sábado, 1 de dezembro de 2012

Dentro da Caverna

A minha escrita não morreu, persiste embora desacertada e sem nada que lhe acrescente valor ou novidade.
É como um corpo jazido, sem reacção, que está lá mas não está. É uma presença não presente, é um presente que já foi. "É um contentamento descontente".
Não sei mais se é salvação ou a minha crucificação, todavia sei-a incompleta, fragmentada, ridícula, fatigante, redundante, incolor.
Não a sinto mais como refúgio, não sei mais como a sentir. Os temas não desenvolvem nem progridem e a minha decadência é a corda que eu própria coloco à volta do pescoço.
Acredito em utopias que me fazem sofrer e são o meu degredo, a minha morte. Daí não consigo florir nem renascer, não consigo crescer nem aprender, não consigo ser-me. 
Embrulho-me na minha mágoa e sufoco-me, faço-me verter sem me oferecer qualquer solução.
Parece que mesmo sabendo o quanto me corrói, eu prefiro continuar na caverna.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Incorpóreo

As palavras saem ao contrário, de pernas para o ar, ditas e malditas, proferidas sem sentido, à toa, são qualquer coisa, são coisa nenhuma, a minha sorte é o meu azar.
Canso-me de viver num rodopio do qual não saio. A minha insegurança é a minha morte e as palavras nunca me salvam. Sinto-me um pedaço de nada, perdido e abandonado que a ninguém faz jeito.
Predomina aqui qualquer coisa que desconheço, mas que é forte porque me mantém, apegada à mágoa e incapaz de a ultrapassar, de vencer as palavras e ser mais que elas.
É como decidir por fim espetar-me num muro de picos sobre os quais sei que doem mas não matam e não sou capaz.
Queria mudar-te, para melhor. Abrir-te os olhos e fazer-te ver que a vida tem tanta cor e olha para mim tão colorida. Mas teimas em cerrar os olhos e abraçar o teu dogmatismo até ao fim onde lugar para mim o não há. Devias acordar e ver que não sou o sol, mas também não sou a lua, sou um intermédio aceitável que recusas ver. Vês-me como algo cadavérico em decomposição, jazido.
Talvez estivesse melhor com um arco-íris e tu com uma cor só que exalte o pior de ti, como tanto aprecias. Sinto que sou demasiado fraca para estar contigo e vencer as tuas palavras maldosas, sou demasiado fraca para te conseguir abrir os olhos, para te fazer sentir algo nesse coração que deixou de bater há anos...
Um dia vais valorizar-me, acredito que sim, mas será demasiado tarde para utopias.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Peça Deslocada

Sinto o vocabulário redundante e cansativo. Caminhando numa direcção sem fim, sem rumo, sem intermediários, sem nada, caminha solitário.
Nem sempre são esses caminhos que mais ansiamos, aqueles pelos quais mais lutamos, mas são os necessários. Acredito ainda que nem sempre uma pequena alegria pode tapar o vazio que sinto, mesmo que esse vazio seja desde o início previsível. Talvez seja um problema de força, de coragem, de verdade, de entrega. Talvez seja um problema de uma coisa que é inata.
Faço de mim rio e sinto-me burlesca. Falo para comigo porque as vozes que em mim ecoam são apenas memórias. Falo comigo para me sentir viva e querida, para me consolar a mim mesma, para me dizer em murmúrio “vais ficar bem”.
Precisava de algo novo, de algo sincero, de um vocabulário que fosse um complemento do meu, que me entendesse e procurasse, que vivesse do meu querer e eu do dele. Mas na verdade tudo é uma contingência, tudo é aquilo que queremos que seja e esse querer é geral e não particular, é por isso que magoa quando nos desilude.
Posso parecer ridícula com todos os meus grandes testamentos, com  todos os meus livros, com toda a minha anti-socialidade, se é que tal existe, mas é tudo isto que me abarca quando me sinto só. Isto e só isto. Não há ninguém. Nunca ninguém percebe e eu também não faço disso assunto.
As pessoas próximas são como passarinhos que temos em casa, se abrirmos a janela eles podem voar para longe, para muito longe e nunca mais por nós serem vistos. Deixo os meus passarinhos voar porque também sou apenas uma peça deslocada dos mesmos. Sinto-me incompreendida e lá certo é quando alegam que nos fazem falta passarinhos que se assemelhem a nós. Talvez seja isso que tenho em falta. Talvez seja isso que me faça abrir a janela. Talvez seja isso que me deixe maribunda, falando comigo mesma por longas locuções estranhas a todos e intrínsecas para mim.
Pareço um bicho do mato que se esconde do mundo. Quer proteger-se, mas acaba sempre por ser descoberto. Não tenho soluções para mim mesma sem ser dizer-me que nem tudo é, como já disse, como queremos porque o mundo não se passa na nossa cabeça, mas fora dela. O tempo esse, que nos mata e consome, que tantas vezes é menor e maior, esse e só esse nos vai passando ao de leve a impressão de que algo voou em tempos, embora já nem me recorde se pássaro era. É o mais demorado, mas não há dúvida que é o mais eficaz.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Desencontros

