sábado, 28 de março de 2009

Introspecção


Respira do ar que respiro (inspiro),
Das tristes ausências passadas
E partilha-te da minha alacridade.
Aquando ao mar antigas lembranças são lançadas
E mergulhadas
E, profundamente, esquecidas.

Mas que leveza esta que tanto invejei
Da qual usufruo de momento.
Talvez somente em pensamento, não sei,
Talvez somente invento
O que outrora deixei de parte.

Engrandeci-me num simples gesto,
Ou terei sido apenas uma fraca chama
Que não progride nem reclama,
Que não sabe, sequer, como se ama
E que vagueia pelo mundo triste.

É a isto que se assiste.
A ser o que não devia,
A fazer parte de uma fantasia
Que sozinha caminha e me engana,
No meio desta imensidão que se diz mundana.

A tua inteligibilidade não é, contudo, afectuosa,
Se for assim tão difícil a penetração na tua essência.
Poderias fazer-me sentir que te importa a minha ausência
Para sentir-me em menor decadência
E poder dizer que sei de mim…





P.S.: Imagem captada por mim.

domingo, 22 de março de 2009

Imortais


Podia ser-me numa palavra. E correr o mundo feita louca sem qualquer impedimento possível. A minha perpetuação seria tão clarividente que me agarraria a uma pedra qualquer e nós duas tornarmo-nos-iamos uma só, imortalizadas, indestrutíveis em pensamento.
Olharia despreocupada, solta, incontrolável, indomável, afável. Tão rica quando pensasse o quanto serias meu complemento. E por saber que só seria eu mesma se fosses a parte sem a qual eu não poderia ser a palavra que aqui exalto. Não o sendo, nada mais seria. Talvez a cinza de algo que procurou ser aquilo que os seus limites não permitiram.
“Não saberia não te ter”.
Não saberia por onde correr, nem por onde olhar e nem sequer o que ser.
“É que eu quero-te tanto. É sempre mais do que eu te sei dizer”. Tento mostrar-te por meio de vocábulos metafóricos e introspectivos aquilo que te define em mim.
Sinto-me num estado absoluto de pureza, de limpidez que me engrandece só por saber o quanto te sinto.
E é defeito meu não saber explicá-lo desta forma. Ao menos sei o que significa. E o facto de esta junção de palavras não usufruir quase de qualquer sentido, para mim diz muito mais do que aquilo que aqui consta.
Basta-me saber apenas que nunca soube escrever textos coesos quando me sinto assim, tão leve e feliz.

terça-feira, 17 de março de 2009

Moeda


Atirei uma moeda ao ar.
Ela rodopiou e rodopiou e parecia que, entre voltas e voltas, o seu fim não lhe pertencia.
Observei-a com uma esperança infantil e com impaciência, como se fosse ela a definidora de algo relevante doravante.
Atirei-a e brinquei, não propositadamente, com emoções numa atitude ingénua de quem não sabe aquilo que faz, mas fá-lo, no entanto, na expectativa de se sentir mais reconfortado e aconchegado.
Algo que só acontece se o resultado esperado for realmente o que saiu ao calhas. Porque não passa disso mesmo. De resolver assuntos que poderão ser importantes, pelo menos aos nossos olhos e aos do coração, com o acaso, jogando com as probabilidades como se a vida nada mais fosse do que um mero jogo hipotético.
Claro está que, o facto de estar transtornada faz-me render às mais descabidas verosimilhanças sem ter consciência de tal ignóbil acto. Desprezível não pela acção em si, mas pela ridicularização que fiz da mesma, ao misturar a seriedade com a casualidade, na esperança de encontrar uma resposta que, no fundo, sei que nunca a obterei desse modo.
É, portanto, tão inútil quanto caricato, mas faço-o e continuo a fazê-lo. Pois uma vez esgotados todos os outros recursos de apaziguamento de espírito, nada mais me subsiste senão tudo aquilo que é risível, que me faz parecer medíocre e sê-lo sem que tenha cognição disso. Pensando estar apenas, como que a desfolhar um malmequer, a tomar uma decisão correcta, pois afinal a moeda e o malmequer estão, até, ocorrentes daquilo que se passa e sabem perfeitamente qual é a posição que vão tomar em relação ao caso.
Talvez goste de passar-me um véu ignorante que me obriga a fechar os olhos a tantas situações contra as quais a minha essência luta e faz por se sobressair. Pois, no fundo, para recorrer ao ridículo, preciso de sentir que também fazem de mim um ser tão burlesco e banal.

