Vou definir-te. Sinto uma necessidade exacerbada de o fazer. Quero chamar-te pelo nome que te engloba como um todo, que te bebe e possui, que te envolve e me embriaga.
Tens um olhar que é meigo e que me diz que é seguro. Mas não é meigo, é calmo. Não é calmo é intrigante e faz-me querer sabê-lo. Não se sabe é incognoscível. Mas assim também o não diria… queria apenas uma palavra para definir o teu olhar.
Tens um cheiro teu. Não é de rosas, nem de qualquer tipo de flores. É suave, é doce, assemelha-se à pele de um bebé. Mas é totalmente diferente. É, ao mesmo tempo, leve e pesado. É forte, é teu, completamente teu, tão singular… quem me dera conseguir defini-lo numa só palavra.
Tens uma voz inconfundível. Ecoa nas minhas paredes sapiente, parece saber o lugar meu. É grossa e rouca. É forte e altiva, alumia-me, mas não é rude. É reconfortante. É apaziguadora. E quando me soa baixinho, como que em sussurro ou num murmúrio, morro num só momento. Perco-me completamente e faço-me ser da voz que oiço para que a guarde sempre em mim. É incrível como um único som pode ser tanta coisa e coisa nenhuma, pois ainda não encontrei uma palavra que a voz te defina.
O teu toque. Parece magia. Enfeitiça-me. Sinto-me em lugar nenhum que não sei determinar. Perco quaisquer noções de tempo e de espaço. Tens um toque aliciante. É carinhoso e rude, áspero e terno e esta dualidade faz-me ansiá-lo sempre. Queria defini-lo numa só palavra.
Sabes… Sabes a… não é nem morango, nem menta, é doce… mas não o é. Parece que contém acidez, mas não sabe a nada disso. Sabes a uma mistura de coisas agradáveis, rosa, jasmim, morango, uva, chocolate... chocolate! Com uma combinação de sabores ambíguos, como a laranja, o limão, a malagueta, a pimenta, a hortelã… Alias o suave, o puro a um género de acidez, que nada tem a ver com o que é ácido, mas que o é ao mesmo tempo… Impossível! É impossível definir o teu sabor numa só palavra.
Palavras.
Palavras e palavras contraditórias e complementares.
Palavras e palavras que nada dizem. São todas elas burlescas. Nenhuma delas te define e no entanto tentei escrever-te em tantas.
Pelos vistos, não és literatura. As palavras não são, de todo, ricas afinal. Se nenhuma te consegue definir significa que o vocabulário não é suficientemente extenso. Muito pelo contrário, é risivelmente pequeno, é pobre.
Ou então és tu que és demasiado… Não sei.
Sei que sou fruto da essência toda que és e que não sei definir. Sei que me enfrasco do teu perfume e outro não desejo. Quero beber do teu sabor. Quero ouvir-te mais uma vez com aquela voz que me faz ir e voltar de um lugar que não sei. É teu, pois só tu me mandas para lá. Quero sentir-me observada por ti, que o teu olhar me percorra e nenhum outro. Quero sentir-te. Abraça-me.