terça-feira, 28 de abril de 2009

Diz-me que sim

Espreito por uma encruzilhada que percorri e tudo é tão sombrio e frio.
Queria tanto saber se é fiável ou não confiar na luz que em mim incide o seu brilho tão peculiar, ou se tudo é tão irreal como o eterno que é efémero e doloso.
Talvez um beijo singular.
Ou um simples gesto, pois o preciosismo persiste na sua simplicidade e há tantas palavras vazias.
Queria um olhar que me contasse segredos que apaziguariam os sonhos.
Anseio um pensar menos penoso que poderia elucidar-me e voltar a mim. Porque de ti perdi-me o rasto.
O medo enclaustra-me todas as saídas e faz-me sentir só.
Sinto que não sou vista nem ouvida, sinto que não existe luz nenhuma que me vá guiar e combater estes meus receios. Preciso de me fazer notar, mas já não sei como fazê-lo.
Quanto mais luto pela atenção que aspiro ter mais ridícula pareço ao tentar obter aquilo que não me está reservado. Queria, utopicamente, ser como uma propriedade a que deitarias a chave fora.
Queria subir aos limites celestes e sentir-te comigo. Porque não consigo albergar emoções que a mim não pertencem.
Eu sei que posso fechar os olhos e cair no erro de evocar o sempiterno quando o sentimento cresce e nos rouba algum ou, até mesmo todo, o sentido, mas necessito de saber que o chão não é tão corrosivo nem falacioso como parece.
Queria oferecer-te o melhor de mim, um sentimento imaculado, depurado, liberto e determinado, verdadeiro e sonhador.
Todavia, preciso de alguma receptividade.
Queria tanto que me visses e notasses. Queria não ser o banal, nem o hábito, queria que visses que também em mim prevalece uma singularidade, como em todos nós, na qual talvez não tenhas interesse em descobrir por pensares que não detenho tais características.
Queria corresponder aos teus sonhos e sentir-me valiosa.
Queria saber que as tuas palavras são tão cheias quanto é possível e ter a certeza de que a tua luz em mim não se apaga.
Diz-me que sim.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Untitled

Fecho os olhos.
O mundo lá fora é tão feio. E tão feio que custa-me olhar. Custa-me pensar. Custa-me recordar. Custa-me saber.
Fecho os olhos.
Não abro.
Sinto-me tão salgada.
Memórias, memórias.
Sinto-me tão salgada.
Quero sair.
Quero libertar-me de mim.
Não abro os olhos, tenho medo.
Medo de tudo o que me rodeia.
Sou criança e careço de um abraço forte.
De quem não sei nem conheço.
Sou uma estranha.
Já não há canções de embalar.
Não há segurança nem firmeza.
Há a lembrança. Há a lembrança.
Deixa-me porque não quero pensar.
Não quero pensar.
Sinto-me demasiado salgada e afogada na minha própria humilhação.
Quero cerrar os olhos e não abrir enquanto existir.



Imperfeição

Sou da chuva, sou do vento.
Sou uma simbiose de vários elementos.
Sou a terra por onde piso.
Sei o meu caminho e por ele me atravesso.

Sou da fonte, sou do povo.
Sou uma simbiose de nortes vários.
Sou a sede de me libertar.
Sei do meu rio e por ele me vou indagar.

Sou da gnose, sou da sapiência.
Sou uma simbiose de vários conhecimentos.
Sou a anestesia da violência.
Sei a minha dor e por ela vou penetrar.

Sou da escuridão, sou da aparência.
Sou uma simbiose de várias ausências.
Sou o grito que se cala e sofre em silêncio.
Sei a minha origem e por ela me vou guiar.

Sou da mentira e do engano.
Sou uma simbiose de várias expressões.
Sou toda a essência que exibo com orgulho.
Sei o que procuras e, por isso, não te posso ter.

