sábado, 29 de novembro de 2008

Logos


Quero expressar-me convenientemente, mas faltam-me palavras. Ou melhor, não faltam, estas apenas não transmitem tudo aquilo que eu quero dizer.
Ainda que sejam milhares delas, não são suficientes. Porque “toda a verdade é parcial quando é dita por palavras. Pois falta totalidade, integridade, unidade.”
Deste modo, tudo aquilo que amo, não o posso contar por meio de vocábulos visto que nunca direi tudo. Porque só a palavra amar, não contém todas emoções que sentimos, porque eu não posso amar as palavras, porque são meras palavras. “Não têm dureza ou moleza, não têm cores, não têm arestas, não têm gosto, nada têm senão palavras. Talvez sejam por isso palavras em excesso.” Desta forma, não amo por isso uma pedra, amo o que dela conheço, o que ela me faz sentir, amo-a enquanto objecto em si mesma, nunca enquanto palavra pedra. Por isso, um gesto vale muito mais que mil palavras, um silêncio diz mais que muitas outras tantas e um olhar pode contar inúmeras verdades que nunca conseguiremos transmitir por insípidas palavras.



P.S.: Escrevi este texto porque acabei de ler um livro chamado “Siddhartha” de Hermann Hesse que me marcou imenso. Senti uma grande ligação com este livro do princípio ao fim. Quando o acabei, senti que podia enriquecer os meus textos e avivá-los com pequenos excertos do livro tão bem pensados por este autor. As frases citadas são do livro em questão o qual aconselho vivamente a ler.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Pisadas do Destino


Olhas-me com um olhar distante e de desdém. Desviei o meu olhar e fingi que não te via. Fizeste-me recordar e ter a tentação de me render àquilo que não queria.
Caminho com passos incertos e pesados sobre uma calçada infame que teima em me dificultar a passagem até onde quero chegar. Até onde eu não sei. Até onde eu me esqueci de mim.
Procuro com ansiedade o meu rosto que me repudiou. Caminho desnorteada sem ele. Procuro-o. Inicio o meu chamamento vão e precário que me une a um nada intemporal no qual me encontro. No qual me encontro com parte de mim.
Sinto que o meu percurso é um fardo penoso o qual não sei se sou capaz de albergar. Sinto-me cansada e incapaz de qualquer coisa. Incapaz de pisar as pisadas que me estão predestinadas, que me evocam constantemente sem aparentarem qualquer cansaço. Chamam por mim incessantemente.
Finjo que não as oiço e fico estagnada no pedaço de pergaminho onde a partir de memórias e palavras esquecidas se compõe o meu passado e presente.
O Futuro continua por se escrever. Não quero pisar esse tempo não tão próximo como o queria, temo-o.
Quero esquecer que não fui totalmente feliz. Quero esquecer-me o quanto me magoei e não me deixas! Obrigas-me a estar parada, sozinha no meio da multidão, do povo de crianças do qual faço parte, tremendo de frio com este vento incerto anunciador de Inverno frígido que me gela a pele das mãos gretadas. Sinto gelar-me o corpo. Sinto gelar-me a alma. Falo por meio de nuvens de fumo inaudíveis e não me solto nem me movo. Encontro-me presa ao presente conjuntamente com um passado que me retém como sua prisioneira. Não me deixa escrever o tanto que tenho por viver. O meu mundo do Logos é o meu refúgio, é tudo aquilo que me contém na totalidade, aquilo que me faz sentir inteira, aquilo que me faz pensar e recordar, rever e antever tudo aquilo que guardado ficou, tudo o que me diz quem sou.
Não me oiças a mim porque falo daquilo que também não sei, ouve antes a voz que há em ti, que em ti vive, ouve o rio que te corre nas veias. Pois também tu terás o pergaminho que te pertence para nele escreveres o teu fado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Pinta-me


