
Ouvindo uma música calma e pensativa, relembro, choro e escrevo. Porque é nestas alturas que me sinto inspirada e não há criança mais curiosa que me causa um efeito igual. Tão penetrante... E, de repente, tudo deixa de existir. Deixo de ser importante para todos e, até, para mim. Sou então um ninguém sem nome. E escrevo.
Escrevo linhas, componho frases, completo ideias, formulo pensamentos e obtenho resultados escandalosos.
Que mente tão malévola esta!
Que possui uma habilidade de génio para ser negativista. Para hiperbolizar tudo e desfazer esse tudo num nada.
E como o vento leva o pó leva a criança a minha alegria. Leva-me a alma sem dono, fazendo-me sentir vazia.
Ela está numa ruela bem estreita e escura. Está sozinha. Veio apenas para me atormentar com as suas histórias. Histórias irreais... queria eu. Antes fossem! Ela sabe que não quero recordar, no entanto, obriga-me a fazê-lo. Diz que tenho que abrir tanto os braços ao passado como abro ao futuro. E pensar nele com o mesmo positivismo.
Ansiá-lo, querê-lo de volta... todo ele. Mas não quero, não quero aquilo que não me trouxe felicidade.
Não quero ressuscitar qualquer palavra que foi para mim uma faca bem afiada.
Quero abandonar esse tipo de pensamento e sofrer. Aguardar pelo fim se o há.
A criança malévola não se vai embora, quer-me ver sofrer.
Alimenta-se disso. Eu deixo, deixo que ela leve tudo de mim. Deixo de pensar que existo... Deixo de pensar em mim...

E num outro dia, perco meu olhar num baloiço.
A minha querida criança vem-me visitar, sorrindo... sorrindo por me ver!
Pega-me na mão direita, aponta-a para o céu e com as suas dóceis palavras diz-me: “O céu é infinito. Tal como todos os teus sonhos o são. O meu céu não tem limites e o teu... o teu também não.”
Tal como uma criança que ainda é, desapareceu cantarolando. E eu ali parada fiquei. Olhei de novo para o céu. E, envolvida naquela variedade de cores e de luz que me encandeava, vejo esse infinito. Obsrevo-o e vejo que, depois de uma enorme tempestade, o sol exuberante vem mostrar toda a sua grandeza. Afasta todos os medos e espalha alegria, mesmo onde parece que já não a há.
Sorri.
E quando dei por mim, apercebi-me que nenhuma tristeza eu sentia naquele momento, estava como que extasiada por toda aquela luz toda. Que, repentinamente, trouxe todas as esperanças e a minha cabeça fechada na solidão, expandiu-se!
“Desperto” do meu outro mundo e prossigo o meu caminho de regresso a casa.
Mas havia algo que ecoava constantemente dentro de mim, da minha cabeça. Todas as minhas esperanças que regressaram, transformaram um Tudo num Possível, onde o Impossível não tem lugar. E, por isso, eu não consegui esconder toda essa minha felicidade por estar ali naquele momento, por estar viva. E repetidas vezes disse para mim mesma: “Eu sou capaz!”

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sem nome



Às vezes quero mudar de nome. Quero olhar em volta e não ser eu.
Este meu nome que me acompanha desde sempre, que é símbolo da minha identidade. Este meu nome que me diz quem sou... às vezes era tão melhor não dizer...
Quero ser eu e não quero.
Não quero ter imperfeições, não gosto que mas apontem. Quero ser perfeita e não quero. Não acredito que haja alguém perfeito, mas sim que haja uma ideia de perfeição idealizada por nós, seres pensantes.
Estas contrariedades atormentam o meu pensamento e há dias em que não as aguento. É nessas alturas que prefiro não ter nome.
Passar pela multidão, ser todos e não ser ninguém.
É necessitar de passar pela rua sem encontrar uma cara conhecida. É ansiar por estar num lugar distante de todos os que nos ligam a este lugar onde vivemos e, aos desconhecidos... a esses, seria apenas indiferente.