É engraçado como dentro do baú tudo o que sai tem pó e um grande peso temporal.
Sinto saudades minhas, se é que é possível. De quem eu era, daquela rapariga particular que acreditava nas pessoas e podia até pensar de modo semelhante a tantas outras, mas era peculiar à sua maneira. Agora vejo alguém que pelo caminho deixou cair palavras e nunca ninguém as apanhou. Perdeu-se, perderam-na. Não sente, não se sente, não é sentida.
O seu toque é frio e a sua pele é pedra. Perdeu a cor e o brilho, só vê prosa, perdeu a rima.
A inspiração que a definia, que definia e diferenciava os mais próximos dos mais apartados. Usava a prosa para a desgraça e a poesia sempre para o sorriso.
Não sei quem escreveu as palavras do poema que encontrei perdido no baú. Sentia-o como algo distante ao ponto de ter a necessidade de relembrar, mas não o pensei tão inocente. Cada palavra era uma promessa, era um brilho no olhar de uma rapariga ingénua e menininha que não fazia a menor ideia de que as palavras magoam e as mentiras, pois bem, moldam o mundo. Não sabia que este eien teria a importância que se mostrou e que o erro nos emaranhasse e parecesse luz.
Ler as minhas palavras, ler as tuas. Já faz alguns anos. Não é que estejamos velhinhos, mas as palavras tornam-se velhas e os sentimentos também. Transformam-se. Acho que compreendo agora um filme que me incomodou tanto, talvez porque não queria aceitar a sua veracidade.
Às vezes, mesmo que realmente se sinta algo por alguém, com o nosso crescimento, também crescem os sentimentos e não quer isso dizer que não tenham sido verdadeiros, mas por vezes quando estes
 crescem, crescem em direcções opostas. Não creio que tenha sido esse o nosso principal impedimento, mas aquilo que me impede de acreditar é a sensação que tenho que nunca sei se é real ou fictícia, os teus indícios não são concretos e deixam-me sempre à borda de água.
Não te consigo escrever, mas tinha que me escrever a mim. É tempo de me acertar, de me encontrar sem saber como. Apesar de magoar, não vejo a minha ingenuidade como algo difamatório mas antes como algo puro e importante, raro.
Sei que as tuas antigas palavras não me pertencem, as atitudes mostram-no à luz do dia.
Queria não me inventar desculpas e ir à minha procura. Mas o fim é sempre o amanhã e enquanto este chega e não chega, a rapariguinha que talvez um dia qualquer te interessou, afasta-se, de ti e de mim. Vai para longe, desencontrar-se.

As nossas roupas estão apertadas demais, engordamos a nossa personalidade, resta saber se no sentido certo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Longe

Queria-te em todos os lugares e mais algum, menos em mim.