domingo, 15 de março de 2009

Sorri

Sorri.
Basta-me só ver a inocência de um sorriso teu.
Sinto-me clara como o dia radioso e esperançosa em relação ao futuro, do qual quero que faças parte.
Aperta-me a mão e não a largues. É para mim suficiente saber que não queres largá-la.
Tão poucas atitudes tuas fazem-me tão grande.
E num abrir e num fechar de olhos eu continuo a mesma criança ingénua que nunca curou o seu erro.



E que, por breves momentos, julgou-se.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Pés Demolhados


O sol é meu complemento. Este tempo caloroso invade-me de sentimentos de alegria e não há dia em que não queira cantar bem alto para expressar tanto júbilo.
Molho os pés na água que me gela o corpo que se diz quente.
Talvez seja do choque térmico ou talvez não, todavia sei que as minhas inseguranças repentinas perturbam, mas é tão difícil olhar para o céu e sentir-me livre para nele voar com asas que Ícaro tanto inveja.
Até lá, sinto-me azul. Da cor da onda que balança e que, por fim, rebenta pacífica, pachorrenta, sem limitação do tempo nem de nada que a obrigue a parar.
Dá por si sozinha. Límpida como nunca antes vista, com o reflexo dos intensos raios de sol nela a incidir, a acentuar o belo do pôr-do-sol que se faz por anunciar e, no entanto, está desacompanhada.
Ainda tenta sacudir o seu sal e misturar-se com águas de outro tipo que a repugnam, mas se de nada vale, então é preferível deixar-se ir na maré.
Há tanto rumo pela frente, tanto por rebentar, tanta espuma para fazer, tanta areia para percorrer e tantos pés para molhar. Tanto para se erguer e mostrar toda a força que nela impera.
De tanta coisa nos falam as ondas e tanta coisa podemos nós delas falar. São mares de palavras infindas e tão ditadoras de orações tão sublimes na sua subjectividade. Difíceis de interpretar, sabe tão bem sê-las em poucos vocábulos. Vocábulos esses que me fazem ser parte do que te quero contar.
Tens sido, em harmonia com estes dias luminosos, a razão do meu contentamento e não é ininteligível sabê-lo, mas é tão burlesco ainda mo perguntares com uma inocência risível. Dado que, penso que te tento mostrar tudo aquilo que digo. Sabes o quanto tento passar contigo todo o tempo que me predispões.
Claro que tenho a minha oscilação e cogitações incertas, que podem ou não ser comprovados, mas que, geralmente, não passam de pensamentos sensabores baseados em episódios fictícios que a minha imaginação faz por me mostrar.
Dá-me do sal que eu não quero provar e, aflige-me por maldade.
A desistência é o lugar que tomam, habitualmente, os de fraco espírito.
Pertence antes à outra parte. E faz por, como me disseste uma vez por meio de verdades parciais, deixar-me pertencer-te.
Sabes que em mim tens o teu leito.
Sinto os pés resfriados, mas sabe tão bem caminhar com leveza sobre a mesma água que me revela pedaços de mim, enquanto lhe confesso as minhas dolências.

terça-feira, 10 de março de 2009

Macaquinho do Chinês

Inquestionável é essa tua habilidade de me magoares. E imperdoável é o gostares de me ver triste. Desprezível é saber que quando sou transparente para ti me passas um véu e interessante é ver o quanto me renegas.
É espantoso perceber o quão dogmático és e fascinante é compreender que não sabes aceitar uma brincadeira.
Engraçado como podes fazer tudo aos outros, desde que não te façam o contrário. Empolgante é essa filosofia de vida que tens, acho que também a quero, duvido é que gostes que assuma uma posição semelhante.
É curioso ver como fazes por desenrolar um fio vingador que embarca tudo e todos não importa o que lá está dentro nem como está.
É dolosa a tua indiferença para comigo. Oxalá estejas mesmo bem com a minha pessoa, pois não o dás a entender.
Esperança é o que tenho em relação a esta tua atitude infame, pouco inteligente e pouco justa. Espero que te dês bem com ela, já que eu não dou. Ah... mas isso para ti também não é relevante. Ups, esqueci-me.