sábado, 11 de abril de 2009

Eterno Carnaval


Parece que afinal entrei num jogo infindável. Onde a mentira destrói verdade e não sei mais em que acreditar nem me posso dar ao luxo de dizer que tal absurdo existe.
Quando olho em redor tudo é escuro, turbulento, tudo me come por dentro.
Não existe nenhuma nesga de luz e os meus olhos estão corroídos por verem tanta ilusão.
As minhas feridas não saram porque esconderam-me a cura.
E as palavras não passam daquilo que são, de verdades parciais. Hoje, afirmo com a clareza que uma invisual pode ter, que nem parciais são. A verdade é fantasia e a mentira é fantasia, os factos não existem e o real mistura-se com a agonia do imaginário, do falso, da maldade que persegue este mundo por muito que este procure a evasão.
Queria-la eu. Para quê? De que me vale se não passa de algo temporário? Obrigada por me fazerem esquecer de que existe um lado positivo, que no fundo do túnel existe realmente uma luz pela qual devo lutar, a Felicidade.
Ilusões. Mentiras que se seguem umas atrás das outras com uma ordenação impressionante e tão incrivelmente duvidosa. Ponho-lhes os olhos em cima, se nada mais está ao alcance da minha visão nem, sequer, da periférica.
Não sei como agir, não sei como desabafar comigo.
Perdi tudo.
Não tenho certezas.
Acho que vou deixar só deixar os anos passar e permacer na ignorância com que, pelos vistos, sempre fui ensinada.
Quem sabe se os meus princípios não pertencem também ao ramo da irrealidade e do benefício próprio, onde o único umbigo realmente importante é o nosso e o de mais ninguém.
Roubaram-me a minha essência que me mantinha esperançosa, que me fazia ter vontade de ser a ponte que sou. Fizeram-me duvidar de tudo e entrar num cepticismo profundo semelhante ao de Descartes num certo momento. Pena o meu ser mais duradouro.
Agora já nada quero ser. De mais nada quero saber. Não me façam sorrir se não há alegria. Não me obriguem a fazer parte do vosso mundo corrupto.
Tirem-me daqui.
Porque eu aqui já não moro.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sentir: Lado Solar e Lunar


E tudo circunda uma das palavras que considero mais complexa, o sentir.
Estas emoções frescas têm a habilidade de me evadir e me fazer sentir única e como que um elemento imprescindível, como teu complemento. E é tão reconfortante pensar e sentir desta perspectiva infantil e intensa.
Sei que sinto e que me expresso demais, mas tudo isso faz parte da minha essência e contra ela meios não tenho para me libertar e ser menos “feliz”.
Espero apenas que não me desiludas enquanto te descreves por palavras soltas, valorosas, valiosas, mas soltas e não ocas.
Com um conteúdo onde o seu preciosismo persiste na sua simplicidade. Onde o seu perecer parece inaudível e fictício se encararmos como verdadeiro tudo o resto que nos foi incutido por termos ricos e intrínsecos.
Não pretendo imaginar algo tão ignóbil, algo que seria irrealista e perturbante. É apenas necessário ter esta vertente em consideração como meu próprio escudo. Faz parte das auto-defesas que crio inconscientemente, como preparação para que qualquer mal não bata à porta sem eu lhe conhecer previamente o cheiro.
É utópico, mas faz-me sentir um pouco mais segura.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Procura Incessante do Belo


Uma borboleta cessa o seu voo numa papoila encarnada que se encontra à altura dos meus olhos. Baixei-me porque quero observar este momento de perto, atentamente, porque é natural e perfeito. Qualquer movimento brusco pode fazer com que esta imagem se desvaneça, de modo que, todo o cuidado é pouco e mais que precioso.
A borboleta, como que numa atitude de exaltar toda a sua beleza, mostra-se àquela papoila que parece ser tão receptiva de tanto fascínio e, deileitada, observa-a. Tem um bater de asas majestral e impera uma quantidade enorme de respeito perante tal perfeição.
Atrevo-me a criar aqui uma analogia entre a beleza perfeita desta borboleta e a perfeição que os gregos, tão racionalistas, procuravam na arte.
Pois também aqui se trata de uma arte. Não é por falta de materiais para esculpir e gravar determinado momento, ou para pintar, fotografar, ou tantos outros meios para o perpetuar, que não será considerado arte. A minha memória é também um meio, não visível aos olhos de tantos se não aos meus, se assim o consentir. Posso com ela gravar este momento artístico porque é natural.
A Natureza é também ela uma arte que muitos interpretam como tudo menos como tudo aquilo que ela nos oferece, inclusive o prazer que nos pode causar um insignificante e boémio acontecimento como este. Não se poderá falar de arte aqui também? Não é este conceito tão abrangente, tão ilimitado ao ponto de ser a minha memória uma tela e a imagem que gravo desta borboleta na papoila que elegeu para poisar, a tinta que na minha própria tela ponderei representar? Não preciso de mais do que aquilo que, felizmente, fui construída.
E aquilo que nos é banal não tem de perder o seu valor pelo simples facto de estar banalizado. Se o está, teremos que os pensar de outras formas, para exaltar a sua beleza e não aquilo a que estamos habituados a ver.
É preciso perceber que a perfeição grega pode ir muito para além daquilo que pensamos e pode estar em inúmeras coisas. Podemos aproveitá-la e procurá-la em tantas situações comuns e enriquecermo-nos com as pequenas coisas. Pois também nelas existe um valor, quem sabe se não muito mais intrínseco e incomensurável que está sempre lá, nós é que ainda não estamos preparados para o ver. Falta-nos sensibilidade.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Condenada Por Sentir

