domingo, 30 de dezembro de 2007

Bipolaridade Fantasmagórica


Era bom ver o sol sorrir todas as manhãs.
Como era bom ver o sol sorrir-me e eu retribuir.
Como era impensável que eu pudesse chorar por coisas mínimas.
Talvez eu não conhecesse um pouco da vida.
Olho para a Ana de antes. Mais nova, mais alegre, mais viva.
E agora olho para um fantasma sem nome.
Um fantasma que ouve, mas que não é ouvido.
É o fantasma solitário.
Vagueia por aí e a nenhum lugar pertence.
Desconhece-se.
Mas já nem tempo tem para se dar a conhecer a ele mesmo.
O fantasma prefere ouvir os outros em sofrimento constante e apoiá-los.
O fantasma tenta resolver os problemas insolucionáveis que existem por onde deambula.
Mas raros são os que ouvem o fantasma.
E, por isso, o fantasma ouve-se a si e fala consigo.
Desabafa consigo, estima-se, apoia-se, chora-se, abraça-se e esconde-se dele mesmo.
O fantasma é quase como dois fantasmas.
Um que é uma matéria viva e outra que é o seu psicológico.
Têm vivido demais a vida.
Têm-se emocionado demasiado e têm falado pouco.
Não compreendem o por quê de tudo isto.
O fantasma psicológico bate-se, esfola-se, mutila-se por dentro por saber que não conseguiu ver aquilo que todos os que não lhe importavam tanto lhe diziam. Ouviu quem estimava. Talvez por estimar essa pessoa estimaria mais se tivesse ouvido de tudo um pouco. Uma vez que o Fortunato dessa estima toda não estava consciente daquele acto. E agora que é tarde demais está.
Ambos os fantasmas se culpam de não ter percebido isso antes.
Mas também agora é inútil qualquer coisa fazerem.
Certo é que estão a sofrer demasiadas pessoas e por muito que os fantasmas se desculpem, não podem mudar nada.
Os fantasmas estão diferentes segundo parece.
Podem estar porque eles estão abatidos.
E se calhar muitas almas sem cor não queriam ser os fantasmas e nem pensar como eles e nem chorar e nem ouvir e nem ver aquilo que ouvem e vêem.
Os fantasmas incompreendidos vão deixando de falar a este mundo terreno.
Serão os piores oradores, mas continuarão a ser sempre os melhores ouvintes.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Medo de mim

Medo.
Medo tenho eu de mim.
Afastar-me.
Afastar-me é tudo o que quero.
Fugir.
Fugir daqui para um lugar desconhecido.
Desaparecer.
Desaparecer antes que alguém saia ferido.
Exilar-me.
Exilar-me é tu o que me resta.
Esconder-me.
Esconder-me de quem eu gosto, para que nenhum mal o meu eu de agora lhes faça.
Lembrar.
Lembrar é tudo o que posso fazer para não os esquecer.
Morrer.
Morrer posso eu querer, mas não é coisa que vá fazer, porque ainda me respeito.
Adormecer.
Adormecer o meu querer, a minha vontade e, sem isso, reviver.
Reviver.
Reviver é tudo o que preciso, num lugar a que eu chame o meu exílio, onde me possa
esconder para não magoar quem eu ainda estimo e para que deles sempre me lembre. E desaparecer sem deixar rasto, deixando em vez disso lembrança. Esquecendo a esperança e aguardando por um nada que é um tempo que me vai levando...
Imagem: Criada por mim. Tem com cores com que agora me identifico.