Utopias

Queria evadir-me daqui para um lugar verdadeiro. Queria sentir que pertenço. Queria não ser demasiado ingénua, queria não acreditar. Queria ter um coração de pedra. Queria ser sem ser. Queria tornar-me num símbolo de força. Queria ser paz. Queria ser luz. Queria ser o que não consigo ser. Queria não ser o que me tornam. Queria ser querida. Queria ser dona do indizível. Queria não me afogar. Queria ser um barco de resgate e não resgatada. Queria ir sem vir. 
Queria que as minhas utopias fossem concretizáveis.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Por Isso Vem"

Nem toda a claridade é luz porque o claro por vezes é apenas uma pequena impressão que temos da imensidão da escuridão. As suposições nada mais são do que palavras engolidas pelo negro, pelo fundo e perdem-se no Nada.
O sentido deixa de o ser e dá lugar a tudo o que se lhe opõe, transforma-se naquilo que nunca foi. Curioso... poderemos também ser aquilo que não somos? Quiçá as encruzilhadas da vida não nos levam a fazer essa mudança que dissemos tão vigorosamente que nunca as faríamos. O nunca é como o sempre, são opostos que no fundo querem dizer a mesma coisa - não nos utilizes - porque as voltas que damos são mais que muitas e estas palavras nunca (cá está) viverão do seu verdadeiro sentido. São verdadeiras utopias, inconcretizáveis mas sonhadoras, promessas que sabemos que não sabemos realmente se alguma vez se haverão de cumprir, porém, dizêmo-las de qualquer forma. Saem simplesmente, com uma firmeza tal que se crêem como realizadas.
Na realidade o que me aflige são as palavras, são a minha dor, o meu tormento. Porque para mim  estas pequenas verdades são isso mesmo, pequenas verdades. Cabe aos seus utilizadores o seu bom ou mau uso. Aqui entra então o conflito porque por muitas expressões que pensemos, a priori, corresponderem a certas palavras têm compreendidas no seu interior as suas contradições. São as tais palavras que não se ouvem de início e que quando se fazem por ouvir querêmo-las mudas.
Por isso, mais do que qualquer outra coisa é uma dor psicológica que não passa, mantém-se cá para nos relembrar a sua existência.
Ainda vivo na utopia de que nem todo o claro é escuro, de que nem todas as palavras significam na maioria dos casos o seu oposto, de que nem todas as pessoas se refugiam numas por negação a si próprios. Vivem rebeldes com o seu interior, lutando para se encontrarem, para saberem que palavras vestem, para saberem que expressões são transparentes e o que querem passar de si próprios.
Talvez ainda viva também eu muito em rebelião comigo mesma, mas a minha transparência é clara e o meu uso de “pequenas verdades” tem o seu total sentido e não o contrário. Não me refugio em antíteses para esconder o medo. Mais vale admitirmos que a nossa carapaça não é de ferro é igual a todas as outras.  Julgo que seja esta a forma correcta e, por isso, nada mais é do que uma utopia que nem eu consigo sempre fazer jus à mesma. E porquê? Porque o sempre e o nunca são também utopias com as quais cometemos sempre o erro de as proferir e quebrar, atrevo-me a dizer que são promessas que são à partida quebradiças.

domingo, 18 de março de 2012

Com que palavras te vestes?