Pinta-me o rosto, agora alegre, num tom suave e claro. Quero evidenciar a felicidade em mim agora patente, agora não fictícia, agora não ausente.
Reflecte em mim o brilho que há muito se encontrava escondido por entre bosques nunca antes penetrados. Densas florestas cercadas de medos e pavores que todos temem.
Quero um quadro que me auto-defina. E quero-o bem feito. Que seja a guache, aguarela, acrílico ou óleo. Que seja feito com variedade de métodos e de materiais, mas que seja teu e que te identifique.
Que seja uma pintura não material, porque os sentimentos vão para além das palavras, transcendem-nas, transcendem-nos. As palavras são concretas e o mundo introspectivo sensacional não.
Portanto, pinta-me no teu pensar. Com as palavras insuficientes que quiseres, com as recordações que tiveres, mas relembra a minha pintura na tua imaginação ainda fértil, ainda com tanto que progredir, ainda com tanto para aprender e ensinar. Tal e qual a minha, com o retrato que te pintei…

sábado, 15 de novembro de 2008

Muros


Falo por entre muros que me viram as costas. Já nem eles me querem ouvir.
O expressar tornou-se algo pessoal e impossível de comentar seja com quem for.
Abrir a boca… só se for a do inferno porque a minha mais vale estar selada.
E vai daí... sele-se também o coração para não arcar com qualquer parvoeira que me faça deprimir.
Que se me troque esta cabeça que tem graves problemas funcionais pois nada do que me comanda merece realmente a pena fazer.
Preciso de ar, de respirar um ar que não este, poluído de palavras incipientes… Preciso de organizar as ideias e colocar todos os pontos nos is.
Continuo a papaguear tudo o que me vai na alma e tudo permanece indiferente. Até eu já me fartei de me ouvir, de me compreender.
Talvez o melhor seja mesmo a evasão. Só queria saber para onde e como…E o que apenas sei é fazer de mim uma pessoa triste. Tenho um problema nas minhas funções cerebrais. Talvez o melhor mesmo seria mesmo um tratamento exaustivo acerca do que se deve ou não fazer, para ver se apreendo duma vez por todas a não me auto-mutilar !!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Asas Para Voar


Dá-me asas para voar.
Para ser mais que os pássaros que rasgam o céu.
Quero ser uma nuvem com formas estranhas para rirmos ao mirarmos o céu azul e infinito. Com a sua cor tão bem definida e impossível de retratar.
Diz um outro nome meu. Inventa-o.
Recria-me. Quero fugir.
Quero estar e sentir-me noutro lugar porque neste já não me sinto há muito tempo.
Elevei os pés da terra, agora só preciso do par de asas que me resta para ser num outro lugar.
Espera-me o desconhecido. E tenho esta necessidade fortíssima e arrebatadora de me ausentar. Só me apetece apagar da minha memória grandes momentos. Esquecer-me de quem fui e sou. Um erro, se calhar. Todavia, neste momento em nada mais quero pensar.
Estar aqui presente ou não estar é simplesmente o mesmo.
Diz-me que eu vou.
Mente-me com todos os dentes que transportas na boca.
Mais uma vez sonho e nada se concretiza. Vou deixar de sonhar para não me iludir.
Vou agarrar-me com unhas e dentes à realidade que magoa e vou ser triste como todos os outros
...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Devolve-me quem eu era


