Folia. Eu ria, enquanto te abraçava, enquanto dançava ao som de cada palavra que nos unia as bocas e, nos entretantos, tal não era o embale que eu já mal dele fale, que me deixou ficar assim, perdida.
As tuas palavras estão presas, perras mesmo, custam a sair e, quando saem, mostram-se com a cabecinha de fora, de olhos arregalados, como quem é empurrado para fora donde não quer sair.
De tanta lágrima vertida, de tantas outras enxugadas, algum desse choro teria que ser benigno e, fazendo juz à sua promessa, aqui me tens transformada.
Olha-me bem, com os teus dois grandes olhos castanhos. Vê este meu agora mudado, cheirando a determinação, a crença nas suas capacidades que derrota completamente o eu passado.
Talvez uns belos passitos de dança tenham ajudado ao que tudo se resume numa questão de confiança.
Que se deixe de lado a inveja de quem é aquilo que outros desejam. Sou uma boa bailarina e a dança a mim nunca falhou. Nela deposito todo o meu amor e rezo veemente para que nunca me deixe, para que nunca me abandone. Os meus passos são compassos e a minha vida toda é o enorme chão de dança.
Tenho a cabeça cheia e preciso de libertar movimentos, angústias concentradas, pensar num eu ali, naquele meu momento, pois tudo o resto que tomo como verdadeiro descobre-se que, no fim, é fachada.
A pouco e pouco, vou conseguindo me desfazer das emoções mais arrebatadoras e levar uma vida estável na base do sentimento q.b. De certo que o heterónimo Ricardo Reis fosse de todos o mais sagaz, pois acima de tudo procurou uma vida assim. Toda atracção e deslumbramento que senti por Alberto Caeiro não me trouxe nada de positivo, a nossa semelhança acarretou o sal todo que guardo. Penso portanto que é a nossa dissemelhante que me mostrará a direcção da bem-aventurança.
Deveria, assim, procurar o caminho dos epicuristas e estóicos, como fez o primeiro heterónimo que referi.
A verdade é que não quero ser tão linear apenas gosto de colocar algumas das suas bases como contrafortes na estrutura da minha vida. E se assim o sou, foi por opção porque sou livre de escolher a atitude que pretendo tomar, mas também estou condicionada à mesma, porque se não escolher mudar então sou masoquista porque ando num ambiente circular onde a confiança nos outros acaba por nós magoar se formos demasiado emotivos como eu o sou.
Assim, eu sou livre de escolher a opção que mais me convém porque existe sempre outra. Como Sartre afirmou e bem, “nós estamos condicionados à liberdade”. Assim sendo, vou optar não pelo que quero – pois o quero é permanecer imutável e feliz, numa felicidade que não é só momentânea – , mas pelo que me trará um felicidade mais duradoura por muito que custe o agora.
Como defende Fernando Savater em “Ética para um Jovem” a partir de uma história do Génesis – o primeiro livro da Bíblia –, sobre dois irmãos, Esaú e Jacob, o primeiro, detinha o direito de primogenitura. O irmão, que lhe cobiçava o lugar, resolveu um dia confeccionar um guisado de lentilhas ao qual Esáu não conseguiu resistir. Ora, nesta situação a conversa mantém-se, pois havia nas lentilhas o senão que era o de Esaú poder refastelar-se no preparado, mas ter que em troca conceder a Jacob o direito de primogenitura. Esáu, obcecado pela tentação pensou apenas naquilo que lhe traria uma felicidade instantânea, imensa até, e não duradoura. Claro está, que quando se arrependeu era, na verdade, tarde demais. Apesar de aqui também estar em causa a imensa importância que Esaú atribuía à morte, vivendo com a filosofia de que já nada vale a pena.
Podem então objectar-me que não era o que eu há pouco defendia? A consciência da morte, o viver com emoções moderadas, entre outras? De facto o disse, mas também disse que procuro uma felicidade duradoura e não apenas com base num guisado de lentilhas. Assim sendo, a consciência da morte é para mim relevante e importante, mas não ao ponto de tudo valer o mesmo, apenas quero refugiar-me numa vida leviana onde os sentimentos são controlados, com o único objectivo de não sofrer.
Assim, com este exemplo reforço o meu argumento de que o importante não é lutar por uma felicidade cómoda mas precária, é sim lutar por uma felicidade o mais duradoura possível.
Como? Mudando já hoje o meu modo de agir, de estar, de comunicar, de ser com os outros.
A dança preenche, ainda que não totalmente, o meu vazio, a minha necessidade de sentir excessivamente. E por isso ela é tão importante e tem tanta presença em mim.
Quero dançar nas melodias e não sentir o hoje nem o amanhã. Quebro aqui a parte de não ser tão emotiva, mas como disse, apenas procuro filiar-me nos princípios de Ricardo Reis, não pretendo ser como ele. É apenas uma óptima inspiração. Assim como Caeiro, mas dessa forma eu comecei a passar de pessoa a objecto e a esquecer-me de me dar e de me darem a mim.