Miss Invisible


E a vida é assim, injusta. Ou sou antes eu que não me adapto à mesma. Prega-nos partidas quando sabe que a nossa cabeça nos pesa, quando estamos mais carentes e condoídos. Quando por tudo e por nada tentamos ao máximo controlar aquilo que os meus olhos humedecidos, numa atitude vergonhosa e de desistência, querem dar a conhecer.
A minha determinação não me deixa render a impiedosas substâncias se não merecem ser vertidas, pelo menos por tão inconsciente e, ao mesmo tempo, burlesco assunto.
Seria risível se assim o permitisse. Custa-me sentir a tua falta, mas não me vou curvar. Se para uma brincadeira atinges uma seriedade infantil, então o teu comportamento não merece que me aflijas. Mas tu fá-lo. E, provavelmente, sentir-te-às grande e vitorioso porque sabes que não estou bem. Se é isso que queres e se é isso que te dá alento para continuar a pisar-me, então força, acho que vais no mau caminho. Talvez tropeces nos teus próprios buracos enquanto o orgulho ainda não alcançou o seu auge e, quiçá aí percebas que magoas.
O pior é mesmo pensar que te sentes bem com o meu mau-estar. Mas pronto, a vida é assim, injusta. Devia ensinar-nos a discernir bem os sentimentos e a controlá-los para que eu hoje não estivesse aqui, amargurada a escrever ao som de uma música melancólica enquanto tu nem em mim deves estar a pensar.
Talvez o mal também seja esse, eu querer ser mais para ti do que aquilo que sou e que consigo ser.
Mostrar-te que me importas não é para ti, possivelmente, relevante e eu não passo de uma parola que para aqui escreve esperando uma alacridade em vão.
Gostava de provar um pouco do futuro para apaziguar o meu espírito revolto e, ao mesmo tempo, tão cheio de sentimentos por ti.
Sinto que, pelo menos hoje, quero ser invisível. Reconforto-me comigo mesma, ao menos sei que, infelizmente, estou sozinha. Quem sabe se não deixas que o teu narcisismo te mostre também os teus negros ao espelho.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Metamorfose


E tudo não passa disso mesmo, de uma metamorfose.
Assisto perplexa ao meu próprio desenvolvimento. E nesse decurso percebo o quanto os outros me sabem construir quando não sabem aproveitar aquilo que em mim já existe.
Por causas ignotas ou impaciências carecidas, certo é que o fazem.
E estranho é ser sempre uma cúmplice destas atitudes desprovidas de qualquer tipo de ponderação e, circundar uma cumplicidade ofegante que em mim é inata e que tento esconder para não dar primazia à vergonha.
Desonro-me por não me saber controlar. Por recorrer a métodos onde, incansavelmente, me procuro transformar ainda que sem sucesso.
Não é a mim que procuram, mas antes a um ser que não é mais do que uma mera e insignificante aparência. Uma ilusão. Um talvez sim e depois não.
Algo indefinível que já cá não mora, se é que alguma vez se atreveu a pisar este terreno fértil de cá.
Deste lugar onde o profundo tem realmente o seu valor, e a imaginação é tão voadora, ou mais, que o pássaro que canta enquanto procura rasgar o céu.
Tem um bater de asas igual ao do meu coração por partilharmos uma simbiose que se diz completa. E o completo é absoluto, integral. É tudo aquilo a que chamamos Perfeição.
Algo que é tão invocado por vezes sem de qualquer sentido usufruir.
Não partilho o meu lugar com ninguém, se não o merecem. Se não têm a preparação que lhes é devidamente requerida, se não sabem abraçar as emoções e sobrevoar montes e vales levianamente numa calmaria invejável.
Sou assim, unicamente imperceptível e careço de uma imperfeição humanizada bastante notável. Estabeleço uma metamorfose onde tento melhorar-me, progredir. Ser quase tão grande como a mãe natureza e beber dela para atenuar a minha sede.
É, portanto, tempo de me racionalizar e aprender a estabelecer vontades que também em mim imperam.
E se a diferença se notar e se não for de mim, então se calhar é tempo de repensar posturas e saber ser-se perante outros.
Se se notar alguma disparidade, não há-de ser nada de muito especial, será apenas mais um dos tantos processos da minha metamorfose.