As palavras voam com as asas grandes que têm. Assumem as formas mais diversas e percorrem os caminhos mais encruzilhados, mais empalavrados, mais indefinidos, mais ou menos sábios, mais ou menos queridos. Sabem estar a qualquer momento sumptuosas, sempre que bem pronunciadas, e exaltam-se tal qual um pavão vaidoso, tão cheias de si, ostentadoras de verdades. Assim as queremos tomar, como verdades. Mas a Verdade como tão bem a sabemos também ela percorre um caminho denso e frívolo, ou não fosse ela própria uma palavra, de modo que dificilmente as distinguimos de todas as outras. Soam de igual forma, embora umas nos sejam mais próximas que outras. Por vezes nem tanto pelo seu significado, mas por quem as diz. Acho bastante engraçado a importância que os sentimentos têm em todas as coisas. Tudo depende disso mesmo.
Tenho um afecto particular por estas locuções voadoras tão certeiras, tão indispensáveis, até mesmo quando não assumem a sua forma original sabem transmitir-se de tantos outros modos.
Talvez seja por isso tão difícil receber aquelas que são proferidas singulares, frias, desacompanhadas, ditas para matar, para ferir. Uma vez expressada cá para fora não há como a colocar outra vez lá dentro, quanto muito, muda-se o discurso para algo ainda mais palavroso, construído por camadas de palavras, para que prevaleçam as de cima e não a da base, a que sustentou tudo aquilo que não deveria ter sido dito. É, portanto, um controlo que nem sempre temos, principalmente sobre aquelas que dizemos sem falar. Dessas poderá dizer-se que são as mais espontâneas e sinceras, porque são momentâneas, não são pensadas, dizem-se simplesmente porque é uma reacção a qualquer coisa e, como tal, agem primeiro que o próprio pensamento.
Contudo, nem todas elas se rodeiam de amigos que gostamos de ter por perto e por essa mesma razão, nem todos os encontros são bons. Nem todos vêm na altura que queremos porque estão por todo o lado e entram sem permissão. Umas ficam, outras dão lugar a novas e são as que ficam que nos moldam. É com essas palavras que nos definimos sem termos bem a noção de que as vestimos. É uma roupa de palavras. A grande questão que reina em todos nós e que queremos sempre saber mesmo que, no entando, nunca se obtenha a essência da pessoa, é levantada quando nos perguntamos interiormente “Com que palavras te vestes?”

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pedras da Calçada

Continuo a caminhar em círculos, sem direcção nem rumo, sem esperança e sozinha. Quero acreditar no bom que há que não vejo que existe. Estou cansada de me ser, queria ter forças para me combater e jorrar parte de mim, mas o tempo não age a meu favor e a memória corrói-me e cansa-me. 
Nada sou para ti, nada valho. Sou apenas uma peça que emolduraste mas que escondeste da multidão. Nem tu queres saber as minhas cores ou lembrar-te de que modo sorrio.
O pior de tudo é já ter perdido a conta de quanto mal já me fizeste e ainda assim sentir-me tão perto e tu sempre tão distante. 
O teu frio gela qualquer lugar e as tuas palavras nem todas juntas fazem sentido. És tão feio, tão feio, como podes ser assim? Como?
E mais importante de tudo, como posso eu permitir-me isto? Este estado em que fico quando eu só peço um abraço seguro? Não sei de mim, não consigo responder às minhas próprias perguntas e tudo é indiferente, sem importância, sem nada.
Sinto-me tão ridícula. Como se batesse vezes sem conta com a cabeça contra uma parede sem nunca aprender que a sua continuação me magoa e que deveria parar. As palavras que te quero dizer não saem porque infantilmente continuo a acreditar que vens, que me queres, tal qual como sou. Mas são só mentiras que tu me contas e nas quais eu acredito e acredito, vezes sem conta, sem questionar sequer.
Serei assim tão horrível para ti? Que há de errado comigo então? Saberás dizer-mo? Ou não sabes apenas lidar com alguém que realmente te oiça e respeite? 
Talvez seja esse o problema e eu esteja apenas a interferir no meio das tuas conquistas... Não há palavras que descrevam como me sinto, quão suja me sinto. Mas mais ainda não haverão para te descrever, a ti e às tuas atitudes cobardes e maculadas, tão falsas quanto tudo o que aparentas.
Não sei já quem és. Nem tu próprio. 
Procura-te porque nesse trabalho ninguém te poderá ajudar. Vai contando as pedras da calçada e vê quantas foram e quantas há por contar. Jogaste-me no meio delas de novo e é por lá que eu decidirei então ficar.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A pressa do Esquecimento

