Nem sempre são esses caminhos que mais ansiamos, aqueles
pelos quais mais lutamos, mas são os necessários. Acredito ainda que nem sempre
uma pequena alegria pode tapar o vazio que sinto, mesmo que esse vazio seja
desde o início previsível. Talvez seja um problema de força, de coragem, de
verdade, de entrega. Talvez seja um problema de uma coisa que é inata.
Faço de mim rio e sinto-me burlesca. Falo para comigo porque
as vozes que em mim ecoam são apenas memórias. Falo comigo para me sentir viva
e querida, para me consolar a mim mesma, para me dizer em murmúrio “vais ficar
bem”.
Precisava de algo novo, de algo sincero, de um vocabulário
que fosse um complemento do meu, que me entendesse e procurasse, que vivesse do
meu querer e eu do dele. Mas na verdade tudo é uma contingência, tudo é aquilo
que queremos que seja e esse querer é geral e não particular, é por isso que
magoa quando nos desilude.
Posso parecer ridícula com todos os meus grandes testamentos,
com todos os meus livros, com toda a
minha anti-socialidade, se é que tal existe, mas é tudo isto que me abarca quando
me sinto só. Isto e só isto. Não há ninguém. Nunca ninguém percebe e eu também
não faço disso assunto.
As pessoas próximas são como passarinhos que temos em casa,
se abrirmos a janela eles podem voar para longe, para muito longe e nunca mais
por nós serem vistos. Deixo os meus passarinhos voar porque também sou apenas
uma peça deslocada dos mesmos. Sinto-me incompreendida e lá certo é quando
alegam que nos fazem falta passarinhos que se assemelhem a nós. Talvez seja isso que tenho
em falta. Talvez seja isso que me faça abrir a janela. Talvez seja isso que me
deixe maribunda, falando comigo mesma por longas locuções estranhas a todos e intrínsecas para
mim.
Pareço um bicho do mato que se esconde do mundo. Quer proteger-se,
mas acaba sempre por ser descoberto. Não tenho soluções para mim mesma sem ser
dizer-me que nem tudo é, como já disse, como queremos porque o mundo não se
passa na nossa cabeça, mas fora dela. O tempo esse, que nos mata e consome, que
tantas vezes é menor e maior, esse e só esse nos vai passando ao de leve a
impressão de que algo voou em tempos, embora já nem me recorde se pássaro era.
É o mais demorado, mas não há dúvida que é o mais eficaz.