terça-feira, 19 de abril de 2011

O Porquê

Porque é que não cantam as flores do meu jardim?
Nem balançam as ondas do mar meu?
Porque é que o meu sorriso assim
Não contagia o teu?

Porque é que o verde não seduz
Quando a sua cor em mim se inunda?
Porque é que te não retém
Quanto muito te afunda?
   
Os pássaros ensaiam uma canção qualquer
E enamoram-me no meu jardim,
Nada tem de particular
Cantam apenas para mim

Para ti também cantariam
Se fosses da mesma canção,
Cantas-me tu uma tua
Sem saber ou intenção.

Cantas porque as tuas palavras na boca não cabem
E eu sou apenas a acessibilidade ao sensível.
Não quero mais ouvir de ti
Passei-te de nível.

E sim, talvez um dia acorde e pare de viver este meu sonho cor-de-rosa
Ou talvez um dia alguém responda
À minha simples prece
E me segure a mão com determinação,
E me diga que é seguro,
E me diga o mais-que-tudo,
E mais ainda: que ao dizê-lo,
O sinta.



* its not about saying what you're feeling, it's about feeling what your're saying

domingo, 10 de abril de 2011

Carta

Queria não falar. Queria somente fugir. De rosto escondido ou sem ele, cabelos emaranhados que me não deixam desprender desta corrupção.
Se as minhas palavras são água então deixem-me fugir com elas. Para lá, para longe, para o meu lugar.
Deixem-me ficar, deixem-me cantar e enamorar-me comigo mesma, feita louca correndo em círculos, procurando incessantemente parecer sã.
Estou farta de ouvir e que me seja imposta a premissa que me sela os lábios, tal qual um envelope que contém um meio de comunicação, mas que o não deixa comunicar, come-o, retém-no dentro de si mesmo.
Quero enviar a minha carta, é bem grande e apela a tão pouco.
Mas o meu selo também já não me corresponde e antes de ser selada já tenho a leve sensação que nunca serei lida(entendida).
Como eu queria ser lida. Como eu queria poder querer. Poder falar sem tudo ser alvo de profanidades.
Diz-me o que ganhas em fazer de mim fraca. Eu, sangue do teu sangue, que ganhas tu?
Afastamento? Os dias passam mais rápido do que nós damos conta e um dia, quando menos esperares, a minha carta não estará mais atafulhada no meio de tantas outras que nunca ousaste abrir. Não. Um dia, mudarei eu mesma o meu selo e serei aberta, lida e relida, guardada e estimada, algures no meio de um entendimento inexpressável, mas compreensível… algures, num outro lugar qualquer, menos aqui.