Fecho os olhos e deixo as lágrimas corajosas invadirem-me o rosto.
Não há forças que me restem. Tudo me leva, tudo me consome. Estou sozinha e entregue à minha sentença. Tenho aquilo que mereço. A confusão na qual me meti e agora imploram-me para aguentar o que não consigo.
Não adianta sorrir se não tenho sorriso para mostrar.
Quero ser quem perdi.
Encontrar-me no vácuo e falar sem que a minha voz ecoe no nada que não me responde.
Sinto cada lágrima como se fosse a última. Como é possível fazer um mar de mim por uma só pessoa?
Quando me apareceste eras tão diferente. Tão receptor dos meus sentimentos e recíproco.
Perguntas como é que isto nos aconteceu e apontas-me o dedo quando por muita coisa que eu tenha sido, tu foste muito pior! Fizeste-me coisas impensáveis e imperdoáveis que eu nunca te faria, mas que te perdoei.
Olha para ti. Um homem feito com tão pouca cabeça. Demasiado confiante daquilo que não é.
Não queres saber de como me sinto. Falas como se eu fosse forte, mas eu por muito que queira, já não o consigo ser.
Sou nada. Vagueio por um lado qualquer que não me interessa porque não me sinto nele.
Estas emoções tão condoídas já não me deveriam pertencer.
Olho para o céu infinito e quero nele morar, longe desta terra pecadora que piso!
QUERO!
QUERO SER GRANDE!
QUERO SER LONGE DAQUI!
Pertencer a lugar nenhum, onde ninguém eu conheça e que ninguém saiba nem queira saber de mim. Onde puderei ser eu sem pudor nem receios.

Devolve-me quem eu era.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

'And It Feels Like Tonight, I Can't Believe I'm Broken Inside'




Não sei como é que depois de todas as águas passadas, a tua presença infame ainda me incomoda tanto.
Vagueia para outro sítio e deixa este meu luarzinho no meio da floresta que me retém salvaguardada.
As tuas armas falíveis e corruptas não me conseguem daqui atingir. Todas as tuas tentativas serão falhadas. Desiste. Cessa como já o fizeste. Dá pelo menos uma vez na vida parte fraca e admite o erro.
Eu admito os meus. Com eles far-me-ei mais forte, e não me vou deixar cair noutra teia esburacada feita por um aranhiço qualquer em fase de decomposição.
Quero redimir-me de todos os meus equívocos e, principalmente, de ti.
Tu que me transformaste em quem não sei e, que levaste o melhor de mim sem o saberes aproveitar. Deitaste tudo de mim ao mar.
E agora deito eu momentos, sentimentos, lembranças, palavras, gestos um tanto ou quanto não sentidos. Quero libertar-me de ti e de tudo o que me fizeste ser.
Quero saber ser-me de novo. Sem medos, sem limites de expressões, tempo ou espaço.
Quero livrar-me deste sentimento de culpa que me detém como sua prisioneira.
Quero passar pelas grades que a ti me prendem e seguir na direcção da luz.
Quero reencontrar-me.
Vou reencontrar-me.
Nada do que faças me roubará a vontade inabalável que tenho de me libertar.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Do Alto Precipício


Saltei. Atirei-me do mais alto precipício.
Fechei os olhos, abri os braços e deixei que o vento me levasse para longe da terra firme.
Senti o meu corpo gelar ao entrar em contacto com a água lacrimosamente salgada.
Da cabeça aos pés não me senti. Mergulhada no Nada que nada era, quis apenas estar comigo, sozinha, para poder estar com os outros.
Estar comigo um tempo, no profundo oceano que tantas vezes procuro e me é distante. Quase me foge. Menos hoje. Hoje estava lá, ondulante e com um olhar incerto, receptor da minha dolência.
Enrolou-me na sua maior onda e ali fiquei estarrecida, revelando-me.
O problema nunca são os sonhos que imaginamos, mas sim o acordar. Acordar para ver a luz, para ganhar uma força que nos transcende, que em nós irradia, mas que não a podemos ver nem da sua existência saber.
E no fundo do alto mar, procuro o meu tesouro de pirata bem fechado como se espera. Todavia, mais do que procuro esse tesouro, procuro a única chave que abre tal delicada fechadura. A sua forma é tão simplesmente condoída e intrínseca e assume-se como minha procurada. Não sei ao certo o que procuro. Germina em mim a dúvida acerca de todas as coisas. As dúvidas do meu cepticismo inderrubável. Este não possui qualquer tipo de chave ou abertura para se assumir como Verdade absoluta.