Parece estranho pensar desta forma que eu julgo que não é a mais correcta. E continuo a pensar que não é. Mas por outro lado, parece que preciso de me sentir assim... preciso de ficar triste e de pensar na vida para que as ideias fluam naturalmente como dantes.
Como escrevi no texto anterior, são os outros que nos dizem quem somos, e nós apenas vivemos com essa ideia e com uma outra mais pequena que é a que nós temos de nós próprios. Assim sendo, as palavras que os outros nos dizem magoam-nos muito mais que as nossas a nós mesmos. E, por isso, apesar de tentarmos combater essas palavras tentando sempre encontrar exemplos de experiências que já vivemos que comprovem a falsidade de tais juízos, às vezes a força é algo que nos escapa. Acabando assim, por não lutar por nós. Entregando de forma cobarde e cobrindo o rosto de lágrimas, a razão de mão beijada aos outros.
Mostramos a parte fraca e desejamos não ser ninguém. Desejamos nem nome ter. Esse que nos caracteriza e que nos diz que somos alguém mesmo quando não queremos ser.
Sabemos que não é isso que realmente pensamos em que queremos, mas sim o que nos “apetece”. Estes “apetites” revelam que nem sempre somos suficientemente fortes para pensarmos exclusivamente com a cabeça ou mais com ela, mas sim que pensamos, nestas alturas, muito mais com os sentimentos. O nosso pensar funciona apenas em função daquilo que sentimos, procurando episódios da nossa vida que justifiquem tais sentimentos.
E nós nunca, mas nunca quando estamos quase que estagnados no tempo, invadidos unicamente por ideias negativas, pensamos primeiro se estamos a pensar bem ou mal, se é certo ou errado aquilo que pensamos. Ou se pensamos, não queremos pensá-lo pois por vezes precisamos de nos sentir angustiados, tristes e indiferentes à vida.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Ideias vagas, pensamentos expostos



Há dias em que penso em mim, mas não só em mim. Na minha relação com a vida, com tudo o que me rodeia. E sinto-me miseravelmente pequena.
Olho em volta como se fosse outro a olhar-me. Outro que não eu.
Olho em volta e tudo parece tão complexo, tão difícil que tenho vontade de desistir e dizer que não consigo. Mas só o facto de ali estar me atormenta. Ali, no meio de tanta gente. A outra pessoa que me observa não me distingue dos outros. O observador apenas sabe que não quer ser como nós, porque pensa que não conseguiria viver assim.
Penso que por vezes olhamos para os outros e pensamos que não conseguiríamos viver daquela maneira, mas quem disse que a nossa maneira era fácil?
O próprio observador desconhece a complexidade da sua própria vida. E, por isso, considera a sua mais simples, mesmo tendo tantos problemas, menos ou mais que os outros.
Nós, humanos, temos muito este hábito de não "olhar para o nosso umbigo", mas para o do vizinho. Sensibilizando-nos com os problemas de outra gente e disponibilizando-nos para a ajudar. Assim, fechamos muitas das vezes os olhos para os problemas que começam no nosso seio familiar e tentamos, em vez de arranjar soluções, desculparmo-nos. Algo que é bastante comum neste mundo fútil e interessado (não nos outros, em si e no seu bem-estar).
Penso e quero continuar a pensar que certos e determinados seres pensantes fogem a essa regra, ou quebram-na, mas apenas à tona. Isto é, não é pelo facto de nem sempre ajudarmos em campanhas que ajudam os necessitados, por exemplo, que vamos passar a ser desinteressados em relação aos seus problemas. Não, porque não somos. Ou nem todos são. Apenas uns não podem, outros não têm tempo, entre tantas outras desculpas que arranjamos e que se pensarmos bem nelas, afinal têm pés e cabeças. Têm, e porquê?
Porque dependemos das nossas desculpas, sejam elas verdadeiras desculpas, coisas que não podemos ou conseguimos contornar; ou desculpas no sentido que geralmente utilizamos, no sentido de pretexto para não fazermos algo de que não temos vontade, ficando sempre cima. (SALVO SEJA !)
