terça-feira, 19 de agosto de 2008

“Felling Empty”


Puxaram a corda que me segurava e, deixaram-me caída num chão longínquo que não conheço.
Fui tudo sou nada.
Quero chorar e confessar-me, quero ser ouvida pelas vozes que só na minha mente guardo.
Oiço o barulho ensurdecedor que as gotas de chuva produzem quando entram em contacto com o mesmo chão onde me vejo sentada. Sozinha no silêncio, falo e só a mim me oiço.
Oiço o meu nome na chuva e não lhe respondo.
Perdi a minha identidade pois perdi o meu rumo e, até, o caminho de casa. Não quero regressar, nem sei já fazê-lo, nem sequer as minhas pessoas de outrora querem que o faça.
Estou sozinha e presa à minha infelicidade.
– Que se me mostre uma luz! – Grito.
A minha voz ecoa entretida por entre as paredes caiadas que me cercam. Tudo permanece indiferente como dantes.
A chuva teima em não parar nem me alegrar ou tentar. E, por isso, alheia à minha dor, continua a cair e a fazer propositadamente um ruído cada vez maior, só para acentuar o silêncio.
Não choro. Não tenho forças nem nada mais para chorar. Não quero dar parte fraca e sofredora a esse mundo que jamais me pertencera.
Tento levantar-me, mas caio logo de seguida, como se tivesse sido puxada pelo chão para ele. Deito-me e fecho os olhos. Tento dormir e não pensar. Mas sonho acordada e, por muito que me tente desfazer do sonho, ele persegue-me e magoa-me mais, por me fazer relembrar o quão só estou.
Crio monólogos, mas logo me farto.
De repente, levanto-me e começo a fazer barulho. Bato palmas, falo alto, tento ser mais que a chuva maldita e nem isso consigo!
Sinto-me frustrada e frustradamente sozinha!
Sento-me de novo e rendo-me ao meu nobre silêncio, enquanto faço a chuva sentir-se vitoriosa e apoderar-se de tudo o que de mim resta.
Ao menos ela tem a decência de se incomodar com a minha presença e existência.


Falem


Falem.
Falem coisas boas ou más, mas falem.
Falem de mim que eu falarei de vós.
Desabafem toda a vossa angústia em cochichos que não vos levarão a lugar algum senão a um breve esquecimento da vossa triste vida.
Por isso, avante com todos os apologistas da arte de bem coscuvilhar, enquanto me tento abstrair de tudo isso e, resguardar-me dos vossos sorrisos insinceros.
Falem à vossa mercê, que eu falarei também.
Palavras vossas ditas e malditas que uma só vez me ferem. Daqueles que nada a mim me são. Ou até mesmo daqueles que comigo estão. Serão flechas com pontas aguçadas que não encontrarão mais o seu alvo para abater. Percorrerão mundos sem fim até caírem, finalmente, no esquecimento.
Perante isto, falo. Falo da minha indiferença aos vossos verbos em orações já sem sentido, às vossas construções frásicas sem ponta por onde se lhes pegue.
Sinto-me bem. Não feliz, bem.
Sou conhecida e descrita por variadas bocas, bem ou mal… não interessa. Sou-o ponto.
Ao menos sei para que olhos olho apenas e não vejo. Ao menos vou acrescentando à minha lista de desilusões os defensores da mentira, aqueles que sem ela não são capazes de viver.
Gente sem objectivos de vida, movidos por interesse. Mais tarde ou mais cedo, caçam-nos. ”A Mentira dá a volta ao mundo sem que a Verdade tenha tempo de se vestir”, mas a mentira acaba sempre por se voltar contra o mentiroso, e é nessa altura que ele pede ajuda ao mundo que lhe vira agora as costas.
Por tudo isto, minha gente, falem!
Falem coisas boas ou más, mas falem!
Falem de mim que eu falarei de vós!