Peça do puzzle


Sou uma peça que não encaixa no puzzle da minha vida.
Tudo parece se organizar sem mim. E por mais que me esforce, por mais que me tente encaixar, a minha peça simplesmente não cabe neste puzzle.
Não é de lá. Não é aqui que pertence.
Ando, penso em mim, sinto o vento, mas não me sinto viva aqui.
Tudo para mim é estranho, não conheço nada. Neste lugar, eu sou estrangeira.
Cada vez mais me abraço a mim e só a mim no meu mundo que não sei qual é, e me afasto daqueles de quem gosto.
Começo a libertar-me deste lugar, desde puzzle que não é meu.
Não sei afinal de onde vim, nem sei onde é que eu pertenço.
Talvez se a minha vida me dissesse, eu soubesse.
Mas eu nem sei que vida é a minha.
Sei que numa deambulo... e sem direcção, caminho...
Despegada de qualquer coisa que me mantenha cá.
Sinto-me cada vez mais distante, e não sei que mais possa fazer para me sentir de novo eu.
Perdi-me.
Ando desencontrada comigo.
Não sei quem sou, nem onde estou. Eu não sei de nada.
Sinto-me sempre sozinha. E sinto-me melhor quando estou (só) eu na rua.
Quase mesmo sem lugar, sendo só com o vento e com mais ninguém.
Nestas alturas, não estou bem em lado nenhum, porque não estou bem comigo.
Sou uma peça perdida que não encaixa no puzzle da minha vida...
Eu bem procuro à noite um sinal de mim,
E espero à noite por quem eu me esqueci.
Peço à noite um sinal de mim,
Por quem eu me esqueci...

Passado Presente


Olhar um passado e desconhecer essa sensação,
Não relembrar nenhum momento feliz
Quando na realidade,
Em momento algum realmente o fui.

Apagar memórias que não consigo esquecer,
E sofrer por ainda com elas viver,
É fazer com que eu não esteja comigo
A viver o presente que vivo.

Vivo mais um passado que nunca esqueço,
Que temo e que não o consigo deixar,
É a minha sombra,
E sempre sempre eu dele me lembro.

Talvez esta tortura um dia acabe,
Talvez nessa altura quando eu sorrir eu seja feliz,
Ou talvez essa altura chegue,
E seja na realidade tarde demais para a viver.


Fotografia: Tirada do Google... as pegadas são aquilo que deixamos para trás e que marcam um caminho que nós já percorremos. Ainda que elas depois sejam apagadas, nós sabemos que elas ainda lá estão. Porque aquele foi o nosso Passado...


P.S.: o primeiro poema que aqui postei. Este poema e o texto anterior já foram feitos há algum tempo. Fiz outros posteriores, mas como gosto de os postar por ordem hoje vai tudo seguidinho :P




Quem sou?


Afinal quem sou?
O que sou?
Estas questões atormentam-me mais que qualquer outra coisa, mais do que alguma vez me atormentaram.
Cada vez mais tenho medo de mim, medo do que sou.
Sinto que só longe de mim os outros viveriam bem, sem me terem por perto a magoá-los.
Não sei se faço bem ou mal as coisas. Não quero magoar ninguém e acabo sempre por magoar.
Talvez o melhor para eles seja viver longe de mim. Bem longe desta pobre criatura inconsciente que inconscientemente só magoa.
Pode parecer um pensamento estúpido, e quando me tento ter o pensamento do outro chamo-me repetidas vezes ridícula! Mas é o que eu sinto, e só me sinto melhor se eu o confessar a mim a escrever.
Desta vez, vou guardar isto para mim, vou pensar comigo e não vou confessar a ninguém o que sinto, senão a mim. Começo a parecer trágico-dramática para os outros e não quero. Mas preciso de o fazer para mim.
Por mais que me ajudem e eu agradeço, ninguém sabe como me sinto, nem como penso e nem mesmo o que penso de mim. Logo, ninguém me pode compreender, nem eu mesma o consigo fazer.
Não sei explicar as minhas acções, e tenho raiva de muitas delas.
Não sei se não sei no que me transformei, ou se o problema é nunca ter pensado sobre quem sou.
Parece que a palavra que mais escrevo é não sei em qualquer um dos textos. Não sei, nunca sei de nada. E, por vezes, não sei se o melhor era como estava, ou se agora... que penso como estou.
Pessoa tem razão... pensar dói!
Não sei, não sei, não sei, não sei, não se, não sei, NÃO SEI !
NÃO ME CONHEÇO!
ESTRANHO-ME!
Olho-me ao espelho e não me vejo!
Olho-me e tenho horror a mim!
Olho-me e desprezo-me!
Olho-me e não me preocupo comigo!
Olho-me e desinteresso-me por mim!
Olho-me e sou ignorante ao ponto de nem de mim saber!
Olho-me e choro!
“Desolho-me” e sorriu!
Transpareço uma alegria, que na realidade nada mais é que o esconderijo de uma menina que sofre...