Diz-se correndo, “o teu passo apressa o esquecimento” (Milan Kundera, 1995). Corre que nem um tolo. Cada passo é tão certo de si que se convence que a linha temporal está no chão que pisa e, portanto, a sua velocidade está intimamente ligada com esse processo de evasão da memória.
Considero-o tolo pois quanto mais quer esquecer mais se recorda porque está repetidamente a lembrar-se que se tem de esquecer. Perturbante.
Talvez só ocupando a mente com uma outra coisa o acalmasse, o fizesse pelo menos não ter tão presente a memória, ou então talvez devesse reconsiderá-la e percebê-la, a fim de conseguir esquecê-la por não ser já uma preocupação. Claro que, se possível.
Mas este tolo é como uma antiga chaminé cuja quantidade de fumo que dali sai é quase a todo o momento. Vive numa frustração e não será certamente um epicurista.
Foge da sua própria memória e quer correr no tempo.
Corre dos problemas embora caminhem e avancem todos consigo, ao mesmo tempo . Está condenado à sua mesma recordação, preso àquilo que ignora, pelo simples facto de saber que quer ignorar e, por isso, não ignora.
Infantilmente cometemos esta falha, como se a velocidade afastasse pensamento, mas não. Talvez apenas o êxtase da mesma. Tudo o resto apenas gera uma rebelião connosco mesmos e um turbilhão de sensações fervescentes.
A matemática até pode traduzir isto numa fórmula proporcional o que não quer dizer que seja realmente vencedora pois, como disse, o querer esquecer é o lembrar.
Faz então sentido que em todas as vezes que me quis esquecer não consegui. Nunca esqueci. O truque penso que esteja no aceitar a realidade de peito firme, ou não tão firme, mas aceitá-la porque o tempo, esse sim, leva a “aceitação” à rotina, à indiferença e ao esquecimento.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Imagens

As imagens nem sempre são o que parecem e a sua lucidez é por vezes o menos lúcido, o enevoado, o incompleto, o por mostrar.
São um segredo.  Um segredo que não sabemos, mas que o temos guardado, não sabemos bem em que gaveta, nem tão pouco que tipo de chave se é que existe. De nada se sabe. É como se nem sequer lá estivesse. O pensar deturpa as imagens e mistura-as, confundindo-nos as sensações, confundindo-nos os sentimentos.
A verdade afasta-se tanto quanto se aproxima a mentira. Tão sumptuosa, tão certa de si mesma, tão falsamente credível. É difícil saber pelo que não optar, é difícil ter uma certeza e ser essa mesma certeza o mais certo para se fazer.
Como se pode distinguir tal coisa? Por que é que não pode ser simplesmente acessível?
As promessas são apenas uma invenção quebrável, não sincera e não suprível. São como algumas palavras, ditas por quem não sabe o que valem.
Enevoadas como as imagens, invadem-se, escondem-se e mostram-se, confunde-se o real com o irreal e eu confundo-me com a imaginação que crio... não sei em que acreditar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Problema de Expressão

Por breves momento respirei. Inalei um ar puro destemido, exuberante, tão natural e respirável. Não tinha quaisquer impurezas. Era forte, capacitado e detinha sobretudo o poder de se Ser. Poder importante que nem todos o conseguem atingir ou descobrir. Encontra-se sempre coberto por entre muitas outras substâncias que ninguém nunca sabe muito bem o que são, mas sabe-se que existem, diz-se que. Diz-se muita coisa. E realmente por vezes o problema passa mesmo pelo dizer. Pelo que se diz e pelo que não é dito, como disse, o problema é de facto um problema de expressão. Não um qualquer. Denote-se que a expressão é tão infinita quanto o horizonte e, portanto, quero apenas limitar-me entre o correcto e o incorrecto. Isto é, por entre tanta liberdade de expressão proferem-se coisas várias e outras tantas ficam por dizer, sendo essas as mais importantes de se tornarem audíveis. Claro que este problema não é geral, mas eu sinto-o relativamente a muita gente. E, claro está, que associada à palavra expressão está o veredicto da coisa.
Não me vou ocupar com este tema que tanto batalho, mas é realmente estranho como tanta gente se exprime e, ao mesmo tempo, sofre de falta de expressão. Também não devia ser minha ocupação tentar perceber os comportamentos que sinto como alienígenas. Deixa-los-ei estar, talvez um outro dia, com umas outras palavras, exprimirei o contrário ao meu pensamento. Se tal acontecer, as minhas palavras nada mais valerão, terei ficado doente, apática, sem expressão.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Música