Como este, encontramos vários assuntos/problemas que nos fazem pensar e repensar certas atitudes que tomamos e, ao tentar justificá-las, tentamos de certa forma, conhecer-nos. Descobrir o que somos sem ser apenas pelo que os outros dizem que somos, tentando ter uma opinião formada a nosso respeito minimamente coerente.
Eu pelo menos sou assim. E, inúmeras vezes tento por-me na posição de outro que não eu e ser o observador desconhecido que apenas visiona a minha vida como tantas outras. Sensível aos meus problemas, mas não aos dele... E então questiono-me sobre quem é que eu sou? Como sou? Porque eu quero saber, quero descobrir! Mesmo que por um lado pense que os meus juízos de mim nunca serão os mais acertados... Isto porque, infelizmente, (e isto é um mal geral) todos sabemos que temos defeitos, uma vez que não há ninguém perfeito, mas o problema está em que ninguém aceita os defeitos que tem ou todos os que tem. Não conheço ninguém que aceite, mesmo que diga que sim e que se mentalize que sim, a pessoa nunca aceita todos os seus defeitos porque há-de haver sempre aqueles com que não concorda e, por isso, é que por vezes toma as atitudes que toma. O que quero dizer com isto tudo é que eu nem sempre me sei definir e, tal como tantos outros, arranjo forma de o tentar fazer, nem que seja só para me contentar com essa definição por mim encontrada. O que é certo, é que tal como tenho dito ao longo do texto e continuo a insistir nesta ideia, é que eu não me sei definir a mim, por todas as razões que já apresentei, mas eu sei definir os outros! E é essa minha definição, juntamente com muitas outras mais, que o outro vive, contentando-se com o pouco que conhece de si, sendo grande parte desse conhecimento, o meu conhecimento dele.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O início


Não sei como começar, não sei o que escrever...
Há tanta coisa para dizer... Enfim, que se comece pelo princípio.
Ora bem eu sou a Ana Sofia e tenho 17 anos. Resolvi criar agora um blog apenas meu, mas com outros momentos da minha vida, descritos com texto e fotos q tiro ou gosto.
O título do blog sintetiza isso mesmo. Uma fotografia é como um abrir e um fechar de olhos. Pois a nossa mente é também ela uma máquina fotográfica das nossas memórias. Estas são fotografias.
Quanto ao link... É verdade, escolhi a palavra refúgio porque muitas vezes quando estou mais triste recorro à escrita como desabafo. Desta vez, pensei em publicar os meus desabafos.
O texto que quero postar hoje não tem a ver com o título, mas com a forma como me senti...
Hoje acordei e lembrei-me do sentimento triste que me deixou sem reacção ontem. Lembrei-me das palavras, recordei o passado, senti-me só.
Mas depois esqueci a mágoa e caminhei em frente.
Mas como é que eu posso avançar no meu caminho se em cada passo que dou caio e não encontro ninguém para me ajudar a levantar?
Esta foi a questão sobre a qual me debrucei neste final de tarde.
A minha vida mudou, mudou completamente. A princípio, eu não notei a diferença, não me preocupei tanto comigo. Contudo, agora não consigo deixar de ir abaixo facilmente sempre que me dizem algo que penso não ser o correcto.
Vários acontecimentos importantes se sucederam e a minha vida deu uma volta de 180º.
Alguns deles fiquei feliz por terem acontecido, dos restantes apenas me quero afastar.
Este meu lado sentimental ganhou mais força, e deita-me abaixo por coisas para as quais já nem eu tenho explicação.
Parece que fiquei mais stressada com tudo.
No que me tornei?
Nem eu sei. Pensava ser igual a mim, mas dizem-me que não sou. Quem sou eu afinal?
Dia após dia tento responder a esta pergunta.
Não é que não saiba quem sou, o que quero da vida, porque isso eu sei! No entanto, quero saber mais de mim.
Isto porque às vezes já não sei se sou eu que estou errada, ou se são os outros. Já não sei definir a minha personalidade porque se defendo a minha posição, dizem que assumo uma atitude dogmática, se não defendo, eu própria não me sinto "realizada".
O problema é que penso demais nas coisas. Em tudo. Mas não o consigo evitar. E, como tudo, também tem as suas virtudes e defeitos.