domingo, 1 de março de 2009

Refúgio


Quando me resguardei na minha capa não pensei na decisão que tomei, ou melhor, não adivinhei o quanto iria sofrer.
Perdi um amigo, é verdade, uma excelente pessoa com a qual o meu feitio extrovertido colidiu. Não queria que sofresses com o meu índole. Esperava que essa nuvem negra passasse como passam todas as outras e desconhecia esse teu refúgio igualzinho ao meu. Mesmo debaixo do meu nariz e eu sem o conseguir farejar.
Atitudes que pensei patéticas são-me agora clarividentes.
Não me arrependo, contudo, da decisão que tomei, mas antes que tivesse sido diferente, antes que não tivesse caído de amores por uma ilusão.
O meu batel andou, durante muito tempo, meio apático e sem rumo, e nunca encontrou o seu cais. Indagava-se tanta vez por tanta coisa mal medida e, agora, que descobri essa tua parte recôndita percebi que nem sempre a vida nos é fiel e honesta e que, não por maldade, mas talvez por meio de vergonhas e embaraços, escondeste-mo de mim. Só me arrependo de não termos mantido uma relação pautada por uma amizade saudável, possivelmente por não saber realmente o quão boa pessoa eras, por não te conhecer o suficiente e, também, por me terem cegado os olhos com o mesmo sal onde eu me escolhi molhar e deleitar e me perder e chorar.
Ainda que não o saibas, pois também não valerá a pena, sinto-me reconfortada pois, ao menos, não andei sempre ofuscada.
A má decisão que tomei morreu comigo. Precisei dela para crescer mais um pouco, para aprender a discernir a realidade da ficção e que o amor não justifica a mentira nem o engano.
Quiçá apreendi-o de forma ingrata. De qualquer modo, só me posso culpabilizar a mim mesma, pois fui eu quem quis saltar da mais alta rocha rumo ao mar salgado que arde quando as feridas não saram.
Mas ele é mesmo assim. Carece dessa dualidade. Arde enquanto a ferida se encontra exposta, mas sabe tão bem saneá-la, em simultâneo. E, cumprindo a sua função, assim o fez.
Agora estás dominado pela felicidade que te foi oferecida e eu feliz do mesmo modo pela oferenda que te deram. Partilhando um estado de espírito idêntico, mas, ainda, não totalmente liberto de inseguranças, tento viver uma felicidade que ainda considero fértil, mas que procuro solidificar e quem sabe tirar grande partido dela, grandes lições de moral e outros tantos processos de desenvolvimento que se encontram, ainda, estagnados em mim.
Não passam de águas paradas que eu vou aprendendo a agitar numa cumplicidade inigualável a nenhuma outra. Formadora do meu carácter enquanto pessoa, encarrega-se tão bem da minha metamorfose.
P.S.: Foto captada por mim, ao templo Fortuna Virilis, em Roma. Os templos eram tão importantes para os romanos na época, para falarem com os seus deuses aos quais deviam uma atenção inqualificável. Penso que para eles não existia melhor refúgio e para mim e outros continua a sê-lo. Porque todas as crenças permanecem, e o lugar mais importante não é o espaço físico, mas o psicológico. É lá que nos entregamos e revelamos. É lá que nos indagamos e esperamos as respostas divinas que não são mais do que viagens gratificantes à nossa profunda essência.