Deste modo, alego que já estive dilacerada, mas que hoje visto um fato novo.
As tuas palavras estão presas, perras mesmo, custam a sair e, quando saem, mostram-se com a cabecinha de fora, de olhos arregalados, como quem é empurrado para fora donde não quer sair.
De tanta lágrima vertida, de tantas outras enxugadas, algum desse choro teria que ser benigno e, fazendo juz à sua promessa, aqui me tens transformada.
Olha-me bem, com os teus dois grandes olhos castanhos. Vê este meu agora mudado, cheirando a determinação, a crença nas suas capacidades que derrota completamente o eu passado.
Talvez uns belos passitos de dança tenham ajudado ao que tudo se resume numa questão de confiança.
Que se deixe de lado a inveja de quem é aquilo que outros desejam. Sou uma boa bailarina e a dança a mim nunca falhou. Nela deposito todo o meu amor e rezo veemente para que nunca me deixe, para que nunca me abandone. Os meus passos são compassos e a minha vida toda é o enorme chão de dança.
Tenho a cabeça cheia e preciso de libertar movimentos, angústias concentradas, pensar num eu ali, naquele meu momento, pois tudo o resto que tomo como verdadeiro descobre-se que, no fim, é fachada.
A pouco e pouco, vou conseguindo me desfazer das emoções mais arrebatadoras e levar uma vida estável na base do sentimento q.b. De certo que o heterónimo Ricardo Reis fosse de todos o mais sagaz, pois acima de tudo procurou uma vida assim. Toda atracção e deslumbramento que senti por Alberto Caeiro não me trouxe nada de positivo, a nossa semelhança acarretou o sal todo que guardo. Penso portanto que é a nossa dissemelhante que me mostrará a direcção da bem-aventurança.
Deveria, assim, procurar o caminho dos epicuristas e estóicos, como fez o primeiro heterónimo que referi.
A verdade é que não quero ser tão linear apenas gosto de colocar algumas das suas bases como contrafortes na estrutura da minha vida. E se assim o sou, foi por opção porque sou livre de escolher a atitude que pretendo tomar, mas também estou condicionada à mesma, porque se não escolher mudar então sou masoquista porque ando num ambiente circular onde a confiança nos outros acaba por nós magoar se formos demasiado emotivos como eu o sou.
Assim, eu sou livre de escolher a opção que mais me convém porque existe sempre outra. Como Sartre afirmou e bem, “nós estamos condicionados à liberdade”. Assim sendo, vou optar não pelo que quero – pois o quero é permanecer imutável e feliz, numa felicidade que não é só momentânea – , mas pelo que me trará um felicidade mais duradoura por muito que custe o agora.
Como defende Fernando Savater em “Ética para um Jovem” a partir de uma história do Génesis – o primeiro livro da Bíblia –, sobre dois irmãos, Esaú e Jacob, o primeiro, detinha o direito de primogenitura. O irmão, que lhe cobiçava o lugar, resolveu um dia confeccionar um guisado de lentilhas ao qual Esáu não conseguiu resistir. Ora, nesta situação a conversa mantém-se, pois havia nas lentilhas o senão que era o de Esaú poder refastelar-se no preparado, mas ter que em troca conceder a Jacob o direito de primogenitura. Esáu, obcecado pela tentação pensou apenas naquilo que lhe traria uma felicidade instantânea, imensa até, e não duradoura. Claro está, que quando se arrependeu era, na verdade, tarde demais. Apesar de aqui também estar em causa a imensa importância que Esaú atribuía à morte, vivendo com a filosofia de que já nada vale a pena.
Podem então objectar-me que não era o que eu há pouco defendia? A consciência da morte, o viver com emoções moderadas, entre outras? De facto o disse, mas também disse que procuro uma felicidade duradoura e não apenas com base num guisado de lentilhas. Assim sendo, a consciência da morte é para mim relevante e importante, mas não ao ponto de tudo valer o mesmo, apenas quero refugiar-me numa vida leviana onde os sentimentos são controlados, com o único objectivo de não sofrer.
Assim, com este exemplo reforço o meu argumento de que o importante não é lutar por uma felicidade cómoda mas precária, é sim lutar por uma felicidade o mais duradoura possível.
Como? Mudando já hoje o meu modo de agir, de estar, de comunicar, de ser com os outros.
A dança preenche, ainda que não totalmente, o meu vazio, a minha necessidade de sentir excessivamente. E por isso ela é tão importante e tem tanta presença em mim.
Quero dançar nas melodias e não sentir o hoje nem o amanhã. Quebro aqui a parte de não ser tão emotiva, mas como disse, apenas procuro filiar-me nos princípios de Ricardo Reis, não pretendo ser como ele. É apenas uma óptima inspiração. Assim como Caeiro, mas dessa forma eu comecei a passar de pessoa a objecto e a esquecer-me de me dar e de me darem a mim.
Deste modo, alego que já estive dilacerada, mas que hoje visto um fato novo.