sábado, 31 de outubro de 2009

Mea Culpa


É mea culpa se não arrancar o coração. Se o não despedaçar com os molares, se não o comer parte da massa que me controla as emoções.
E que cada gota valha a tristeza.
Que cada uma substitua cada lágrima vertida, que todas sejam uma para que se torne paradigma.
E morderei quem me oferecer mais sentimentos, puros ou veemente maculados, suando impurezas, pois os não aceitarei mais.
A credibilidade mudou-se-me de rumo e sou só eu comigo nesta presente jornada.
Tornar-me-ei pedra a todo o custo.
E os sentimentos hão-de pagar-me por me terem feito tão mole durante tanto tempo, por me terem diluído por entre tantos enganos e cegado de amores.
Hoje vejo a todo o custo e procuro ter os olhos bem abertos enquanto aperfeiçoo o meu treino contra mentiras e reforço as minhas armas para me não matarem o que de mim pouco resta.
Se não houvesse tanta maldade talvez a minha essência não estivesse destruída quase na sua totalidade. E, por isso, é hora de lavar as mãos e matar os demais. É hora de fazer jorrar o sangue que pouco me correu enquanto só via imagens de um passado querido e de sonhos utopicamente desejados.
Por entre tanta revolta e tanta angústia ainda habita escondida uma menina pequena, cega, triste, fraca, chorosa, penosa, arrependida, cansada, dormente, adormecida em sonhos vãos, que canta alto o que lhe vai dentro e que, escusado será dizer, ninguém ainda permanece para se dar ao árduo trabalho e empreendedor de a escutar.



Problema de Expressão


Nem escrever consigo, tenho um problema de expressão.
És tão rude, as tuas palavras são tão afiadas.
Não sou desistente, mas a minha atitude começa a ser de desistência. Sou diferente e, por isso, não amada. Sou sensível e, por isso, não acarinhada. Sou negativa e, por isso, não credível. Sou sincera e, por isso, não válida. Sou estrangeira e, portanto, diferimos em todos os aspectos e na nacionalidade.
Disponho de capacidades inatas desconhecidas baseio-me no axioma das sensação.
Se fosse uma palavra talvez essa fosse.
Roubas-me a alegria e o coração. És abusador e criminoso, devias ser preso ou no mínimo sancionado, mas a tua consciência não predispõe de remorsos para as más escolhas que tomas, no mau uso da tua liberdade enquanto prejudicas os outros.
“Põe-te no seu lugar” – propõe Savater em “Ética para um Jovem” – proponho-te eu porque precisas de parar e pensar. Algo que pode ser muito bonito exteriormente, mas que se o seu interior for apenas vácuo, então toda a beleza lhe é retirada. Ignorância minha inimiga. Quem me dera que te iluminasses e me visses enquanto aqui estou, enquanto as tuas vassouradas ainda não me conseguiram demover atitudes nem varrer-me para fora de ti.
Talvez devesse. Sim, um bilião de coisas que não consigo simplesmente porque sou fraca.
Simplesmente porque gosto de ti.

Sombra


Se sou sombra longe da luz, então também o ar que respiro é impuro.
Tão maculado que nem se percebe a sua causa. E ali está ela, de fronte, estagnada, numa atitude cínica e de incongruência, impaciente com o caos.
Como gosta! E que gosto!
Que desgraça, que pesar, que figura… que vergonha de ser.
Querias sol brilhante e estrela cadente e aí tens o mais bem conseguido disfarce da fera.

Eu sou apenas isto: triste verdade nua e crua. Dura, gelada, inundada de emoções, que se move com a beleza natural e a minha realidade é a mais simples e tão facilmente descodificável com um claro e sincero beijo.

Difícil?


Difícil é o fingimento.


Difícil é não gostar.