sábado, 24 de maio de 2008

Congelei o meu sorriso

E finalmente falei.
Disse tudo o que já nem sabia que tinha pensado. Senti-me bem comigo mesma, decidi mudar o errado de mim. Concordei controlar-me, concordei dominar-me, e a afirmar quem sou, tendo em conta a outra pessoa.
E é verdade, fi-lo mesmo, numa altura em que, apesar de a esperança ser uma constante e de dela não me conseguir desfazer, sabia que não podia mais acreditar nas palavras desejáveis que me vendia e que eu tanto queria ouvir, pensar, sentir, imaginar o impossível.
Soube conter-me, talvez não completamente, mas soube não ser tão negativa como até então tinha feito.
Acontece que tudo o que falei, disse, discuti, tudo o que senti, me magoou, te magoou, nos entristeceu, e me roubou todas as expectativas que tinha acerca de um eventual nós, deve ter-te “entrado a cem e saído a duzentos”, como bem manda um ditado popular.
Porque nem me deste tempo para me adaptar à minha mudança, e à tua supostamente, que nem reparei se realmente houve. O certo é que estou aqui, de novo, escrevendo como desabafo para evitar as lágrimas que ultimamente me têm cegado.
Depois de tudo o que se passou, continuas o mesmo. Ou melhor, não continuas, estás apenas diferente comigo, para pior.
Não sei quanto tempo mais aguento essa tua alteração na tua personalidade, ou então esse teu carácter áspero e de indiferença para comigo que desconhecia.
Pedir-te de volta é pedir de mais.
Peço antes que sejas feliz como queres, não me peças é para partilharmos essa felicidade, se não a tenho. Não me peças, nem me ofereças em palavras aquilo que eu mais anseio, não me faças mergulhar no mar de ilusão dos meus próprios desejos.


terça-feira, 20 de maio de 2008

Se alguém perguntar por mim, digam que virei costas ao mundo


Por tantas vezes que me quis expressar e conter para não chorar.
Por tantas vezes que julguei ter forte tudo que há em mim.
Por tantas vezes me enganei.
Foram vezes sem conta que eu agi irracional, absoluta e unicamente com os sentidos, deixando-os controlarem-me todos os meus gestos soltos e, diria até, sem sentido.
Pensamentos que foram, irreversivelmente, dominados por sensações que continuo a ter presentes e que me deixam contrita por dizer o que não era.
Sinto nostalgia até do simples agarrar da tua mão quente na minha mão gélida, que se tentava esconder do frio do mundo no teu calor interior.
Por tantas vez que sonhei e me iludi!
Por tantas vezes que sofri e nunca, mas nunca aprendi, a não cometer o erro de amar!
Talvez mereça todos os lugares, menos este!
E que a mais alta penitência me fosse a mim concedida, por ser tão consumidora de pecados para mim mesma!
Por tantas vezes quis matar a minha essência e ela me impediu!
Por tantas vezes que fugi de mim!
Por tantas mentiras não sentidas, por tantas palavras sinceras escondidas, por tanta coisa que não disse e que nem vou falar!
Por cada batimento do coração que já se cansa de o fazer...
Por cada segundo que, sem me aperceber, passa...
Por cada derramar de seiva minha que outros se vão alimentando e crescendo e sabendo e aprendendo a magoar, a desiludir, a matar emoções intrínsecas e genuínas, com corações feitos em pedra!
Por tantas vezes que olhei os teus olhos e me vi feliz.
Por tantas vezes que te desejei… antes tivessem essas vontades cessado de vez! E talvez assim, tudo se tornasse clarividente!
Só queria falar e por tantas vezes ser ouvida e compreendida.
Só queria que, desta vez, as saudades de te ver te fizessem abrir os olhos e não que te transformassem num ser insensível que vive, ainda, da sede da minha dor.
Há uns sonham com cavalos de madeira, fortes como o de Tróia, eu sonho em um dia fazer parte da tua vida, parte de ti.
E este é o meu grande sonho utópico.



quinta-feira, 15 de maio de 2008

Luto


Vesti luto.
O negro que há tanto tempo me apaziguava de tão tenebroso que era, assenta-me agora que nem uma luva. As coisas que me eram tão próximas são-me agora tão distantes.
Estou de luto.
Estou de luto para com a vida que se esqueceu de mim, e já nem forças tenho para não fraquejar.
Sinto-me fraca, estou fraca e sei que fui forte.
Sinto agora a chuva a bater-se-me no rosto e a confundir-se com a lágrima que estimula este meu estado espírito. Sonho com um vencer que é tanto ou ainda menos possível que o alcançar do horizonte. Desiludo-me, fico incapacitada de compreender, de ouvir, de falar, de reagir… E refugio-me no negro da alma.
Que importa quanta gente me rodeia se sinto que a mim ninguém vê, nem sente ou ouve?
Que importa falar se me cozeram a boca com pedaços de linha incolor encontrados nos confins do submundo?
De que me serve uma nova atitude, se sei que não a terei e que serei só eu em pensamento?
De que me serve lutar pela alma que já perdi, quando não sei onde ela pára, nem por onde deambula, nem sei já mais quem ela é ou foi?
Deixei-me seduzir por uma felicidade aparente e esqueci-me do sentido da vida.
Parece que ainda a sinto a escorregar-me das mãos, como se líquida fosse para que, sendo algo não palpável, nunca a pudesse agarrar.
Tentei substituir o mal por bem quando o bem era o mal e o mal o bem.
Desisti.
Contudo esta desistência não é para abdicar da vida, mas apenas para não viver com ela, mas sim lado a lado com ela, para que se não misturem.
E para nos distinguirmos eu visto luto. E assim será até eu aguardar julgamento no purgatório…


SAVE FROM THE NOTHING I’VE BECOME
BRING ME TO LIFE!

E pensar que a vida já foi tão cor-de-rosa na idade da pura inocência por não ver para além das máscaras, por não julgar ainda atitudes, por não ter ainda uma opinião sólida, concisa e determinada acerca das coisas, acerca da vida.
E, por isso, a realidade nua e crua veste um disfarce que na verdade não lhe serve, mas que nas mentalidades insípidas não há nada que lhe assente melhor.
E quando a fruta do pecado amadurece e está preparada para a qualquer momento ser colhida e comida por um pecador, é que desce dos céus do imaginário e enfrenta o único mundo existente na realidade. Mundo esse que está sempre preparado a atacar e à vanguarda, o mundo terreno.