A verdade é que hoje não me senti nada bem. E quando pensei receber apoio recebi, mas depois desvanesceu-se e a melancolia voltou.
Os meus olhos molhados viam um só momento. Senti-me desamparada. Comecei a pensar em todas as minhas tristezas, nas minhas "crises" em pequena e tudo ficou como que num miscelândia de memórias tristes.
Pensei estar só. A rua parecia o meu lugar. Eu naquele momento era a noite, entreguei-me a ela. E se não a receasse tanto, teria nela continuado e atrasado o percurso até casa.
Sentia-me para além de esmagada por todos, sentia-me consumida. Parecia que nenhuma memória positiva eu conseguia evocar. Quanto mais progredia passo-a-passo, mas atrasada eu queria ficar. Lacrimejando e ridicularizando esta minha fraca figura, pois a meu ver, ninguém me entenderia..
A noite, escura por si só, escurecia-me.
Preparada já para quebrar a minha ligação com a noite, bati à porta e vi um rasgo que luz inesperado que a princípio me assustou, mas que depois me foi a borracha que me tirou a expressão pálida e que me devolveu o meu sorriso que a luz me gaba.
Eu não consigo explicar, eu penso que num curto espaço de três meses nunca senti tantas emoções e nunca tracei a minha vida dependendo de alguém, dependendo do futuro que queremos passar com ela.
Se por um lado pensei que estava sozinha neste mundo e a ideia de poder fugir para bem longe me seduziu, por outro, ao reencontrar a última pessoa que eu imaginava que ali estivesse para apaziguar tudo, estava ali, à minha frente, de carne e osso, pronta para me receber de braços abertos com um amor infindo que foi retribuído.
Nesse preciso momento tão arrebatador não foram quase precisas palavras, pois as atitudes por si só falaram.
O receio de estar só no mundo evaporou-se e senti de novo que pelo menos havia alguém que se preocupava comigo. Não que outros não se preocupem, mas neste momento ninguém se deu conta. E isso vale muito para mim.
Eu tento estar lá para os outros e compreendo que às vezes por estarem mal, não me conseguem pôr bem, mas isso põe-me triste e como que ao abandono...
Felizmente vi que não era a Multidão, era Uma e não mais uma. Afinal sou importante para alguém, afinal estou viva...
A foto que tirei à vista do Tejo é uma das minha preferidas por causa das cores. Pensei que posso ligar com o meu texto na medida em que eu sou um barco que andou perdido à deriva no mar, mas que conseguiu chegar ao destino.
Para Tiago Soares:
Hoje foste como a luz ao fim do túnel, como escrevi. Não esperava tal recepção, esperava que esta noite não nos falássemos e ficássemos chateados durante algum tempo.
A tua atitude foi louvável porque tu também não estavas bem.
Apenas quero que tenhas consciência de que a minha intenção não foi mentir-te ou esconder-te algo, mas poupar-nos de um momento menos bom e muito mais ao telefone. (sabes que eu prefiro cara-a-cara)
Enfim, quero dizer-te com todas as letras que te AMO INCOMENSURAVELMENTE ! ! E que és essencial para o meu bom funcionamento. Não estou bem quando tu não estás, és parte de mim. E quero que continues a sê-lo durante muito muito tempo. @@@
Para Klodi:
Eu sei que notaste que estava diferente na aula, mas não consegui falar. Tudo me magoava, só me apetecia sair dali e não pensar mais no assunto, mas como é óbvio, não consegui. Quero que saibas que apesar de tudo continuo a amo-te vué mana, e nunca vou deixar de te apoiar quando tu precisas porque tu tbm já fazes parte de mim, tornaste-te a minha consciência, fizeste-me ver o mundo com outros olhos e tu sabes disso.Sabes aquelas amizades com montões de anos?
Eu quero que a nossa seja assim. E que quando formos velhas caquécticas (não sei se está bem escrito) que nos lembremos de todos os nossos momentos, nomeadamente do grande momento no Algarve que nos nomeou de Anjas. :]
Enfim.. espero que recuperes da tua dor depressa antes que seja tarde demais e que depois não consigas já controlar. Smp aqui para ti @@@