sábado, 20 de março de 2010

Quando danço porque sou?


Porque sou? Porque gosto? Porque sinto e me apaixono mais e mais por cada passo, por cada dança, por cada gesto, por cada som que flui, que me guia e guarda e me sente e é?
Que se racionalize a emoção de cada bailado porque cada passo é forte e hirto e é belo e adorado, é limpo, é intocável, é puro é…
Vou dançar. Mas porque danço?
Danço porque sinto, porque me sinto. Porque voo. Danço porque a dançar me sou. Danço porque me evaporo e de tudo me esqueço. Danço porque me entrego a cada dança. Danço porque me comovo, danço sobretudo porque sinto que se não dançar morro.
E de tudo me desfaço e neste mundo já não moro. É celeste mas não é céu, é imaterial e ninguém conhece. Partilho-o com tanta gente e com gente nenhuma.
Sei de cor cada sentimento. Ainda que a técnica me falte trago ao peito a alegria e a dor. Sei de cor este meu amor, deixem-me enamorar, deixem-me para sempre dançar.

P.S.: Fotografia de Nelson Martins.

sábado, 6 de março de 2010

Fui-me

Sou criança. Caminho agora tão perdida. Não há qualquer corda lançada para me salvar desta lava ardente, desta vida com perfume decadente.
Fecho-me dentro da minha caixa e da sua chave me desfiz. Continuo, contudo, desprotegida, sozinha e não sentida.
Nada faz sentido e desta vez não me quero sequer reencontrar.
Só quero fechar os olhos para nunca mais abrir. Quero-o tão intensamente e não consigo conceder-me esse desejo. Deixo cair cacos meus e não procuro juntá-los. De nada valem.
O sempre. Dói-me tanto. Quero arrancar o coração. Deixem-me arrancá-lo!
O mundo está todo corrompido e eu nele não consigo coexistir. Os meus valores diferem dos da multidão,  eu enrolo-me cada vez mais dentro do meu casulo e ainda assim conseguem atingir-me! Aquelas espadas são capazes de tudo e eu capaz de nada.
Devia desfazer-me do meu amor se o amor não me consegue amar. Ironia do vocábulo.
Triste pessoa. Ri-te. Rio-me.
Fui-me. Agora só quero morrer.