É na sombra que me sento. E no limiar desta acção conheço-me.
Sou pedaço de um denso arvoredo e respiro de outras essências, sentindo-me mais poderosa.
O vento cheira-me a introspecção e sou, naquele momento, um mar de pensamentos, sou eu ali e estou só.
Os frutos das árvores parecem perenes, apetece-me jogar-lhes a mão. Mas é essa vontade capaz de me fazer querer mergulhar ainda mais profundamente na minha Interioridade?
Talvez tenha cadeado ou algo que me impeça o meu próprio acesso. Mas existem tantas questões perdidas que só dessa maneira conseguiria apaziguar o meu espírito irrequieto.
Concentro-me. Penso em Siddhartha. Um Homem tão forte, tão seguro de si, tão confiante, que prefere a morte ao viver sem sentido. Possuo as mesmas vontades. Mas não sei se não o prefiro mais em palavras do que com verdadeiras, corajosas e heróicas acções.
Sem esta perseverança sinto-me mais uma e não uma, sinto-me parte duma multidão sem nome, sinto-me desconhecida, mas assim o prefiro ser se não sei dizer de mim.
O vento afaga-me o rosto. É fresco. Sabe bem senti-lo numa tarde como esta, aquecida pela reflexão. Distraio-me, mas logo tento recuperar a ideia anteriormente deixada em aberto.
Siddhartha, Siddhartha, como eu queria ostentar um nome tão honrado e singular como o teu. A ti nada não te importa nem incomoda senão o teu próprio cepticismo. Alcançaste o Nirvana e eu nem sequer lhe conheço o caminho.
Queria traçá-lo, mas também não me sinto capaz de o fazer. Penso que por vezes nas doutrinas, as teorias que ensinam são como dizes meras palavras, se não soubermos ir ao nosso encontro, e olharmo-nos para dentro. É como olhar um espelho e vermos o nosso reflexo exterior. Tu vês, ao mirares o teu reflexo espelhado na água, o teu interior. Não há nada que considere mais belo do que pensar que poderia atingir essa etapa divina. Não que seja uma crente, mas porque entendo que tais heróis de si mesmos precisem de se destacar e denotar uma distância considerável, uma vez que, ao menos esses, como tu Siddhartha, só esses conseguem abdicar de tudo em prol da procura incessante do seu sentido. Quem me dera preferir, com firmeza e segurança nas palavras, que venha antes morte à minha própria ignorância ao invés de declamar palavras vazias no seu conteúdo porque nelas, interiormente e de forma cobarde, sei que lhes falta a coragem e a vontade nua.
Já é tarde e está frio, tremo e agasalho-me, sou fraca sou resistível.