Às vezes não sei o que pensar. Sinto-me demasiado seca e sinto que exagero na quantidade de afecções. Talvez devesse ser aquilo que não consigo, menos emotiva. Talvez devesse fugir à minha essência para me proteger, mas, interiormente, sei que é algo demasiado inacessível e incrédulo.
Ser ridícula é capaz de ser uma das minhas facetas, pelo menos fazem para que o seja.
E o olhar em frente, sem vergonha de expressar qualquer tipo de emoção, passa a ser censurado. O inevitável sucede-se e eis que cai a lágrima, irrequieta, no canto da pálpebra.
Escorre devagar sem proibições temporais. Carrega consigo tudo aquilo que sabe, palavras não ditas e emoções não expressadas, mas tão imensamente sentidas.
Dizem mais que se calhar tantos vocábulos que desta boca infame se fazem por libertar. Voam desinteressados, talvez messiânicos, à espera e em busca de um outro dizer, caloroso e receptivo, em vez de um simples fechar de lábios.
Não quero parecer tola, nem encarnar em tal palavra, mas, por vezes, sinto-me como tal.
Fazes-me desacreditar no que pensei que fosse importante para ambos e não saber o que substituir em vez disso.
Sou recessiva a palavras que muito dizem, a olhares que muito dizem e a gestos que nenhuma palavra consegue tomar o seu lugar.
Talvez receio. Talvez receio de não ser capaz de ter certezas. Talvez pânico do sentir em tempos vindouros. Talvez um deitar a cabeça ao mar na esperança de que as respostas estarão lá no fundo, embora saiba que o único fundo em que se encontram pertence-te.
Não o partilhas e esperas que o perceba por meio de incertezas que não me dão qualquer travo de algo que é, realmente, definido.
Deixas-me nesta agonia de te tentar perceber e que faz de ti este ser duo. Tão entusiasmante e tenebroso, simultaneamente, no que toca a emoções.
Talvez espere pelo que quero que venha e que faço por isso, mas às vezes derrubas-me e fazes-me sentir incapacitada de subir a tão alta montanha, então, páro.
Não quero cair, se a vou escalar terá que ser com uma iniciativa inspiradora, com apoio e vontade da outra parte que até ao cume chegue. Caso contrário, permanecerei cá em baixo, pensativa e na minha pequena introspecção enquanto aguardo por um sinal qualquer que me mostre o caminho e me ampare a queda por qualquer pé mal colocado.
Parece, então, que os altos e baixos têm de ser constantes na minha pessoa emotiva, ou não estaria a ser eu mesma.
Nunca pensei temer tanto um sentimento. Temer quando se tornar intrínseco.

sábado, 4 de abril de 2009

Andar Sem Avançar


E se eu voasse. E me fosse ser longe daqui. Uma vez que, por mais que procure estar no meu ninho, o mundo encontra-me sempre. E com ele traz a falta de ar da qual eu tento fugir e esconder-me.
Não é que me incomode a sua vinda, mas às vezes é tão bom estar longe. Sentirmo-nos livres e desagarrados do passado. Passado esse que teima em perseguir-me.
Por mais que eu corra ele apanha-me.
Por mais recôndito que seja o meu abrigo ele conhece-o.
A sua omnipresença é, por vezes, perturbadora. Quero respirar o ar do presente com os olhos postos no futuro sem sufocar com a impaciência das memórias que nem importância têm e que, no entanto, procuram vir ao meu encontro.
Talvez o voar seja algo tentador, mas demasiado utópico. Ou então poderão ser as minhas asas incompatíveis com o tipo de voo que pretendo alcançar, ou não se adequa a aves do meu tipo, ou um bilião de coisas que tornam este meu desejo insaciável.
Começo a considerar que não importa a largura deste planeta azul, se o mundo é realmente tão incrivelmente pequeno.
Dois passos e não importa o lugar, com o Passado ao meu lado, sinto-me parada, exactamente no mesmo sítio.

Memória


Vívida como ar.
Caminha sobre a água com forças divinas.
É tão sobrenatural que se duvida da sua própria existência.
Guarda-me pedaços de mim.
Olha-me sem qualquer repugnância.
Ama-me pela imperfeição a que me encontro subjugada e é intensamente minha.
É muito mais forte do que eu.
Sabe tão bem combater-me e lacrimejar-me quando mereço.
Tem uma sapiência que todos invejam, mas que só a possuem os de seu tipo.
Mostra-me o quanto me és querido.
É bom tê-la do meu lado pois faz-me estar perto de ti mesmo quando te encontras apartado.
Não importa a distância.
Não importa o tempo.
Nem mesmo o espaço.
Ela não tem quaisquer limitações.
Isso fá-la ser rica, poderosa e intrínseca.
É-me essencial e faz parte de mim.
Tem um tamanho incomensurável e que, por isso, ninguém a vê sequer.
Passa despercebida.
Como eu queria ser como tu. E pertencer-te.
Memória minha.