segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ilumina-me

Está escuro. Tudo parece desacreditado, inacessível, insaciado.
Falta-me luz e o amanhã soa a pesadelo. Tenho medo das palavras. Porque são as palavras mais do que armas mortais, mais do que espadas grotescamente aguçadas. São tudo aquilo em que ingenuamente acredito e me perco e me sacio. São o meu degredo. O meu erro. A minha incompatibilidade com o acto fugaz e repreensível de sonhar.
Porque o sonho não passará – nunca – do inconcretizável, das utopias vendidas, do sem lugar.
Queria ser iluminada, preciso de me prender sem arrependimento nem retrocesso.
Escasseia-se-me já a vontade e a coragem, toma-lhes lugar a cobardia e o vazio. É com insignificância que me sinto e a com que me não sinto aquando estou rodeada por uma multidão que esvoaça luzes no ar para iluminar o palco apagado mas tão presenciado.
E eu, que me encontro no meio de tantos e apercebida por nenhum, vou repetindo para mim em silêncio, querendo crer no incrédulo: "Ilumina-me enquanto não há amanhã". 

P.S.: Escrevi após ter assistido a um concerto de Pedro Abrunhosa. Depois de ouvir pela primeira vez a música "Ilumina-me" não lhe pude, de forma alguma, ser indiferente. É muito bonita, embora o facto de não conseguir acreditar na mesma me entristeça.