segunda-feira, 30 de maio de 2011

Memórias

Apaguei as memórias para não pensar, para não chorar, para ser mais que tu e eu, para já não mais contigo me relacionar.
Mas a impossibilidade de te apagar na tua totalidade me não deixa continuar um caminho recto, deturpa tudo aquilo que vejo e acredito e confunde-me, vejo tudo nublado, turvo, incompleto. Não sei como me sinto, sei que preferia não me sentir, não fazer de ti meu sal.
Quando me vais deixar? Como é possível? Diz-me como porque eu já o não sei dizer por palavras. Desaprendi. Desaprendi-me. Fui algures contigo e lá me perdi, lá fiquei e tu não me devolveste.
Uso uma máscara só para pensares que sorrio. Sei que mudei e até ouso dizer que me fortaleci por tudo o que já passei posso dizer que as palavras que oiço me não importam porque tomo-as à partida como: não sinceras.
Não sou mais um fantasma que te atormenta sem comunicar contigo. Sou apenas alguém que não deixas seguir, curar-se, apaixonar-se de novo pelas cores da vida.
Larga-me. Deixa de te ser em mim. Eu apaguei-te, como é que ousaste desenhar-te em mim de novo? Ainda que num esboço mal feito, quem te ordenou? Fui eu, só eu! Culpada! foge e arrepende-te de te envergonhares a ti própria. Sim, tu sem auto-estima, pessoa despida de si própria, que vendeu amor ao preço de nada.
Ainda te quero recordar. Não percebo esta minha vontade. Sou estúpida, não terei outro nome senão esse. Sou idiota, iludida, sou tudo aquilo que se ridicularize. Talvez ainda não tenha sido suficiente tudo aquilo que passei.
Quero lembrar-me de ti, mas apaguei tudo aquilo que me fazia visualizar-nos, menos a minha memória que, infelizmente, me lembra constantemente de ti, de nós, de tudo, do meu estado parvo aquando infantilmente sorria dezasseis vezes sem cessar sempre que apenas a tua mão acalmava a minha e o teu olhar - que se fingia terno - me dizia falsidades como “é seguro”.
Vivemos numa relação em relações diferentes, não complementares: estávamos os dois perdidamente apaixonados por ti.

domingo, 29 de maio de 2011

Vento

Sopra vento, sopra. Sopra as palavras sem enchimento que poisam desnorteadas no reino do Esquecimento. Sopra o que foi e o que não será. Sopra tudo.
Limpa as impurezas e faz-me não ouvir. Sopra vento se a mim sempre sopraste, se tudo sempre foi tão leve como o pó. Então sopra e deixa-me desamparada.
Sopra porque enquanto soprares sempre tens ocupação e eu de ti já tudo isso espero, não consegues desiludir-me mais porque fechei os olhos que já não mais querem abrir por ti.
Vento invejoso que queres ocupar-te de todo o imatérico do qual dependo, queres arrancar o que em mim já não existe, o que tu levaste num sopro fugaz e cruel, irrequieto e impiedoso, tão insensível e pecador.
Sopra vento, sopra. Eu sei que tudo o que por ti passa é mutável, sopra as expressões, sopra o que me construiu um dia, sopra a minha memória, sopra as palavras que nunca me pertenceram. Sopra. Tudo é teu lugar.
Sopra vento, sopra como nunca sopraste.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inspired by Poetry Slam

Foi-se.
Foi-se como algo que balança ao som da música que é leve e que domina o ar todo e o som, que me domina a mim e a tudo, que me sê. Que me pára a sede e me lembra, que me fortalece e me acompanha, que de algum modo me diz e não diz o que as palavras o não sabem. E os gestos.. os gestos circundam o incompleto e ficam ainda um tanto ou quanto por comunicar, por se exprimir, por dizer ao mundo que a vida é tão simplesmente o finito do impossível e o infinito do possível.
Pareceu-me ouvir dizer que o sol sempre aquece até mesmo quando se esconde, que o esconderijo do encoberto está mais visível do que aquilo que se pensa. E que o pensamento nada mais é do que uma dor que nos acompanha e que nos faz ser. Ser como somos, ser qualquer coisa, que não diste do tudo, que não se aproxime do Nada. Que nada se aproxime, quero tudo tudo longe, longe daqui. Porque o melhor som é o silêncio e os sentidos que me enganam já os sinto como algo preto, escuro, cavernal. Carnaval. Uma loucura de máscaras, de utopias, de sonhos não vividos, de vidas não sonhadas, de vontades. Impera a vontade.
Fá-la voz que se oiça, sentido que se sinta e se não engane.
Não desistas.

P.S.: Ontem tive o prazer de ir a Pecha Kucha e foi de facto muito inspirador. Não pude ser indiferente ao "poetry slam", que foram os que abriram o serão. Declamaram um poema muito expressivo e emotivo que me enriqueceu bastante pois eu gosto de escrever conforme me surge, conforme me sinto e tudo isto são uma amálgama de sons e palavras que se unem e vivem dessa união contraditória ou não, assumem a sua existência e foi lindo. Aconselho. O título do texto honra a noite de ontem.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Luva Branca

Não é um dizer que sim ou que não. Nem tão um pouco um gesto descontrolado que nos escapa. Chame-se-lhe acaso. Chama-se-lhe o que for, o que queiramos que seja.
Eu chamo-lhe a ironia do fado. Chamo-lhe as palavras que se me agridem como estalos de luva branca. Chamo-lhe vocábulos em mares revoltos lutando contra aquilo que alego. Chamo-lhe guerra.
Chamo-lhe perdição. Chamo-lhe loucura.

Encontro-me um tanto ou quanto desarmada, despalavrada, não me rendo, mas faço silêncio.