Passaram dias e dias. Passou um ano inteiro e a música que te descreve continua a mesma. A mesma composição, o mesmo ritmo, cada verso…
Devia ser passado, devia ser qualquer coisa que se desvia, que passa ao lado, que não me atinge, mas antes pelo contrário, fere-me como se fosse ontem. Como se as palavras para ti fossem só qualquer coisa que a tua boca sabe exprimir, mas que nem sabes bem o porquê nem o que querem dizer. Simplesmente dizes porque é do momento, qualquer coisa que se adequa, que fica bem. Pensei que de sinceridade vivesse o mundo, mas é o contrário. Desta  ele
mingua. A força está na mentira e todos se cobrem dela porque por alguma razão que não entendo se acham felizes por viverem encavernados, sem luz, nem paz, nem amor.
Amor. Palavra tão aguada, tão solta, tão comum e tão difícil de encontrar a sua verdadeira acepção. Klee afirma que “a arte não produz o visível, mas torna-o visível”. Eu alego que o amor é mais visível quando invisível. É qualquer coisa de inconstante que não se pensa. Ou é ou não é. E quem a sente, sabe-lo. Não precisa de o tornar visível porque já o é.
Julgo-me estrangeira e chamam-me tão vulgar. Todos dizem que o sistema é verdadeiro, mas é na realidade uma falácia que ninguém se apercebe. Estarei sozinha?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Single Word

I lost the track of time
Somewhere I lost myself
Everything seems what it is not
I want to believe but cannot

You are everywhere I go and you look like Spring
But deep in inside it looks very Winter to me
I cannot ask for what you do not have
I cannot have what you cannot give

Maybe, just maybe,
We are both lost and stuck in something we try to fix
But is not worth it.
And maybe, just maybe,
We are not the ones who need to be fixed
Maybe “we” is just a “you and I”
That should never have become a single word.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Momentos

São momentos. São dias. São determinados apetites insatisfeitos e melancólicos que já trazem o cheiro de uma nostalgia que nos prende e que nos não quer largar.
O mundo é tão grande, tão grande e eu sou tão pequena.
Às vezes oiço o vento e canto sozinha só para me ouvir e não me sentir desacompanhada mesmo quando só quero estar comigo.
E sim, lembraste? Lembro-me de tanta coisa, de tanta coisa que ficou a pairar na minha imaginação e outras tantas que ficaram estagnadas no patamar do indizível querendo soltar-se, mas sempre com renitência.
Oiço uma música que vem de dentro e faz-me render-se-lhe. Entrego-me e deixo-a guiar-me, parece saber bem mais que eu. Esqueço-me do momento e penso nostálgica naquilo que passou e em todas as coisas que são tanto para além de mim.
Lembro-me que o tempo passa de rasgão e acena-nos depois com um sorriso nos lábios como se soubesse a falta que nos faz, a marca que nos deixa e este sentimento sempre insaciado de querer que se chegue mais de perto, só para lhe vermos o rosto de relance, só para sentirmos o que já sentimos, só para tentar esconder a saudade.
A saudade tal como a nostalgia são ambos sentimentos fortes e, nalguns casos, insaciáveis. Isso fá-los grandes, concedendo-lhes um valor tal que nem temos logo noção.

O Novo

Sinto o cheiro a novo, um aroma bissexto que paira no ar e fica e se entranha e é todo ele carregado de esperança, de novidade, de força.
Parece que o erro não tem aqui lugar, anda perdido, desencontrado.  A vontade de sorrir é incontrolável. Pairam pensamentos idealistas, novos conceitos, novas tarefas, novos objectivos para concretizar, novas alegrias e tudo isto se espera num dia tão solarento como o de hoje.
Imagino com a coragem que as palavras se libertam da boca como passarinhos que começam a voar pela primeira vez, carregados de inexperiência e cobertos de uma inabalável esperança. Os seus olhos brilhantes, reluzentes de confiança, cantam agora uma insipiente canção, acompanhada apenas de um sentimento puro e profundo, genuíno, apelando à crença na Felicidade.