segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conchinha

Vou escrever. Se tenho uma diferente temática? Sim, tenho. Novos temas sobre os quais me debruço, mas não hoje. Hoje fui toda eu pintada de um denso cinzento, indiferente. Cinzento como o tempo que hoje se pôs, como o vento atroz que soprou, como a chuva impiedosa que do seu céu se desfez e caiu sem pensar.
Hoje também eu não queria pensar e ser de um cinza sem sentir coisa alguma. E ser o que não é. Estar presente não estando, gritar sem qualquer som emitir, fechar a minha conchinha e só dentro dela e a ela me confessar.
Já não lhe dou as minhas palavras pois o preço das mesmas acresci tendo em conta o vocabulário burlesco – e desprovido daquilo que o faz não ser oco –, que por todo o lado vagueia. Não, as minhas palavras são diferentes. São robustas e bonitas, cheias e fortes, significam.
As minhas palavras significam. Mas ao serem palavras, é-lhes atribuída a mesma conotação que as outras e, como vence o maior número de cabeças, as minhas morrem afogadas sem ninguém dar conta, sem nada nem ninguém que as salve.
Não posso comunicar por palavras, mas outro método não desejo para me exprimir. Hoje encho-me de palavras minhas que são tanto, mas que no meio da multidão um Nada são. Escrevo e parece que nada digo.
Ainda bem que só me confesso a mim mesma. Hoje, conchinha cinzenta, só tu me ouves e compreendes, só tu me proteges, só tu sabes o quanto te engordam as minhas palavras.
Hoje, conchinha, apesar de estar toda eu pintada a cinzento, sabes bem a quantidade de infinitas cores que detenho. Só tu sabes, conchinha. Só tu.

Duas Realidades

É outro mundo, são dois momentos distintos que se anulam.
São outros pensamentos, são outras palavras, outros alinhamentos, diferentes (des)equilíbrios.
É uma outra atitude, numa outra rebelde e jovial maneira de estar.
São olhares penetrantes que mesmo observando a mesma coisa o mesmo não vêem. São outros tons vocais, são onomatopeias não estereotipadas.
São interesses que não se completam que, quanto muito, se opõem.
São diferentes. São duas realidades antagónicas.
É o concreto contra o abstracto.
O azeite com a água. Não se misturam.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Música vs Silêncio

Amo a música. Faço dela a minha voz interna, faço dela o meu ser. Preencho-me nesse todo e sinto-me como que evadida para uma outra dimensão incognoscível por todos, menos por mim. É o meu espaço, o meu mundo ao qual recorro numa loucura desvairada de me querer ser para mim e revelar-me só a mim, como se ali ninguém pudesse saber o meu nome nem me ver, onde a verdade seria uma constante e todas as coisas significariam. Nada é em vão e as palavras são tidas quase como uma decoração interior, a falta desses objectos ou o exagero, o Kitsch, faz diferença. É nessa realidade que eu me iludo. E talvez possa não ser o mais correcto, mas é o que me faz perdurar ainda a vontade de acordar num amanhã que terá de vir, pois o tempo é incontrolável.
A música tem este poder todo em mim. Talvez por essa mesma razão as pessoas me vejam feita louca quando me observam com aqueles olhares críticos e pejorativos, negros e dolorosos, falando sem palavras daquilo que não percebem. Falta sentimento a estas máquinas que se movem e coexistem segundo uma força qualquer superior que não entendo nem quero, tenho receio de ser também um deles.
A música traduz todas as minhas emoções, boas ou más. E eu sou com ela, sinto-me com ela, sou importante com ela, por ela e para ela. Ela é quase como o meu sentido orientador.
“Nós amamos a música porque se opõe ao silêncio.” É uma afirmação completamente válida e verdadeira. Todavia, não me é possível não me ser em cada melodia - a própria palavra já sugere um mundo externo aprazível - e não é que eu não goste do silêncio, às paredes confesso que amo a música porque tenho um medo astronómico do silêncio, daquilo que o mesmo me proporciona muitas vezes. Se a música para mim se resume a uma evasão minha para uma utopia que eu mesma criei, o silêncio destrói tudo isso e deixa-me como que num quarto escuro, sozinha com os meus pensamentos. E o pensar destrói-me, corrói-me, mostra-me a Fealdade, a realidade nua e crua e eu choro, mas as lágrimas não limpam atitudes nem saram feridas, não ajuízam as pessoas nem conseguem ser capazes de mudar nada. Acontece exactamente como acontece. A minha memória retém tudo isso e é no silêncio que tenho vergonha de ser uma pessoa, é no silêncio que me quero despir de mim, de tudo.
É no silêncio que eu abraço a realidade e morro no meu próprio leito.
É no silêncio que eu tenho medo e, por isso, embora me regozije nestes momentos de lucidez, temo-os. Parece mortífero, maligno, repudiável. É uma caverna sem luz.
É no silêncio.


P.S.: Sinto a minha escrita cansativa e repetida, quero escrever sobre tantas coisas e não sei como, parece que me faltam as palavras. Embora este texto ainda não esteja como eu o gostaria de escrever defendo, a meu ver, uma ideia muito forte que precisa de ser expressa.

Sopro do Vento

Tenho os pés gelados, já se sente o avizinhar de mais um Inverno. O vento sopra lá fora, gritando e afugentando enraivecido os males do mundo – as pessoas. Se pudesse, soprava com ele.
Sopra também à minha janela procurando afastar-me mais para onde eu não sei, para onde não caibo nem lugar tenho.
Se lhe contasse um segredo sei bem que ele não o manteria sobre esse mesmo estatuto, mas eu sentir-me-ia tão mais aliviada se ele me ouvisse. A verdade é que nem sei o que lhe dizer nem contar. Queria contar tanto de mim e não consigo. Fui-me perdendo por entre densas entregas e, de mim, já pouco detenho.
Estou que nem um puzzle de mil peças com apenas duas montadas. Todas as minhas peças parecem incompatíveis umas com as outras, díspares e confusas sem nada que as ligue entre si nem elas a mim.
Pergunto ao vento por mim numa atitude já saturada de me ser, mas ele apenas sopra. Sopra louco, desvairado, forte e imponente. Sopra porque sou também pedaço de carne maligna e pecadora. Sou também pessoa. Pessoa que ele quer afastar, mas desta vez, para eu não mais a mim mesma afectar.